As brocas são aqueles instrumentos compridos e metálicos, com o barulho de motorzinho, que todo dentista usa para fazer diferentes tratamentos dentários, como obturação, limpeza e tratamento de canal. “Quase tudo que precisamos fazer na odontologia precisa de algum tipo de broca. Posso dizer que elas são quase a extensão do corpo do dentista”, diz Renata Lira, cirurgião-dentista.
Porém, para os cientistas da King’s College London, na Inglaterra, elas podem estar com os dias contados. Segundo eles, a eletricidade pode ser usada para fortalecer um dente “empurrando” minerais para dentro da camada do esmalte dentário. Isso se faz necessário porque, no dia-a-dia, o ácido, produzido pelas bactérias que processam o alimento na boca, facilita a perda desses minerais, o que pode causar a cárie.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores aplicaram um coquetel de minerais (cálcio e fosfato) na cavidade bucal e depois usaram uma corrente elétrica fraca para direcionar esses minerais para dentro do dente. Segundo os pesquisadores, a “Remineralização Eletricamente Acelerada e Aumentada” (nome em português desse procedimento) é capaz de fortalecer o dente, sem que seja necessária a utilização de brocas.
Porém, para o professor titular do Departamento de Dentística da USP, Rubens Corte Real de Carvalho, ainda é cedo para comemorar o fim desses instrumentos. “Acredito que esta pesquisa ainda está no início e em andamento. Pelo que pude perceber não a vejo acabando de vez com as brocas, pois não acredito que essa técnica tratará todos os tipos de cárie, principalmente os mais severos”, diz o especialista.
E Rubens está certo, segundo Nigel Pitts, um dos líderes da pesquisa, essa técnica poderá até substituir algumas obturações, mas não poderá tratar de “cáries em estágio final”. “Essa remineralização não vai formar dente ou fazê-los voltar a crescer, apenas vai permitir que não se progrida um processo inicial de cárie”, diz o professor. O pesquisador acredita que, dentro de três anos, a técnica estará disponível para todos os dentistas. Tanto que o pesquisador já criou uma empresa, a Reminova, justamente para transformar “uma tecnologia de demonstração em um produto comercial viável”.
Fonte: Terra