A PALAVRA DO DIA-UM CHAMADO PARA ALÉM DOS LIMITES
Texto Base: Ezequiel 33:1-20 (Não deixe de Ler!)
Judá e Jerusalém estavam cativos na Babilônia, um século depois de Isaías ter advertido Ezequias, rei de Judá, sobre o exército assírio. Este foi o tempo de dois dos maiores profetas levantados por Deus, Jeremias e Ezequiel.
Sendo que Jeremias foi quem incitou Judá e Jerusalém a seguirem a orientação do Senhor e se renderem ao exército babilônico. Em suas Lamentações, encontramos o profeta em meio ao cerco e queda da cidade.
E Ezequiel, foi o profeta que exerceu o seu ministério no exílio, na Babilônia. Ele fora levado ao exílio em uma das primeiras levas, provavelmente 597 a.C.
Ezequiel foi treinado para ser sacerdote na cidade de Davi e conhecia bem a vida religiosa de seu povo. Talvez ele até tenha ouvido Jeremias pregar em Jerusalém antes de ser levado embora, apesar de nenhum dos dois profetas se referirem um ao outro. Mas já que Ezequiel estava a um exílio de distância do Templo, poderia até parecer que não haveria futuro para esse sacerdote servir o povo de Deus.
Afinal, o trabalho do sacerdote era vinculado ao Templo. De forma semelhante no início, muitos judeus ficaram preocupados com a ideia de que Deus talvez estivesse inacessível a eles já que estavam longe da Terra prometida. Mas esse não era o caso nem para Ezequiel e nem para o povo. Deus preparara esse jovem sacerdote para ser Seu porta-voz especial entre os judeus exilados.
Lembramo-nos sempre da visão maravilhosa que o profeta Isaías teve do Trono de Deus, com os anjos por toda a volta bradando, SANTO, SANTO, SANTO. Na maioria das vezes, essa passagem é usada para nos levar à consciência do chamado missionário de cada um, ou da Igreja.
Lembramo-nos também, com certa frequência, da experiência que Moisés teve ao contemplar a presença de Deus junto à sarça que ardia sem ser consumida pelo fogo. Das vezes que ele ouviu Deus e falou com Deus, dos milagres que Deus lhe mostrara e que ele protagonizou.
Mas quero chamar-lhes a atenção para algo raramente comentado, raríssimamente pregado, e quase nada aplicado na vida da Igreja. O fato que o ministério deste profeta em exílio tem início com uma visão grandiosa de Deus em Sua corte celestial. O livro, como todo grande livro da Bíblia, inicia com a visão de Deus, O REI. (1:1).
Devemos lembrar, antes de tudo, da razão do povo de Deus estar cativo. Era o castigo de Deus sobre Seu povo. O Senhor deixou-os um período de tempo (70 anos) onde, fora da terra, do trono e do Templo, poderiam entender o que fizeram de errado e deixariam de idolatrar esses elementos.
A Terra Prometida, a linhagem davídica de reis e o Templo, que simbolizavam a presença de Deus, eram bons presentes que Ele lhes dera. Todavia o povo usou-os mal. Os presentes tornaram-se importantes demais. Por isso o Senhor levou-os embora ao chama-los para a Babilônia. Ele os deixou de lado por setenta anos para que se concentrassem novamente no que era especial e a razão por que isso é importante.
Aliás, o mesmo tem acontecido até os dias de hoje. Deus continua a presentear (por assim dizer) o Seu povo e este têm usado mal o que Ele têm dado. Eu não consigo mais olhar os primeiros capítulos de Atos com uma visão romantizada da igreja modelo. Isso porque, a primeira igreja errou ao desviar-se do propósito do Senhor da Igreja que é Jesus Cristo.
