O papa Francisco disse nesta terça-feira, 27, que as regras do celibato clerical podem mudar e admitiu a possibilidade de a Igreja ter novos papas eméritos, a exemplo de Bento XVI, que renunciou ao trono de Pedro em 2013. A declaração foi dada a jornalistas durante o voo de retorno a Roma depois da visita à Terra Santa.
“Eu farei o que o Senhor me disser para fazer: orar e buscar a vontade de Deus. Creio que Bento XVI não seja um caso único. Haverá outros ou não? Só Deus sabe, mas essa porta está aberta”, afirmou o papa ao ser questionado se tomaria a mesma decisão que seu antecessor caso sentisse um dia não ter mais forças para exercer o papado.
“Há 70 anos não havia bispos eméritos. O que ocorrerá com os papas eméritos? Creio que devemos ver Bento XVI como a uma instituição que abriu uma porta: a dos papas eméritos”, disse Francisco após a visita de três dias pelo Oriente Médio com uma agenda repleta de encontros e riscos à segurança. “Creio que o papa que sente que suas forças diminuem deve se fazer as mesmas perguntas que se fez o papa Bento XVI.”
Durante a viagem, Francisco se encontrou com o patriarca ortodoxo grego de Constantinopla, Bartolomeu I, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Durante a entrevista, Francisco foi questionado sobre o que se podia aprender com os ortodoxos, “por exemplo, sobre o celibato”. Francisco lembrou que a Igreja Católica tem padres casados. “Existem no rito oriental. O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de vida que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a Igreja.”
Em seguida, o papa deixou claro que mudanças podem ocorrer na regra que permanece válida para a maioria dos sacerdotes do Ocidente desde o Concílio de Trento, no século 16. “Não sendo um dogma de fé, sempre está a porta aberta.”
Unidade
Em seguida, o papa disse que não tratou do celibato com o patriarca ortodoxo. O papa Bergoglio revelou que o tema da conversa com o líder cristão oriental foi a unidade entre as duas igrejas, o que, segundo Francisco, não se constrói em um congresso de teologia.
Para caminhar em direção a essa unidade, Francisco citou a necessidade de resolver “o problema da data da Páscoa”, pois muitos ortodoxos vão à Igrejas católicas e vice-versa. “Conversamos sobre o concílio pan-ortodoxo para que se faça algo sobre a data da Páscoa. Porque há uma situação um pouco ridícula: Quando ressuscitou teu Cristo? O meu na semana que vêm. E o meu, em vez disso, na semana passada. A data da Páscoa é um símbolo de unidade.”
Por fim, ao ser perguntado sobre as expectativas que seu papado despertava, como mudanças na exclusão da comunhão dos divorciados que decidem se casar novamente, o papa lembrou que o Sínodo de outubro próximo será “sobre a família, seus problemas, suas riquezas e a situação atual”.
“Não me tem agradado que muitas pessoas, até dentro da Igreja, tenham dito: “o Sínodo servirá para dar a comunhão aos divorciados que votaram a se casar, como se tudo se reduzisse à casuística: se poderá ou não dar a comunhão? Sabemos que a família hoje está em crise e essa é uma crise mundial. Os jovens não querem casar. É preciso estudar os procedimentos de nulidade matrimonial, estudar a fé com que uma pessoa se aproxima do matrimônio. É preciso, no entanto, esclarecer que os divorciados não estão excomungados… E muitas vezes eles são tratados como se estivessem.”
Fonte: Estadão