Codinome “Timber Sycamore” [Lenho de Figueira-doida ― ou Sicômoro, uma árvore várias vezes citada na Bíblia]: assim se chama a operação de armamento e treinamento de “rebeldes” na Síria, “autorizada secretamente pelo presidente Obama em 2013”. O registro é de uma reportagem investigativa [realizada por Mark Mazzetti e Matt Apuzzojan] publicada pelo New York Times no domingo passado, dia 24 de janeiro.
Quando recebeu a delegação do presidente para realizar essa operação encoberta, “a CIA já sabia que tinha um parceiro disposto a financiá-la: a Arábia Saudita”. Junto com o Catar, “esse país forneceu armas e vários bilhões de dólares, enquanto a CIA dirigia o treinamento dos rebeldes”. O fornecimento de armas a eles ― incluindo aí os “grupos radicais, como a Al-Qaeda” ― foi iniciado no verão de 2012, quando, através de uma rede montada pela CIA, agentes secretos sauditas compraram na Croácia e na Europa Oriental milhares de fuzis de assalto AK-47, acompanhados de milhões de cartuchos de munição, enquanto agentes do Catar infiltravam na Síria, através da Turquia, mísseis portáteis chineses FN-6 comprados no mercado internacional.
Uma vez que o fornecimento de armas ocorria sem empecilhos, ao final de 2012 o diretor da CIA, David Petraeus, convocou seus aliados na Jordânia com a finalidade de estabelecer um controle mais estrito da Agência para a totalidade da operação. Poucos meses depois, na primavera de 2013, Obama autorizou a CIA a treinar “rebeldes” em uma base na Jordânia, apoiada por outra no Catar, e a fornecer-lhes armas, incluindo os mísseis anti-tanque TOW. Sempre por meio dos bilhões do “contribuidor maior”, a Arábia Saudita. Nenhuma novidade nesse tipo de operação.
Nos anos setenta e oitenta, a Arábia Saudita ajudou a CIA numa série de operações secretas. Na África, especialmente em Angola, foi graças ao financiamento saudita que a CIA apoiou os rebeldes contra o governo, aliado da URSS. No Afeganistão, “para armar os mujahedins contra os soviéticos, os Estados Unidos lançaram uma operação de custo anual de alguns milhões de dólares, que os sauditas pagaram tostão por tostão, por meio de uma conta da CIA em um banco suíço”. Na Nicarágua, quando a administração Reagan lançou o plano secreto para ajudar os Contras, os sauditas financiaram a operação da CIA com 32 bilhões de dólares, através de um banco nas Ilhas Cayman.
Por meio dessas e outras operações secretas, até o momento atual na Síria, foi-se cimentando “o extenso relacionamento entre os serviços secretos dos Estados Unidos e da Arábia Saudita”. Apesar da “reaproximação diplomática” de Washington com o Irã, que em nada agrada a Riad, “a aliança persiste, mantida à tona sobre um mar de dinheiro saudita e sobre o reconhecimento de interesses mútuos”. Isso explica por que “os Estados Unidos estão tão relutantes em criticar a Arábia Saudita pela violação de direitos humanos, pelo tratamento dado às mulheres e pelo apoio do reino à ala extremista do Islam, o wahabismo, que inspira muitos grupos terroristas”, assim como explica porque “Obama não condenou a Arábia Saudita pela decapitação do sheik Nimr al-Nimr, o dissidente religioso xiita que havia desafiado a família real”.
Junte-se a isso o fato, do qual o New York Times não fala, de que o Secretário de Estado, John Kerry, em visita a Riad em 23 de janeiro, reafirmou que “no Iêmen, onde a insurgência Houthi ameaça a Arábia Saudita, os EUA estão do lado dos amigos sauditas”; amigos que há quase um ano massacram civis no Iêmen, bombardeando até mesmo os hospitais, ajudados pelos mesmos Estados Unidos que lhes proporcionam informações de inteligência (ou seja, indicação de alvos a abater), armas (incluindo bombas de fragmentação) e apoio logístico (incluindo reabastecimento aéreo de caças-bombardeiros sauditas); os mesmos amigos com quem o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi se encontrou oficialmente em novembro passado, em Riad, garantindo-lhes o apoio e as bombas italianas na “luta comum contra o terrorismo”.