É fato que ela cresceu muito e o povo vivia como um só. Cresciam no conhecimento da doutrina dos Apóstolos e tinham tudo em comum. Isso tudo é digno de nota e exemplo, mas ela já era uma igreja que estava caminhando fora da ordem de Jesus. Ela estava usando mal o presente que Deus lhes havia dado, que era o Espírito Santo, o poder para serem testemunhas em Jerusalém e fora dela. Reparem que a igreja crescia pelo testemunho e pelos sinais que acompanhavam os Apóstolos, e eles tinham a afeição do povo, mas permaneceram dentro dos muros de Jerusalém.
Assim como o povo de Deus no Antigo Testamento, a igreja nos primeiros momentos de existência acabou se acomodando no seu crescimento e na sua vida de comunidade. Não era só para isso que o Espírito Santo lhes foi concedido. O Reino de Deus tinha que ser espalhado e crescer além dos muros de Jerusalém. O conhecimento da Glória e da Graça de Deus em Cristo Jesus, tinha que ser pregado para todos os povos, e isso, segundo a ordem de Jesus, deveria ser feito imediatamente depois que o Espírito Santo lhes fosse concedido.
Até hoje têm sido assim. Deus nos dá seu presente e usamos erradamente o que Ele nos dá. Temos vivido como se tudo terminasse aqui. A Palavra de Deus não nos comove mais, e nos tornamos como o povo para quem o profeta Ezequiel advertia quanto a desobediência à Palavra pregada (Ezequiel 33:30-32). Além disso, os seus líderes eram corruptos e apenas “apascentam a sim mesmos” (34:2).
O que vemos hoje em dia é exatamente isso. Primeiro Deus tem permitido o acesso das pessoas às igrejas. Temos igrejas de todas as formas e tamanhos. Igrejas para todos os gostos e todos os segmentos. Você vai às igrejas e o que vê? Com raríssimas e honrosas exceções, vemos igrejas voltadas para seus propósitos, seus sistemas e métodos, mas nenhuma prática missionária, nenhuma preocupação com a evangelização pessoal, nenhuma preocupação com a glória de Deus e o crescimento do Reino de Deus. Mas tão somente o crescimento e o estabelecimento do seu sistema, seu método, seu reino. As igrejas estão acomodadas porque as pessoas estão vindo!
Mas o que vemos também, são pastores corruptos. Adeptos do sistema mundano do toma lá da cá, ensinando práticas contrárias às da Bíblia, preocupados com seus negócios, seus afazeres, seu ganha-pão. Não estão preocupados em pregar o Evangelho do Reino, e fazer discípulos. A igreja virou um negócio de família. Foi assim com o sumo sacerdote Eli e era assim nos tempos de Ezequiel, e é assim hoje.
Simultaneamente a isso, o povo vem às igrejas, sentam-se, ouvem e desfrutam da Palavra de Deus, e a seguir, ignora-A! Vejam que naquele tempo, eles faziam todos os rituais de adoração a Deus, mas o coração era devotado aos ídolos.
Em suma, o povo de Israel tentava acreditar na prosperidade de sua terra, na estabilidade política da linha davídica e até no Templo, mas o tempo todo ignoravam a Palavra de Deus. Portanto, nenhuma dessas coisas os salvaria. Que isso nos sirva de lição. Não precisamos de “religião” para nos salvar, precisamos, sim, da devoção real e exclusiva no único Deus verdadeiro. Não sejamos como os israelitas que aprenderam a gostar de ouvir a Palavra de Deus, mas ao mesmo tempo ignoravam o chamado dela à obediência.
Quero chamar a sua atenção para o texto inicial de Ezequiel 33:1-20, que ressalta de maneira clara e objetiva, três das maiores verdades que na Bíblia, caminham sempre juntas, mas que na nossa mente e prática, é difícil de adequar. São a “responsabilidade e escolhas pessoais”, a “obediência ao chamado divino de cada um” e “a Soberania de Deus”.
E juntamente com essas três verdades expostas tão claramente, temos implícito ainda, “uma condicional” e “uma declaração assertiva”, que é uma declaração do fato, direto, claro, objetivo, sem meias palavras. Tanto uma como a outra, são declarações de Deus, o REI.
