NATAL RN-Os que querem acreditar em Dilma
Se a presidente Dilma Rousseff apresentasse uma estratégia minimamente viável de enfrentamento do impeachment, brotariam apoios de todas as partes.
No entanto, até agora os movimentos de Dilma foram assim.
Terminadas as eleições, ignorou o risco do terceiro turno e entregou a Câmara de porteira fechada para Eduardo Cunha.
Quando a situação política chegava no ponto de ebulição, Dilma aproximou-se do vice-presidente Michel Temer. Em pouco tempo percebeu-se uma mudança de cenário. A desagregação do PMDB havia sido fruto do enfraquecimento de Temer em favor do espaço ocupado por Eduardo Cunha. Com Temer revigorado, haveria condições da cúpula – Temer, Renan, Sarney – impor-se novamente, reconstruir a base política e Dilma poder governar.
Mas significaria repartir poder com Temer. Assim, Dilma tratou de desidratá-lo valendo-se de um sistema que, em administração é chamado de “engenharia reversa” – isto é, a partir da análise do produto final, aprender como se faz para fabricá-lo. Assessores de Dilma observaram por algum tempo os movimentos do vice e julgaram que a “engenharia reversa” também funcionaria na política.
O mundo desabou novamente sobre Dilma porque a política é butique, não produção em escala.
Houve nova movimentação urgente de políticos, liderados por Lula e tendo em Temer o ponto de apoio para mover o PMDB, visando recompor os cacos. Desta vez, parecia que finalmente o governo tomara um rumo.
Mas Dilma pensa assim: eu copiei Temer mas cometi tal erro. Se não cometer mais tal erro, a cópia será tão boa quanto o original. Não levou em conta as infinitas probabilidades da construção política, atropelou as táticas sugeridas e anunciou as suas.
1- Em vez de fortalecer as velhas lideranças do PMDB, foi sozinha negociar com a base. Anunciou-se a vitória, um by-pass em Eduardo Cunha, negociando diretamente com os Piccianis, considerados os verdadeiros líderes da tropa de Cunha.
2- Montou uma operação de guerra de última hora contra o relator das “pedaladas”, Ministro Augusto Nardes, do TCU (Tribunal de Contas da União).
Analisando de fora, pensava-se:
– Se apostou tudo em Picciani é porque não há dúvidas acerca de sua liderança no grupo de apoio a Eduardo Cunha.
– Se jogou tudo contra Nardes, é porque já havia estudado profundamente as reações dos seus colegas, ministros do TCU – e do Ministro Luiz Fux, do STF, que analisou o pedido de suspeição de Nardes.
Se alguém do grupo percebeu antecipadamente o desastre, certamente não teve coragem de expressar suas dúvidas
No dia seguinte ao pacto com os Picciani, o moribundo Cunha estalouos dedos e a frente de deputados se dissolveu.
No dia do julgamento das “pedaladas”, se constatou que a ação do governo provocou a solidariedade geral do TCU ao Ministro atacado. A cara de vítima de Nardes, no dia do julgamento, seria hilária (para quem conhece sua história) não fosse trágica para a democracia. Resultado prático: condenação do governo por unanimidade.
Agora, no desespero, o preço pago ao baixo clero do PMDB fará com que em algumas instituições federais, como no DNIT e na Funasa, por prudência a Polícia Federal e o Ministério Público Federal iniciem as investigações no próprio dia da posse dos novos titulares. Tudo pelo mandato.
E o que se pretende com o mandato? Do lado do Ministro Joaquim Levy, o grupo de juristas convocados para propor reformas pretende eliminar até o elástico conceito de empresa nacional previsto na Constituição Federal e proibir qualquer empresa em recuperação judicial (isto é, 90% das empreiteiras nacionais) de participar dos futuros leilões de concessão. Tudo pelo mandato.
Dilma ainda não se deu conta de que o apoio que lhe resta é daqueles que, mesmo sendo críticos em relação ao seu governo, julgam que ela ainda representa um conjunto de valores e políticas tidos como social-desenvolvimentistas.
No dia em que Dilma passar a representar apenas a pessoa física de Dilma Rousseff, não haverá mais por que lutar pelo seu mandato.
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