Para ajudar Petrobras, governo quer colocar mais álcool na gasolina
O governo quer aumentar a mistura de etanol (álcool anidro) na gasolina, de 25% para 27,5%, “o mais rápido possível”, segundo informou ao GLOBO o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. O ministério encomendou estudos técnicos ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras sobre o impacto da mudança na mistura nos equipamentos, na potência e na emissão de gases nocivos pelos motores. O objetivo é contrapor estudos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que é contra o aumento, por considerar que os motores dos veículos não estão preparados para a mudança.
O governo tem pressa porque precisa reduzir as importações de combustíveis, que pressionam os preços dos derivados de petróleo e prejudicam a balança comercial. A medida poderá aliviar o caixa da Petrobras e, ao mesmo tempo, evitar um novo reajuste da gasolina a curto prazo, que seria mais um componente para pressionar a inflação. Com mais álcool na gasolina, o governo espera até uma eventual redução no preço dos combustíveis nas bombas.
A Petrobras passaria a ter de importar menos gasolina para suprir a demanda do mercado nacional. No ano passado, a companhia importou, em média, 212 milhões de litros de gasolina por mês. Além disso, existe uma forte pressão de parte da indústria canavieira, que vê no aumento da mistura do etanol na gasolina uma saída para a crise no setor.
“Temos todo o interesse em aumentar a mistura do etanol, seja porque com isso estaremos prestigiando a indústria canavieira, a indústria do etanol; estaremos reduzindo a poluição, que é também nosso objetivo; estaremos reduzindo a importação de gasolina. E, ao mesmo tempo, gerando mais emprego”, disse Lobão. “Sucede que só podemos fazer isto depois dos estudos que estão sendo realizados pelo Cenpes, o centro de pesquisa da Petrobras, e pelo próprio ministério. Precisamos da concordância da Anfavea, que são os produtores (de veículos). Isto posto, estaremos em condições de aumentar”.
A Anfavea não recomenda o aumento da mistura e estima que ela poderá levar a um aumento das emissões de poluentes em cerca de 75%, e das de aldeídos (gases), em 20%. Já o consumo de veículos movidos somente a gasolina subiria 3%.
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, foi convidado pelo governo a debater os impactos da mudança na produtividade dos motores dos veículos e se declarou contra. A indústria teme problemas de corrosão e menor durabilidade das peças, o que causaria insatisfação maior dos compradores de veículos.
Já Henry Joseph Junior, vice-presidente da Anfavea, ressaltou que pode haver consequências para os carros mais antigos, movidos somente a gasolina, e para os importados. Segundo ele, o Brasil hoje importa entre 300 mil e 500 mil veículos por ano e ainda tem uma frota significativa de carros antigos:
“Há problemas de desempenho, partida e consumo, além de desgaste maior do motor”.
Estatal teria economia de US$ 1 BI
A elevação do percentual do etanol na gasolina não trará qualquer benefício para os consumidores, uma vez que não levará à redução do preço final da gasolina nas bombas. Segundo uma fonte do setor, isso ocorre porque hoje os preços do etanol nas usinas estão quase iguais aos da gasolina nas refinarias. Para essa fonte, a medida do governo visa exclusivamente a melhorar o caixa da Petrobras — sem reajustar os preços dos combustíveis —, pois resultará em uma economia de US$ 1 bilhão graças aos gastos menores com as importações de gasolina.
Outra medida recentemente tomada pelo governo, o aumento do biodiesel no diesel de 5% para até 7%, também permitirá uma redução nas importações da Petrobras da ordem de 20 mil barris diários de óleo diesel.
Segundo cálculos feitos pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) a pedido do GLOBO, o maior percentual de etanol resultará em uma redução no consumo de gasolina de 16,6 mil barris diários, considerando a média da demanda entre abril de 2013 e março de 2014. Com isso, a redução nos gastos com importação de gasolina seria de US$ 915,7 milhões em um ano.
Os defensores do aumento da mistura argumentam que a matriz energética brasileira ficará mais renovável e serão novamente impulsionadas as usinas de cana-de-açúcar, que foram à lona com a crise de 2008 e a consequente queda do preço do petróleo no mercado internacional.
Desde 2011, o governo vem promovendo pacotes de incentivo aos produtores de etanol. Com a crise, a mistura caiu a 20% acompanhando a menor produção, sendo retomada ao nível de 25% apenas no ano passado. Mas outro fator que alimenta a crise do setor é a defasagem dos preços da gasolina, que faz com que abastecer com etanol deixe de ser vantajoso para o consumidor.
Fonte: O Globo
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