O senador Cristovam Buarque é um incansável defensor da educação como causa transformadora do Brasil: “A bandeira do Brasil, em vez de ‘Ordem e Progresso’, seria ‘Educação é Progresso’”, disse em entrevista a Roberto D`Avila neste sábado, na GloboNews.
Inconformado com o Brasil atual, o senador acredita que só a indignação é capaz de mudar o país. “Eu não tenho dúvidas do que hoje o que falta é uma força moral. Eu me lembro inclusive que recomendei a Marina Silva que em vez de criar um partido, ela fosse uma espécie de Betinho do século XXI, trazendo uma liderança moral. E hoje a gente precisa. Só uma força moral vai fazer com que a educação fique boa”, afirma Buarque, que foi ministro da Educação entre 2003 e 2004, durante o primeiro governo Lula.
“A saúde de qualidade é uma questão moral. Educação de qualidade é uma questão moral. Enquanto ficarmos apenas no discurso político-econômico, este país não desperta para a necessidade de acabar com essas duas indignidades. Isso sem falar na corrupção – que já é, em si, uma imoralidade sem precisar de nenhuma análise”, avalia.
Mas o criador do programa Bolsa-Escola, precursor do Bolsa-Família, acredita que a grande transformação no Brasil só será possível com a federalização da educação. “Nenhum prefeito, nenhum governador tem condições disso; só o governo federal. Eu tenho chamado de ‘adoção’ pelo governo federal das escolas nas cidades cujas prefeituras não têm dinheiro para dar uma boa educação para os seus filhos”, explica sobre a política de educação ampla, que deverá levar uns 20, 30 anos.
Discípulo de Darcy Ribeiro, Buarque também defende as escolas públicas em período integral. E afirma que o salário dos professores deveria ser muito maior do que é na prática: “Eu tenho chamado isso de ‘Escola Ideal’, com o professor ganhando R$ 9.500 por mês – porque menos que isso não consegue trazer os melhores quadros da juventude para o magistério, que prefere ir para o direito, para a engenharia – com dedicação exclusiva, e ao mesmo tempo sem a estabilidade plena, sujeita a avaliações periódicas, e sabendo manejar os equipamentos modernos. Dar aula em uma lousa inteligente, usar televisão, celular como equipamento pedagógico. Isso se faz ao longo do tempo”.
Cristovam sabe que não é fácil chegar a esse ideal e lamenta não ter reformulado as escolas do Distrito Federal quando governou a capital federal, entre 1995 e 1998. Mas garante que dinheiro para isso não falta no governo federal. “Não precisa de tanto dinheiro assim. Você pagar R$ 9.500 a um professor – desde que seja realmente bom, bem dedicado, bem formado e avaliado – leva a um custo de R$ 9.500 por ano por aluno. A gente vai ter 52 milhões de alunos daqui a 20 anos. Se você fizer as contas, isso vai custar 6,4% do PIB. Tem uma lei chamada Lei do Plano Nacional de Educação que já obriga a colocar 10%. Então, se você tem 6,4% para isso, incluindo a pré-escola, universidade e um grande programa de educação das massas do Brasil, custaria uns 9,4% do PIB. Além disso, já se gasta 5,5%. Só precisaria de uns 4% a mais. É possível”, explica Buarque, ressaltando que o plano leva em conta uma estimativa do PIB para daqui a 20 anos, supondo que ele cresça 2% ao ano – “que é uma taxa pequena na história do Brasil”.