‘Meu pai não teve culpa’, diz menino que perdeu braço após ataque de tigre
O menino Vrajamany Fernandes Rocha, de 11 anos, afirmou, em entrevista exclusiva aoFantástico deste domingo (10), Dia dos Pais no Brasil, que o pai, Marcos do Carlo Rocha, não teve qualquer culpa no incidente em que acabou sendo atacado por um tigre, em um zoológico de Cascavel, no Paraná. Devido aos ferimentos, o garoto teve o braço direito amputado. “O meu pai não teve culpa. Ele não sabia que ia acontecer”, declarou, ao Fantástico.
Além disso, o menino contou que, já na ambulância, quando era levado para o hospital, já sabia que iria perder o braço. Ele foi atacado por um tigre de mais de 200 quilos no dia 30 de julho. Depois da amputação, Vrajamany ficou internado por uma semana, recebendo alta médica na última quarta-feira (6). Ele retornou a São Paulo, onde mora com a mãe, a funcionária pública Mônica Fernandes Santos, no dia seguinte, quinta-feira (7).
Brincar com animais é algo comum na casa em que Vrajamany vive com a mãe, o padrasto e com um dos irmãos. Eles têm dois cães de estimação.
No fim do mês passado, o menino viajou com o pai, que também mora em São Paulo. Eles foram visitar o irmão caçula, por parte de pai, no Paraná. No dia 30, os três foram ao zoológico de Cascavel.
Pela primeira vez, Vrajamany falou sobre o ataque.
Pergunta – Quando você chegou, como é que foi? Tinha mais gente olhando?
Resposta – É, quando eu cheguei não tinha ninguém no zoológico.
P – Nem visitante, nem vigia?
R – Nem visitante, nem vigia. Tinha poucas pessoas. Eu já pulei a cerca para ver melhor. Mais de perto.
Segundo ele, nessa hora o pai não estava junto.
R – Meu pai ainda tinha ficado lá para trás, eu estava sozinho.
P – Você foi andando na frente?
R – Fui.
O menino buscou o pai e voltou a pular a cerca.
P – É aí que você resolveu dar comida?
R – Não, eu não tinha comida. Eu fui almoçar e voltei de novo.
Vrajamany levou os ossos de frango no bolso. Pela terceira vez, entrou na área restrita. Visitantes filmaram quando ele ofereceu a comida ao leão.
P – Você não ficou com medo do leão?
R – Não.
P – Não achou que ele pudesse te morder?
R – Não, né, até porque ele não passa pela grade.
Depois, ele foi para a jaula do tigre.
R – Meu pai ficou no tronco e eu fiquei brincando com o tigre.
P – Teve gente que falou que o tigre fez xixi ali querendo marcar território. Você percebeu?
R – É, eu esqueci que ele marca território, né?
Ele também contou por que escalou a grade.
P – Teve uma hora que a gente viu que você escalava a grade. Por quê?
R – Para ele chegar perto assim. Porque ele ia para lá e ficava um pouco. Aí, você subia, ele vinha para cá assim.
P – Você não teve medo?
R – Não.
P – Achou que ele pudesse te atacar?
R – Não.
Para ele, era diversão. Mas o tigre reagiu.
R – Ele pegou a minha mão, eu fiquei assim e já não vi mais o que aconteceu.
P – E aí, como é que foi?
R – Aí, meu pai já veio correndo do tronco, pulou a cerca, bateu na cara dele e aí ele soltou o meu braço. O outro homem lá me ajudou a tirar da cerca e aí eu fiquei deitado na grama até chegar o bombeiro.
Vrajamany lembra de ter pedido para não sacrificarem o tigre. “Não é culpa dele. Eu que coloquei a mão lá”, ressaltou.
Os médicos que atenderam o menino no Paraná identificaram duas mordidas do tigre: uma na mão direita e outra na altura da axila. Segundo eles, por apenas dois centímetros, os dentes do animal não atingiram artérias importantes que passam perto do ombro. Nesse caso, o menino poderia ter morrido na hora.
P – Você desmaiou?
R – Não. Estava consciente.
P – Lembra de tudo?
R – Sim.
O socorro foi rápido, mas os médicos avaliaram que não havia chance de reconstrução. Optaram pela amputação do braço direito.
R – Não tomei choque, não, porque na ambulância eu já sabia que iam cortar meu braço.
P – Você achou que iam cortar?
R – Eu já fiquei triste lá, já.
A Polícia Civil do Paraná investiga de quem é a responsabilidade. E, na última sexta-feira (8), chamou o pai para novo depoimento. Mas ele preferiu o silêncio por orientação do advogado.
“Todas as posições que se levantaram, eu entendo e não culpo ninguém. Esses dez dias foram a coisa mais estranha que já vi na minha vida. Temos uma relação de muita cumplicidade e temos uma história que é difícil terem a dimensão sem ter conhecimento”, afirmou Marcos do Carlo Rocha, pai do menino.
R – O meu pai não teve culpa. Ele não sabia que ia acontecer.
P – Ele disse que não viu o perigo.
R – É. Nem eu vi.
Atividades que eram simples, agora causam certa dificuldade. Vrajamany é destro. O foco é fazer o braço esquerdo assumir novas habilidades. “Assim que ele chegou de viagem, ele foi tomar banho e a mãe foi ajudá-lo a tirar a roupa e ele falou: ‘Não, Para!’ Deixa que eu consigo tirar a roupa”, conta Luís Rigamonti, funcionário público, padrasto do menino.
“Porque eu quero voltar a fazer as coisas sozinho rápido, né?”, justificou o menino.
O próximo desafio do Vrajamany é voltar para a escola. Para isso, ele vai ter de reaprender a escrever com o braço esquerdo. Mas os colegas de sala de aula já disseram que estão dispostos a ajudar.
“Eu estou devagar para escrever”, disse Vrajamany. A família ainda não sabe se ele vai poder usar prótese. E nem se eles vão ter condições de pagar por uma.
“Vamos marcar na semana que vem consulta em um centro de reabilitação. Vamos esperar uma avaliação de médico”, afirmou a mãe. O menino faz planos.
R – Ah, quero uma prótese humanoide, né?
P – O que é uma prótese humanoide?
R – É igual a um braço, tem os mesmos movimentos que um braço.
“Eu fico feliz porque a vida é uma dádiva. E em momento nenhum ele está pensando em jogar a vida dele fora. Ele está persistindo, sabe que tem que viver e é corajoso.Então, todos sofremos uma transformação”, declarou a mãe.
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