Mossoró RN; Garoto de 10 anos e 2 m perde visão e tem diabetes após cirurgia no DF
O brasiliense Sérgio Gabriel Ribeiro Gomes, que mede quase 2 metros aos 10 anos de idade, perdeu a visão de um olho e adquiriu diabetes e uma infecção após passar por cirurgia para retirar parte de um tumor no cérebro, segundo a mãe, Ricardene Ribeiro. A Secretaria de Saúde confirma o diabetes, mas não as outras complicações.
O garoto está internado no Hospital de Base doDistrito Federal, onde foi feita a cirurgia no último dia 7. O tumor na hipófise, glândula situada na base do cérebro, causava um quadro de gigantismo. Ricardene diz que não recebe informações da equipe médica e que não foi avisada dos riscos do procedimento.
“Lá no Hospital Universitário [de Brasília], me disseram que ele poderia ficar cego se não fizesse a cirurgia. Ele fez e aconteceu a mesma coisa. Nem sabia que existia esse tipo de diabetes aí”, afirma.
Segundo a secretaria, o garoto está sendo acompanhado diariamente por vários profissionais e tem quadro estável, recebendo medicação intravenosa.
O gigantismo foi descoberto quando Sérgio tinha 6 anos de idade. O tumor tinha o tamanho aproximado de um limão e prejudicava o funcionamento da glândula, responsável pelos hormônios de crescimento e por uma série de funções corporais.
A endocrinologista Luciana Naves, uma das responsáveis pelo procedimento, havia dito antes da cirurgia que o tratamento de Sérgio Gabriel seria extenso. O menino deve passar por radioterapia, além de tomar injeções mensais e remédios pelos próximos anos para impedir o avanço do tumor.
O garoto mora no Novo Gama (GO), cidade no Entorno do DF, e só conseguiu a cirurgia na rede pública da capital quatro anos após o primeiro diagnóstico.
Complicações ‘esperadas’
O endocrinologista Flávio Cadegiani acompanhou o caso pela mídia. Na avaliação do médico, o tamanho e a complexidade do tumor favorecem as complicações apresentadas pelo garoto após a cirurgia.
“Esse tumor, pelo que entendi, era um macroadenoma gigante. Quando tem mais de 1 cm, já é grave. Acima de 4 cm, já poderia resultar em cegueira lateral. Neste caso, com um tumor do tamanho de um limão, há registros médicos de cegueira total e de outras sequelas”, explica.
A perda de visão acontece, segundo Cadegiani, porque o tumor pressiona uma área chamada quiasma ótico, onde se concentram os nervos responsáveis pela visão.
O endocrinologista explica ainda que o diabetes insipidus contraído por Sérgio não tem a ver com o diabetes mellitus, mais conhecido. A doença impede a produção do hormônio antidiurético (ADH), responsável pelo controle da urina nos rins.
“Esse hormônio é produzido em outra porção da hipófise, ao lado de onde está o tumor do Sérgio. Quando o corpo não produz esse hormônio, os rins não conseguem acumular líquido e o paciente perde o controle da urina”, diz. Nestes casos, o paciente precisa receber um hormônio sintético chamado desmopressina, que está disponível na rede pública em farmácias de alto custo.
Segundo Cadegiani, os problemas podem ser causados por lesões nas áreas próximas, durante a cirurgia, ou por uma mudança de pressão nessas estruturas após a retirada do tumor. No segundo caso, é mais provável que o dano seja revertido.
“Pode ser uma lesão funcional, porque a área ficou muito tempo pressionada pelo tumor. Há casos em que o diabetes regride em meses, ou até anos. O paciente vai diminuindo a dose do hormônio sintético e acompanhando o resultado. A cegueira pode passar também, mas é bem mais raro”, afirma.
Ajuda voluntária
Com problemas nos rins e histórico de hepatite, a mãe de Sérgio conta com a ajuda de voluntários para cuidar do filho durante a recuperação. “O pessoal dos outros quartos está me ajudando. Ouvi de uma enfermeira que eu estava promovendo uma ‘romaria’ aqui no corredor, porque não consigo correr atrás de nada”, conta.
Ricardene diz que o filho está com a mesma sonda urinária há mais de uma semana, e que chora muito ao urinar. A Secretaria de Saúde nega, e diz que o “jovem, inclusive, recebe às vezes o atendimento de três especialistas diferentes em um único dia”.
A dona de casa Maria da Conceição Barbosa, 41 anos, é uma das voluntárias que ajuda Ricardene no dia a dia do hospital. Ela diz que pesquisou os sintomas de Sérgio por conta própria, porque a família não estava recebendo informações suficientes sobre o quadro clínico do garoto.
“Fui pesquisar e vi que o diabetes e a cegueira eram sintomas possíveis. Mas segundo a mãe, ninguém contou isso pra eles antes, por isso o desespero”, diz. Segundo ela, o paciente chora muito ao urinar, e apresentava diarreia e febre de 40 ºC na manhã desta segunda-feira (20). O boletim médico da Secretaria de Saúde não confirma as informações.
“Estamos ajudando como podemos, tirando do próprio orçamento, fazendo corrente de doação. Mas a situação da família é crítica, porque falta dinheiro, conhecimento, apoio do governo, tudo”, diz Conceição.
‘Medo de morrer’
Na semana da cirurgia, Sérgio Gabriel precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital. Ricardene recebeu autorização especial do hospital e conseguiu acompanhar o filho por algumas horas na unidade que, geralmente, não recebe visitas.
“Ele está com medo de morrer, falou pouco, mas disse que não quer morrer. Mas falei para ele ter fé, que Deus está no comando das coisas”, disse a dona de casa em entrevista no dia seguinte à cirurgia. “Nunca ficamos longe um do outro. Estou apreensiva. Ele precisa de mim, é uma criança. Não vou sair daqui enquanto ele estiver aqui”, afirmou.
Segundo Ricardene, o filho é caseiro e não tem colegas da mesma idade. Neste ano, Sérgio passou a frequentar uma escola pública em Santa Maria, no DF, mas falta a muitas aulas porque fica enjoado no ônibus e porque a mãe não tem dinheiro para pagar o transporte.
Para o garoto, não ter amigos não é um problema. “Gosto de ficar só, fazer minhas coisas, não sinto falta de amigo”, disse Sérgio em entrevista ao G1.
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