Blog do Levany Júnior

PARAÍBA PB-Psicólogas explicam como identificar dependência de telas em crianças e adolescentesPsicólogas explicam como identificar dependência de telas em crianças e adolescentes


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Adolescente mata a mãe e o irmão e baleia o pai em Patos

Um menino de 13 anos confessou que matou a tiros a mãe e o irmão mais novo, de sete anos, e deixou o pai gravemente ferido, em Patos, no Sertão da Paraíba. Conforme relatou à polícia, a ‘gota d’água’ para o ato foi ter sido impedido de usar o celular e ser cobrado em relação às notas escolares. Como o uso do celular foi citado pelo adolescente, o g1 conversou com psicólogas infantis sobre os impactos da dependência de telas, bem como sinais e melhores formas de lidar com problemas emocionais.

Casa em que a família morava em Patos, no Sertão da Paraíba — Foto: TV Sol/Reprodução

O uso excessivo de telas tem sido um problema entre crianças e adolescentes no Brasil. De acordo com uma pesquisa internacional, da Lenstore, publicada em outubro de 2021, o país é o terceiro do mundo em dependência de telas, ficando atrás somente dos Estados Unidos e dos Emirados Árabes. Além de questões físicas, como riscos à visão e coordenação motora, a exposição alta a telas é viciante e pode trazer consequências ao psicológico de crianças e adolescentes.

Criança usando smartphone — Foto: Reprodução

A psicóloga Elisa Alves explica que o vício ou o uso abusivo de algo em específico se deve a diversos fatores, principalmente ao funcionamento químico do nosso cérebro. “Por exemplo, o vício em jogos eletrônicos, de uma forma geral, é dada por uma reação química que acontece no nosso cérebro, que é a liberação de dopamina que é exatamente hormônio que causa a sensação de prazer, de se sentir recompensado por algo”, elucida.

Para a profissional, a pandemia favoreceu os casos de vício extremo em tecnologia. “Estamos falando de um contexto bem específico, após dois anos de uma pandemia em que as crianças e os adolescentes ficaram reclusos em casa. Isso é importante de ser considerado, visto que muitas vezes era a forma dele se comunicar com outros, inclusive de estudarem e terem contato com o mundo exterior além da sua casa”, explica Elisa Alves.

Outro fator que favorece o vício é a habilidade sócio-familiar da criança.“É preciso entender se ela desenvolveu capacidade ‘sócio-emocional”’, diz a psicóloga.

Vício em telas causa problemas emocionais?

 

Segundo a psicopedagoga Rita Cardoso, o medo de ficar longe do celular e o vício em telas de computador, tanto pode gerar problemas psicológicos como o inverso: os problemas psicológicos podem gerar essa dependência.

A profissional critica a atitude de pais que deixam as crianças em frente às telas, “por ser mais fácil”, ao invés de dá-los atenção. “Não são só os jovens e/ou as crianças que são reféns das telas. Os pais também são. Frequentemente “negligenciam” os cuidados e a proteção dos filhos em função das telas. Quando querem reverter ou dar limites aos filhos é tarde demais”, explica Rita Cardoso.

O que é recomendado?

 

“A gente não vai julgar essa família em si. A gente vai tentar ajustar o contexto familiar completo da família brasileira. Então é preciso ter equilíbrio”, afirma a psicóloga infantil e escolar, Kísia Rebeca.

Nenhuma das profissionais ouvidas pelo g1 na reportagem tem algum tipo de ligação com o caso de Patos.

A psicóloga Kísia Rebeca explica que crianças e adolescentes devem ter períodos de tempo limitados e supervisionados de acesso a telas. Até os dois anos de idade, a orientação é zero exposição, inclusive a televisores e tablets. De dois a cinco anos, a recomendação é de no máximo uma hora. Já a partir dos cinco, até os dez anos, o tempo limite é de duas horas por dia. Ela acrescenta que na adolescência esse tempo pode ser maior, mas ainda limitado a três horas. “Deixar virar a noite jogando não é legal”, completa.

Kisia também ressalta a importância da supervisão dos pais. “O pai tem que tá indo lá, tem que tá vendo histórico, tem que tá ligado com quem essas crianças estão falando”.

