A pesquisa Datafolha divulgada ontem (18), a primeira após a morte de Eduardo Campos, sugere que Marina Silva tem o potencial que as oposições buscavam desde o início: entrar na base eleitoral que se mantém fiel ao PT desde a eleição de 2006, formada por eleitores de menor renda (0 a 2 salários mínimos e que são 40% do eleitorado) e por eleitores do Nordeste.
Desde a reeleição de Lula em 2006, esta base, que alguns analistas associam ao fenômeno do “lulismo”, votou em maior peso tanto em Lula como em Dilma (em 2010). Tanto os mais pobres como a região Nordeste continuam a sustentar a candidatura Dilma, mas a entrada de Marina desenha no horizonte nuvens outras.
Isto fica mais fácil de ver na simulação de segundo turno. Contra Aécio, Dilma teria 47% dos votos, e daria uma lavada entre eleitores de menor renda: 57% a 31%; no nordeste Dilma dispararia: 62% contra 27% do tucano. Como os mais pobres são a maioria dos eleitores e o Nordeste é um colégio eleitoral de peso, esse desequilíbrio poderia lhe render a reeleição.
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Com Marina, a história muda. Na simulação de segundo turno, Marina teria 47% dos votos contra 43% de Dilma, tecnicamente o que os pesquisadores chamam de empate técnico. No Nordeste, porém, se Dilma bateria Aécio por uma diferença de 35 pontos, ela venceria Marina por 26 pontos (o que é bastante, mas uma queda em um bastião de votos que até aqui não se mostrava disposto a se mover).
Já entre eleitores que ganham até 2 salários mínimos de renda familiar, em um eventual segundo turno Dilma bateria Aécio por 26 pontos, mas ganharia de Marina por apenas 14 pontos. Como a candidata do PSB vai melhor no Sudeste e em todas as outras faixas de renda (na chamada “classe C” teria 53%), Marina levaria.
O que importa é que os números mostram um potencial de Marina que Aécio não vinha conseguindo esboçar e que pode ter implicações políticas mais profundas para os próximos anos.
Eleições presidenciais costumam colocar ao país questões. A chegada de Marina, creio, coloca a pergunta sobre os destinos do lulismo como força eleitoral. E o que seria o ‘lulismo’? Se trata da “relação estabelecida por Lula com os mais pobres, os quais, beneficiados por um conjunto de políticas voltadas para melhorar as suas condições de vida retribuíram na forma de apoio maciço e, em algumas regiões, fervoroso da eleição de 2006 em diante”. A definição é do cientista político da USP, André Singer, e está no seu livro Os Sentidos do Lulismo (Companhia das Letras).
Mas como campanha eleitoral não é uma ciência exata, tudo pode acontecer.