No versículo 2, encontramos: “Filho do homem (Deus, O REI, falando com o profeta), fala aos filhos do teu povo:…” – No hebraico, a palavra traduzida para “fala”, significa: falar, declarar, conversar, comandar, prometer, avisar, ameaçar, cantar.
Na sequencia, Deus diz ao profeta: “Quando eu fizer vir a espada sobre a terra,…” – Esta frase está no futuro do indicativo, é uma assertiva, uma declaração de algo que irá acontecer independente do tempo, que neste caso é o “kairós” de Deus. Equivale a dizer: “No dia em que” ou “Na hora que”.
Seria totalmente diferente se o texto iniciasse com: “Se eu fizer vir…”. Aqui, é uma condicional – pode acontecer ou não. O que daria ao ouvinte e ao leitor a sensação de impunidade ou irresponsabilidade sobre o assunto.
Aliás, essa tem sido a postura da maioria, ao ouvir um sermão bíblico, “Ah, isso não é pra mim”, “Isso é para os mais jovens”.
Continuando ainda no verso 2: “…e o constituir por atalaia;” – Ou Vigia. No hebraico significa: tomar cuidado, olhar ao redor, espiar, vigiar, observar, guardar.
Lamentavelmente, quando lemos esta passagem, e eu a li e falei sobre ela muitas vezes, achamos forte demais e ao mesmo tempo distante demais de nós. E por isso, tendemos a deixar de lado como se não fosse para nós.
Quero lembra-los, mais uma vez, como Ezequiel inicia seu ministério. Com a visão do trono de Deus em glória e majestade. Deus se apresenta como REI, sobre tudo e sobre todos. Soberano e Senhor. Aquele de quem só nos resta obediência. Portanto, ao lermos esse texto, temos que encarar o fato que é a Palavra do REI.
Está disposto a desobedecer?
Ele se apresenta como Ùnico. Temos a tendência principalmente com o anos, de formar em nossa mente, um Deus à nossa imagem, e passamos a achar que Deus está sempre pronto a relevar as coisas, assim como nós. Deus não releva nada. Ele haverá de julgar a todos nós pelo que fizemos com a Sua Palavra, pela nossa desobediência e descaso com a Sua Palavra e ordem. Ao mesmo tempo, acabamos por viver a vida cercados dos nossos conceitos com relação às pessoas e à vida e ao mundo e achamos que Deus pensa como nós. Quanto engano, quanto erro!
Desde a primeira igreja em Atos, Deus mostra que para cada ato, para cada decisão, para cada omissão, haverá um castigo. Enquanto a igreja crescia em número e caía nas graças do povo, o Senhor estava preparando a perseguição. E só depois que o povo se dispersou, a Palavra se espalhou para fora dos muros como ordenou Jesus.
O que encontramos no capítulo 33? Uma ordem para pregarmos a Palavra de Deus a todos aqueles que não a conhecem. Todos aqueles que estão perecendo, a todos os que estão morrendo em seus delitos e pecados.
Pessoas estão morrendo meus queridos, a cada segundo. Isso não nos atinge porque não temos dentro de nós a compaixão de Cristo. Não temos dentro de nós o amor pelo próximo e não tão próximo. Não temos dentro de nós a urgência da volta de Cristo. Não temos dentro de nós a dimensão do horror do inferno, como tinham os puritanos do passado.
Voltemo-nos agora, enquanto há tempo, para as palavras do Senhor Jesus, Senhor da Igreja: “Ide, pregai o evangelho a toda criatura”, “Ide, e fazei discípulos de todas as nações”, “E recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunha, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”
Voltemos ao puro e simples Evangelho. Voltemos à prática do Evangelismo Pessoal. Abandonemos as nossas prioridades, e nos voltemos à prioridade de Cristo em nossa vida e vida de todos.
A Deus somente, seja toda a Glória.
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Sermão pregado ontem (07/11), no púlpito da Igreja Cristã Evangélica Independete de Vila Monumento.
Bibliografia: “A Mensagem do Antigo Testamento” – Mark Dever
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Postado por Sergio Menga
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