O clima tenso registrado no último treino do Uruguai, no estádio Frasqueirão, ontem pela manhã, já prenunciava que eles não esperavam algo de muito bom em relação a Luis Suárez. A defesa apresentada pela Associação Uruguaia de Futebol não livrou o atacante de receber a punição mais severa já aplicada a um atleta numa Copa do Mundo. Foram 9 partidas de suspensão em jogos oficiais pela seleção de seu país, além do afastamento por quatro meses de qualquer atividade ligada ao futebol. Aliado a isso, ainda foi aplicada uma multa de R$ 248 mil ao camisa nove. Já ciente da notícia, no hotel, o camisa nove chorou abraçado ao seu fisioterapeuta.
A delegação simplesmente se trancou no estádio alvinegro e ficou esperando pelo resultado da decisão do comitê disciplinar da Fifa. A mordida desferida no zagueiro italiano Chiellini, no jogo realizado na Arena das Dunas no último dia 24, custou muito ao atacante que já é reincidente em agressões do tipo.
A vitória épica conquistada no gramado e que seria motivo para tanta alegria, foi manchada pela atitude infantil do atacante e a notícia da severa punição, transformou um clima de intensa alegria em tensão. Nem as costumeiras brincadeiras no gramado durante os trabalhos foram realizadas, a atenção do grupo estava toda focada no Rio de Janeiro, onde seria anunciado o resultado do julgamento de Suárez.
Não foi permitido qualquer tipo de contato com imprensa e com os poucos torcedores que se dirigiram para frente do estádio alvinegro. Ninguém dava declarações e até os telefones celulares e aparelhos eletrônicos com capacidade de tirar fotos, foram recolhidos dos funcionários que trabalhavam na parte interna do estádio.
Revolta
Apesar de reconhecerem o erro do atacante Luiz Suárez, o pequeno grupo de torcedores uruguaios que compareceu ao Frasqueirão para tentar o último contato com os jogadores, antes da viagem da delegação para o Rio de Janeiro, apresentou completa insatisfação com a punição aplicada ao ídolo. Eles definiram a situação como “um roubo da Fifa” que vai retirar o brilho da Copa do Mundo.
“Acho que essa pressão toda foi feita apenas pelo fato da possibilidade de o Uruguai poder cruzar com o Brasil nas quartas de final. Não era para tanto, tivemos agressões bem piores que nem foram punidas”, reclamou Juan Ramos, que veio de Montevidéo com um grupo de 11 colegas num moto home.
Nicolas Garcia disse também não esperar que a agressão de Suarez passasse em branco, porém taxou a punição de desproporcional. “Não era para tanto. Que fossem um, dois ou até três jogos. Mas essa punição passou dos limites”, frisou.
Afonso Nopitsch ressalta que a baixa de Suárez abaterá um pouco a equipe, retirando uma boa parte da sua força ofensiva, mas salienta que pode ocorrer um “efeito colateral”, resultando numa maior união do grupo. “Nossa força certamente diminuiu, mas a garra vai quadruplicar. Nossa confiança continua inabalada, só temos lamentar o ocorrido. Não estamos mortos”, disse o torcedor uruguaio.
Juan Ramos confessou ter sentido o golpe, ele que estaria disposto a oferecer até 500 dólares para comprar ingresso e ir assistir ao confronto das oitavas de final, no Maracanã, amanhã, diante da Colômbia, garantiu ter perdido a animação. “Não vou mais a esse jogo. Se o Uruguai passar vou tentar me reanimar para ver, quem sabe, o confronto contra o Brasil, pelas quartas, que será aqui em Fortaleza”, afirmou.
9 é o número de jogos oficiais que Luiz Suárez terá de cumprir de suspensão pela seleção uruguaia. Ele terá de passar ainda quatro meses afastado do futebol.
248 mil reais é o valor da multa imposta ao atleta pela agressão cometida ao zagueiro italiano Chiellini, na partida do último dia 24, na Arena das Dunas.
Declarações
“Não tem como negar que ele [Suárez] cometeu um erro. Mas eu, como jogador, compreendo que lá dentro o jogador está à flor da pele, com tensão. Enxergo a punição como severa demais.”
Fred, atacante da Seleção Brasileira
“O futebol tem que manter a linha de respeito. As pessoas têm que pagar pelo que fazem. Nunca mordi ninguém, mas sei que mordida dói, minhas filhas me mordiam”
Ronaldo Nazário, comentarista
“Indignação, impotência. Acho que isso é o que todos nós sentimos. Todos gostaríamos de um mundo mais justo, mas esse mundo não existe. Os que mandam, mandam, e os fortes, são os fortes… não julgam com a mesma lei.”
Lugano, zagueiro do Uruguai