Marcha das Vadias volta com tema: “Quem cala, não consente!”
De uma reunião de um grupo de mulheres para debater questões feministas em 2012 para a 4º Marcha das Vadias. Esse foi o caminho percorrido pelo coletivo que se prepara durante esta semana para realizar mais um protesto no fim de semana. A próxima Marcha das Vadias acontecerá no próximo sábado (24), em São Paulo, a partir das 12h, no Vão do Masp, na avenida Paulista. A marcha também está prevista para ocorrer em outras cidades do Brasil, como em Belo Horizonte.
Com o tema “Quem cala, não consente!”, o coletivo alerta que a não aceitação a uma prática sexual não necessariamente precisa ser verbal ou uma reação física. “Às vezes é difícil dizer não por vários motivos: por medo, por pressão psicológica, por causa de uma ameaça”, explica a integrante do movimento, Patrícia Diniz*.
A intenção do coletivo é alertar as mulheres de que o estupro não se limita a penetração e sim a qualquer prática para obter prazer sem o consentimento. “Queremos explicar até de uma forma didática como a lei protege quem sofre um estupro, além de também abordar sobre a exploração sexual”, conta Rebeca da Silva*, outra integrante da Marcha das Vadias.
As integrantes da marcha contam que o material deste ano trará também a frase: ”Pagando ou não, não dá direito a agressão” para abordar que as prostitutas também têm o direito de escolher seus clientes. “Isso é algo que já debatemos há algum tempo, não é porque a pessoa está disposta a pagar, que a mulher tem que aceitar”, continua Rebeca.
Durante o movimento, elas pretendem alertar as mulheres que o estupro pode acontecer durante um ato que começou consensual. “Tudo tem que partir da vontade dos dois. As pessoas acham difícil acontecer com alguém que você mora e divide a vida, mas a maioria dos casos ainda acontece dentro de casa”, fala Patrícia Diniz*, que também participa do coletivo.
Ipea
Sobre a pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), em que 26% dos entrevistados concordavam, totalmente ou parcialmente, com a afirmação “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”, as feministas disseram que o resultado não surpreendeu.
“Nós ficamos, de alguma forma, satisfeitas de pensar que haveria uma coisa concreta, pois as nossas percepções levaram um órgão público a mensurar aquilo. Quando eles corrigiram o número, não fez muita diferença para nós, pois é um comportamento explicitamente violento e não temos que tolerar independente do número”, diz Rebeca.
Elas lamentam que a correção do instituto tenha feito com que o debate perdesse um pouco da força. “Muitas pessoas começaram a achar que estava tudo bem já que apenas ¼ da população tem esse pensamento.”, afirma Patrícia. Elas ainda questionam que foi deixado de estudar a resposta dos 65% dos entrevistados que afirmaram que “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”. “Quando o debate estava sendo sobre o estupro que ainda traz aquela ideia da rua todo mundo quis discutir, mas quando passou para o ambiente doméstico, aquela porcentagem sumiu”, explica Rebeca.
Violência no transporte públicos
Já sobre os casos nos transportes públicos, as integrantes da Marcha das Vadias afirmam que isso já vem sendo denunciado pelos movimentos feministas há muito tempo. “Finalmente, o poder público começa a identificar essas práticas como violência sexual, mas, infelizmente, as soluções buscadas para resolver esses problemas ainda são muito problemáticas”, continua Patrícia.
O movimento
Durante reuniões que acontecem quinzenalmente, elas discutem sobre temas que estão em pauta na sociedade brasileira e que tem relação com os direitos das mulheres, além de decidir as ações do coletivo. “Nós costumamos divulgar os debates e as aulas públicas nas redes sociais. Não existe uma hierarquia no grupo e todas as mulheres são bem vindas. Todas as decisões do coletivo são tomadas em conjunto e as reuniões servem como base para tornar nossas ações constantes”, relata Rebeca.
As três integrantes do coletivo contaram como entraram para o movimento. “Em 2012, fui à marcha pela primeira vez e fiquei muito impressionada com o clima do ato, com os relatos e com a maneira que tudo aquilo deixava as mulheres mais fortes. Eu tinha uma amiga que já participava do coletivo e foi meu incentivo para passar a participar também”, diz Rebeca.
Já Patrícia Diniz conta que não tinha gostado muito da ideia quando o movimento surgiu em 2011. “Achei a proposta estranha. Mas ao longo do ano pesquisei sobre o assunto, compreendi e me identifiquei com a ideia e tive muita vontade de participar em 2012. Havia algumas mulheres se mobilizando para tentar alterar a data da marcha de 2012, para que ocorresse junto com as outras no restante do País. Juntei-me a esse grupo, fizemos reuniões presenciais, conseguimos alterar a data e organizamos o ato. Então resolvemos criar um coletivo feminista para organizar essa e outras atividades. Surgiu a coletiva Marcha das Vadias Sampa, da qual desde então faço parte”, diz Patrícia.
“Em 2012 comecei minha aproximação com o movimento feminista, lendo e seguindo de perto o que as mulheres brasileiras e principalmente paulistas estavam produzindo. Passei a ir sozinha a quase todos os atos de rua, inclusive a Marcha das Vadias, e comecei a procurar um espaço onde pudesse militar de forma organizada. Fui convidada a ir a uma das reuniões da organização por duas integrantes, mas apenas em janeiro de 2014 tomei coragem e fui”, relata Antônia Silva*.
A Marcha das Vadias começou em Toronto, no Canadá, em 2011, com o nome Slutwalk, devido a uma onda de violência que acontecia na cidade. Durante uma palestra realizada por um policial no campus de uma universidade para explicar como as pessoas poderiam se proteger, ele disse que ajudaria muito se as meninas não se vestissem como vadias. Depois disso, um grupo de universitárias canadenses se reuniu e fez uma marcha protestando contra a culpabilização da mulher pela violência sexual.
Fonte:IG
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