Blog do Levany Júnior

A PALAVRA DO DIA-O SENHOR É MINHA LUZ!

SALMO 113 — POR UMA TEOLOGIA DO LOUVOR (JOSÉ MAURÍCIO CUNHA DO AMARAL)

POR UMA TEOLOGIA DO LOUVOR

Salmo 113
Aleluia! Louvem, o servos do Senhor, louvem o nome do Senhor!
Seja bendito o nome do Senhor, desde agora e para sempre!
Do nascente ao poente, seja louvado o nome do Senhor!
O Senhor está exaltado acima de todas as nações;
e acima dos céus está a sua glória.
Quem é como o Senhor, o nosso Deus, que reina em seu trono nas alturas,
mas se inclina para contemplar o que acontece nos céus e na terra?
Ele levanta do pó o necessitado e ergue do lixo o pobre,
para fazê-los sentar-se com príncipes, com os príncipes do seu povo.
Dá um lar à estéril, e dela faz uma feliz mãe de filhos. Aleluia!
(Salmo 113)
AS CRISES ENFRENTADAS PELA IGREJA
A Igreja já atravessou ao longo da sua história diversas crises. A morte de Estevão, o primeiro mártir do cristianismo, desencadeou a primeira grande perseguição dos cristãos e Saulo torna-se um dos grandes algozes dos cristãos (cf. Atos 8.3).
Mais tarde, judaizantes e convertidos ao cristianismo travam intensa batalha em torno de práticas relacionadas aos costumes religiosos da época, ao ponto de Paulo escrever aos crentes da Galácia exortando-os a não se deixarem levar pelas falácias pregadas pelos judeus: “O gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?” (Gálatas 3.1,3).
Depois de enfrentar a dura perseguição imposta pelo império romano, o processo de cristianização do império, com a possível conversão de Constantino, considerado o primeiro imperador cristão, faz com que essa igreja experimente um período de apogeu. Uma igreja até então perseguida passa a ditar as regras de novas práticas religiosas que acabam sendo imitadas por todos, quer seja por conveniência, quer seja por medo de uma retaliação.
Mas como não poderia deixar de acontecer, um retrocesso faz com que o paganismo comece a encontrar espaço no seio da igreja levando-a a adotar seus ídolos (santos), e a venerá-los como prova incontestável de um processo de paganização que atravessou alguns séculos de sua história até a Reforma Protestante em 1517, deflagrada por Martinho Lutero.
Mas talvez uma das páginas mais negras da sua história tenha sido a crise enfrentada na chamada “Idade das Trevas”, a Idade Média, quando em nome de Deus, a Santa Inquisição, investida de plenos poderes pelo tribunal de igreja, tinha o direito de tirar de forma cruel e desumana, a vida daqueles que fossem considerados hereges.
A chamada reforma da igreja torna-se um divisor de águas, resgatando os valores genuínos do cristianismo com a mensagem: “sola gratia”, “sola fide”, “sola scriptura”. Um retorno às origens, pois só a graça, só a fé e só as Sagradas Escrituras podem resgatar o homem perdido.
A IGREJA DO NOSSO TEMPO
Tudo isso nos leva a uma profunda reflexão sobre a igreja do nosso tempo. Esse brado que ecoou durante alguns séculos, chega aos nossos dias abafado por significativas transformações. Acredito que uma das grandes transformações experimentadas pela igreja, que resultou numa crise de valores, é a questão da essência nos nossos cultos. O que os nossos cultos representam na nossa vida? Será que eles se transformaram num mero encontro, ou é a expressão sincera da nossa adoração? São milhares de igrejas espalhadas pelos quatro cantos do Brasil, realizando cultos de segunda a domingo, das mais variadas formas e usando as mais estranhas práticas. Precisamos urgentemente retornar ao princípio que nos remete à verdadeira adoração, como disse Jesus à mulher samaritana: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em Espírito e em verdade” (João 4.24).
A ESSÊNCIA DO CULTO
