Qual deve ser o efeito dessas denúncias — da Operação Lava-Jato da Polícia Federal — para a Petrobras e para a economia do país, passadas as eleições?
As primeiras denúncias do mensalão saíram em 2005. As condenações, no ano passado. Demorou, claro, mas pode-se ver por outro ângulo: o Supremo nunca havia condenado um político. E condenou o poderoso ex-ministro do partido no governo. Muita coisa mudou. Vai daí, acho que o caso Petrobrás cairá, já está caindo, como uma bomba na velha política. Mas uma bomba boa. Muita gente vai cair pelo caminho.
A economia do país está no centro de quase todas as discussões entre os candidatos, mas quase não temos novas propostas. O que, especialmente, eles deixaram de propor na área econômica?
No auge dos debates sobre como resolver a crise da Europa, o então primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean Claude Juncker, saiu-se com esta: vamos falar francamente, todo mundo aqui na Europa sabe o que precisa ser feito; o que ninguém sabe é como ganhar as eleições depois disso. Quando se conversa com assessores dos candidatos presidenciais, todos têm suas receitas. Já os candidatos tentam sempre ficar em cima do muro, para não perder votos deste ou daquele lado. Política econômica é escolha: de quem arrecadar os impostos e onde e com quem gastar? Gastar mais em obras ou em saúde pública? As decisões, sobretudo quando é preciso fazer ajustes, ou maldades, dependem de convencimento ou da necessidade. Convencimento – quando a liderança política vencedora se convence e convence o país a tomar determinadas medidas. Ou quando os líderes se arriscam fazer algo difícil, como colocar idade mínima para aposentadoria, na convicção de que a maioria perceberá o acerto mais à frente. Necessidade – a situação econômica fica tão difícil, que as medidas corretivas, por mais duras que sejam, tornam-se obrigatórias. Pior do que está… Em geral é assim – o que não é bom. As coisas parece que precisam piorar muito antes de se tomar alguma providência.
No auge da crise da economia mundial há alguns anos, o discurso do governo era de que a economia brasileira cresceu pouco, mas resistiu e não tivemos elevados índices de desemprego. Qual a incoerência entre o discurso antes e o de hoje?
Os emergentes, em geral, se deram bem. Quer dizer, tiveram desempenho melhor do que os países ricos, onde foi o auge da crise. O Brasil não foi o campeão. Quando o mundo cresceu, no início deste século, os emergentes cresceram mais que o Brasil. A América Latina também. Na desaceleração, o Brasil desacelerou mais que os outros. E quanto ao desemprego, a taxa brasileira é certamente boa, mas consequência, principalmente, de fatores demográficos. E não é a menor taxa de desemprego do mundo. Nem da América Latina. O México, por exemplo, tem taxa menor que a nossa neste momento. Resumo: o Brasil poderia ter feito melhor nestes anos todos. E nos últimos quatro, foi muito mal. Caiu na armadilha do crescimento baixo com inflação alta.
Dados do IBGE mostram que houve maior crescimento de empregos informais em relação à geração de postos de trabalho formais. O que pode estar além do efeito Copa do Mundo?
Um problema, entre outros, está no salário desemprego. Pessoas pedem as contas, para receber as indenizações, e voltam logo a trabalhar. Mas não podem assinar carteira porque senão perdem o seguro desemprego. Isso explica, por exemplo, porque o gasto com seguro desemprego cresce tanto com desemprego muito baixo. Mas há muitos outros fatores, como a complexidade da legislação trabalhista. Fontes me dizem que muitas pessoas também não querem assinar carteira para não perder as bolsas. Mas isso ainda precisa ser demonstrado com mais dados.
O estoque de empregos está aumentando, especialmente no setor da indústria. A reação do governo está coerente com o momento?
A indústria está desempregando. É o setor em piores condições. O governo jura ter uma política industrial. Se tem mesmo, parece que não funciona.
Os candidatos voltaram a falar, já na reta final da campanha, no fator previdenciário. Mas nenhum deles disse, até o momento, como faria essas mudanças. O discurso é apenas demagógico?
O fator previdenciário é um quebra galho. Foi introduzido porque a emenda constitucional fixando idade mínima para aposentadoria não passou no Congresso. O objetivo é fazer o que se faz no mundo todo: atrasar as aposentadorias, fazer com que as pessoas trabalhem mais anos. Este é o ponto: a conta da Previdência já estourou. O Brasil já gasta em aposentadorias (INSS e funcionários públicos) algo como 12% do PIB. É gasto de país rico e velho. Ou seja, qualquer proposta que não seja a de prolongar o tempo de trabalho e de contribuição é, sim, demagógica.
Discurso comum tem sido acerca do Bolsa Família entre os principais candidatos. Todos dizem que vão manter. De que maneira a manutenção desses programas, por mais de uma década, pode afetar o equilíbrio econômico?
O Bolsa Família não é caro. E pode ser a solução para a pobreza, se as crianças, os filhos das famílias pobres, frequentarem as escolas e lá se qualifiquem para o trabalho. O programa é um pagamento para a criança ficar na escola. Se for isso, muito bem. Se começarem, como parece que começaram, a distribuir bolsas como uma compra política, já deu errado.
A discussão sobre a autonomia do Banco Central é oportuna, ou algo que deve ser mais aprofundada fora do período eleitoral?
É uma discussão muito importante e não é de hoje. E estamos atrasados. Nem precisa explicar muito. Basta dizer: onde o BC tem autonomia formal, definida em lei, tem menos inflação, juro baixo e mais crescimento.
A “guerra fiscal” entre estados, especialmente em relação ao Nordeste, é algo que precisa ser revisto?
A guerra fiscal já passou daquele ponto em que traz mais prejuízos do que vantagens. Um benefício mata o de outro estado. Resta desorganização econômica e tributária e perda de arrecadação.