Sinais do vício

 

Como perceber se uma criança ou adolescente está viciada em telas? Kísia Rebeca explica que os principais sinais são a preocupação excessiva em ficar sem o celular, a necessidade de utilizar por um tempo cada vez maior, irritabilidade, desânimo e ansiedade.

“É como uma droga, você vê que ele exibe mesmo esforços para conseguir esse tempo a mais. A irritabilidade é muito frequente, a impaciência. A ansiedade quando a criança fica sem bateria ou sem internet. O desânimo quando está longe de telas. Tudo isso tem a ver com abstinência”, explica.

 

Quando identificado, como lidar com o vício?

 

Para lidar com a situação, segundo Kísia, é necessário que os pais tenham empatia e tratem o problema de forma realista.

“Não tomar uma atitude radical. Dizer ‘agora meu filho não vai jogar de jeito nenhum’. Se tiver vício, vai ter uma abstinência. Você não tira, por exemplo, um cigarro de um viciado de um dia para a noite. Até uma medicação psicotrópica precisa ter um desmame”.

 

“Se o adulto percebe que o vício já se instalou não deve jamais arrancar de vez. ‘Tomar’ o aparelho ou o computador do filho. Essa é a pior das medidas”, diz a psicopedagoga Rita Cardoso.

Nesses casos, o correto é tirar aos poucos, mas dando opções para o adolescente. “Saia da sua zona de conforto e acompanhe o seu filho”, recomenda a psicopedagoga. Além disso, os pais precisam fazer uma auto avaliação. “Estou sendo um mal exemplo para o meu filho? Tenho conversado com ele? Dado atenção?”, questiona a profissional. A recomendação é dar limites ao filho para não permitir que o vício permaneça instalado.

Importância do equilíbrio

 

A psicóloga diz que é preciso estabelecer um equilíbrio para não cobrar as crianças ou adolescentes de forma excessiva, mas também não deixá-las sem limites. A chave, segundo ela, é o diálogo estabelecido de forma gradual.

“Não é hoje que você vai chegar, vai sentar e a criança vai se abrir. É uma construção diária, seja no almoço, no jantar. Se essa atenção for de qualidade, a criança vai se sentir com abertura para estar falando. Principalmente, se ele sabe que o adulto vai abraçar as emoções dele e não julgar”.

 

Educação emocional para os adultos

 

As crianças e adolescentes não possuem maturação cerebral, por isso, a regulação das emoções não está completa. Como eles tendem a repetir atitudes do meio em que vivem, os pais precisam aprender inteligência emocional.

“Não adianta o pai dizer ‘ó você tem que fazer assim fulano’, se ele não faz. É importante que esses pais estejam procurando ajuda para si próprios. Fala-se muito ‘criança tal é difícil’, mas a gente não fala em adulto difícil”, explica Kísia Rebeca.

 

Entenda o caso de Patos

 

Adolescente de 13 anos confessa que matou a mãe e o irmão porque foi proibido de usar o celular — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco

Um menino de 13 anos confessou que matou a tiros a mãe de 47 anos e o irmão mais novo de sete anos neste sábado (19). O pai do garoto, de 57 anos, ficou gravemente ferido. Segundo a polícia, ele cometeu o ato infracional porque a família o proibiu de usar o celular para jogar e para conversar com os amigos e porque era pressionado por notas boas.

De acordo com Renato, o pai do menino, policial militar reformado, foi à farmácia comprar um remédio para a esposa e, pouco antes de sair de casa, retirou o celular dele, o que foi definido pelo adolescente como sendo “a gota d’água” para cometer o ato infracional. A arma utilizada na ação é do policial militar reformado.

O corpo da mãe estava no quarto do casal e o da criança estava na sala, próximo ao pai, que foi atingido com um tiro no tórax. A mãe e a criança foram encontradas mortas na residência. Já o pai foi socorrido para o Hospital Regional de Patos e transferido para o Hospital de Emergência eTrauma de Campina Grande, onde permanece internado.

De acordo com o cirurgião geral Caio Guimarães, o pai está paraplégico, isto é, com déficit motor e sem sentir os membros inferiores.

O adolescente foi transferido para o Centro Especializado de Reabilitação de Sousa, também no Sertão da Paraíba.

*Sob supervisão de Jhonathan Oliveira

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