Há uma grande confusão no nosso meio no que se refere a verdadeira adoração. Na verdade, muitos de nós nem se quer compreendemos a dimensão desse ato que precisa fazer parte da nossa vida. O culto tem a função didática de nos fazer compreender essa dimensão. Paulo escrevendo a sua carta ao Romanos, nos diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12.1). Cultuar significa adorar a Deus com o envolvimento de todo o nosso ser.
1. O VERDADEIRO LOUVOR DEVE NOS FAZER RECONHECER A GRANDEZA DO CRIADOR (versos 1-4)
O judeu aproveitava todas as ocasiões para tocar e cantar como um ato de culto ao Senhor. Por isso encontramos em todo o saltério, além das divisões em livros, três grupos de salmos: Cânticos de Degraus também chamados de Subidas e Romagem, o Grande Hallel e o Pequeno Hallel, que significa ALELUIA, ou LOUVAI A DEUS. O Salmo 113 começa e termina com essa expressão. Aliás, os salmos 113 a 118 fazem parte desse pequeno Hallel, um saltério em miniatura. Eram poemas cantados nas Festas da Páscoa, de Pentecostes, dos Tabernáculos, sendo que os Salmo 113 e 114 eram entoados antes das refeições.
Na expressão do salmista logo no início do salmo 113, há um imperativo de que Deus merece ser louvado por sua grandeza como o Senhor absoluto dos céus e da terra: “Louvem ó servos do Senhor, louvem o nome do Senhor. O Senhor está exaltado acima de todas as nações; e acima dos céus está a sua glória” (v.1, 4). Qual tem sido a nossa motivação para louvar a Deus? Muitas vezes queremos encontrar motivos para justificar a nossa adoração. Mas a motivação maior da nosso louvor deve ser aquela que nos leve a reconhecer que somente Deus é digno de ser adorado. Um dos belíssimos hinos da nossa hinódia diz numa de suas estrofes: “Deus somente Deus, merece ter um trono lá nos céus. Que toda criatura dedique o seu louvor a Deus, somente a Deus” (Phill Mchugh).
Esse texto do salmo 113 me reporta à visão de Isaías no templo quando ele contempla a adoração dos serafins. O texto no diz: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos, toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6.3). Isaías ficou simplesmente estupefato diante da grandeza – da glória de Deus, ao ponto de pensar que iria morrer. A glória de Deus precisa nos impactar de tal maneira que sintamos o desejo de adorar ao Senhor por tudo o que Ele é. Deus é grande, Deus é magnífico, Deus é santo, só Ele é digno de todo o nosso louvor e de toda a glória!
Uma outra razão pela qual devemos louvar a Deus é que:
2. O VERDADEIRO LOUVOR DEVE NOS FAZER RECONHECER A NOSSA CONDIÇÃO DE CRIATURAS  (versos 5-7)
Quem somos nós? Você já parou para pensar quem você é? O salmista nos diz que somos  necessitados, mas que o Senhor atenta para a nossa insignificância: “Ele levanta do pó o necessitado e ergue do lixo o pobre” (verso 7). Davi nos diz no Salmo 40.17: “Eu sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim…” E diz mais ainda no Salmo 8.4: “Que é o homem mortal para que te lembres dele?”
Os poemas cantados eram eivados de declarações de reconhecimento da nossa condição de submissão a esse Deus criador. A verdadeiro louvor deve nos levar a esse reconhecimento de que nada seríamos sem Deus. Ele é a razão da nossa existência. O simples fato de existirmos, de sermos criados à sua imagem e semelhança deve nos levar a um sentimento de profunda adoração e gratidão por tudo o que Ele é.
Finalmente,
3. O VERDADEIRO LOUVOR DEVE NOS FAZER RECONHECER A BONDADE DO CRIADOR
O salmista usa a figura da mulher estéril para demonstrar a bondade de Deus: “Dá um lar à estéril, e dela faz uma feliz mãe de filhos. Aleluia!” (verso 9). Ser estéril na cultura judaica era sinônimo de desprezo. Uma mulher estéril carregava o estigma de ser alguém de quem Deus se esquecera. Era alguém inferior. Sem dúvida, o maior exemplo que encontramos na Bíblia é o de Ana, mãe de Samuel. Ana era uma mulher amargurada de coração porque não podia gerar filhos. Mas Deus atenta para a oração da sua serva e lhe abre a madre.
As palavras de Ana no seu cântico, no capítulo 1 do livro de Samuel, atestam a bondade de Deus declaradas pelo salmista no Salmo 113.7-9: “A que era estéril deu à luz sete filhos, mas a que tinha muitos filhos ficou sem vigor. O Senhor é quem dá pobreza e riqueza; ele humilha e exalta. Levanta do pó o necessitado e do monte de cinzas ergue o pobre, ele os faz sentar-se com príncipes e lhes dá lugar de honra” (1Samuel 1.5,7-8).
Para mim, um dos textos mais difíceis de ser compreendidos na Bíblia, é aquele em que Jó trava um diálogo com a sua mulher quando ela o questiona sobre sua fidelidade a Deus: “Então sua mulher lhe disse: “Você ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morra!” e Jó responde: “Você fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” (Jó 2.9-10). Numa outra tradução lemos: “Você ainda continua sendo bom? Amaldiçoe a Deus e morra! Jó respondeu: Você está dizendo uma bobagem! Se recebemos de Deus as coisas boas, por que não vamos aceitar também as desgraças?” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Penso que o ser humano tem uma grande dificuldade em lidar  com as questões relacionadas ao bem e ao mal. Será que valeria a pena Jó continuar sendo fiel a Deus depois de todas que lhe aconteceram? Qual seria a recompensa? O maniqueísmo, religião amplamente difundida no tempo do Império Romano, trata dessa questão numa visão dualista em que o mundo se divide em duas forças antagônicas: o bem representado pela luz e o mal pelas trevas. Cabe então ao ser humano entregar-se a esse eterno combate para extinguir em si e nos outros, a presença das trevas afim de poder alcançar o Reino da luz. Essa, entretanto, não é uma visão bíblica. Sabemos que fomos resgatados das trevas pela ação de Deus em nossas vidas através de Jesus Cristo, e não por nosso esforço pessoal: “Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu filho amado, em quem temos a redenção” (Colossenses 1.13).
A grande pergunta que muitas vezes nos fazemos é: se Deus seria responsável também pelas coisas ruins que nos acontecem. Ou seria do próprio homem? Ou pecado que habita em nós? Ou ainda, das atitudes que tomamos? O salmista nos responde: “Por que te glorias na maldade, ó homem poderoso? Pois a bondade de Deus dura para sempre” (Salmo 52.1). O verdadeiro louvor deve nos levar a esse reconhecimento da bondade de Deus mesmo diante das adversidades. Na oração de louvor do profeta Isaías, ele nos diz: “Falarei da bondade do Senhor, dos seus gloriosos feitos, por tudo o que o Senhor fez por nós, sim de quanto ele fez à nação de Israel, conforme a sua compaixão e a grandeza da sua bondade” (Isaías 63.7).
CONCLUSÃO
Vivemos num tempo de muitos modismos na igreja. Parece-me que o conceito de louvor tem sido confundido  por muitos com um momento de cânticos, específico no culto, como se louvor fosse somente cantar. Por outro lado, muitos sequer vêm à igreja com esse sentimento em seus corações. Qual tem sido a motivação do nosso louvor? Muito se tem falado em nossos dias numa geração de adoradores. E novamente a ideia que se tem é de que as pessoas que se envolvem com a música na igreja é são verdadeiros adoradores. Qual tem sido a nossa atitude como adoradores? Se olharmos para algumas situações de adversidade em nossas vidas certamente não nos sentiremos motivados a louvar a Deus. Temos louvado a Deus em todas as circunstâncias? O salmista nos exorta a uma vida de constante louvor: “Louvarei ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente em minha boca” (Salmo 34.1). Seja esse o nosso sentimento!

JOSÉ MAURICIO CUNHA DO AMARAL

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