Roberto Campello
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Às vésperas de completar um mês como gestor da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap), o médico Ricardo Lagreca, recebeu a reportagem d’O Jornal de Hoje e fez um balanço a respeito das primeiras impressões, desafios e os primeiros resultados que já podem ser sentidos. Quando assumiu a Secretaria, Lagreca encontrou o maior hospital de urgência e emergência do estado, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, com 160 pacientes nos corredores, crise no abastecimento nas principais unidades hospitalares, longa fila de pacientes à espera de cirurgias ortopédicas, além de greve dos terceirizados que atuam em hospitais na Região Metropolitana de Natal. “A situação é mais crítica do que eu imaginava, mas não me arrependo de ter aceitado o convite. É motivador e desafiante”, afirma o secretário.
Aos poucos os primeiros resultados positivos começam a aparecer. Em um mês, o secretário já visitou o Hospital Walfredo Gurgel três vezes, uma vez, inclusive, acompanhado do governador Robinson Faria. No último final de semana, os corredores estavam sem pacientes em macas. Hoje, havia 17 pacientes nos corredores.
“É uma situação crônica que vem se arrastando e se repetindo há anos. Nessa época do ano temos uma superlotação maior, que há uma diminuição, acentuada, da capacidade de atendimento dos serviços oferecidos pelos municípios próximos a Natal e o resultado disso é o aumento da superlotação do Hospital Walfredo Gurgel”, destaca o secretário estadual de Saúde.
O médico Ricardo Lagreca faz uma análise positiva a respeito dos quase 30 dias a frente da Secretaria. “Faço uma análise boa no sentido de termos observado e trabalhado de uma forma de tentar resolver o problema na sua base maior. Estamos fazendo esta avaliação e caminhando. Estamos entusiasmados com que vamos oferecer. Já é possível verificar uma evolução, embora tenhamos perdido muito tempo resolvendo os problemas de desabastecimento, mas não temos esquecido de pensar as formas para que isso seja resolvido definitivamente para que não se repita”.
“Para o primeiro mês, o saldo é muito bom. A situação é muito mais crítica do que eu pensava. O que me assustou é um processo sistêmico. Não adianta eu resolver um problema isolado, quando o problema é geral. São todos os hospitais da rede que estão com problemas, não só de abastecimento, mas estruturais. O cenário é muito grande e complexo, mas em nenhum momento eu pensei em desistir e estou aqui para tentar resolver isso. Tem muito o que melhor e é possível fazer isso. O tamanho do problema não afugenta. Estou aqui para enfrentá-lo”, afirma o secretário estadual de Saúde, Ricardo Lagreca.
Medidas Emergenciais e duradouras
Diante dessa situação, o secretário Ricardo Lagreca garante que são necessárias medidas emergências (agudas), mas também duradouras. As medidas emergenciais dizem respeito ao abastecimento e desospitalização de pacientes no Walfredo Gurgel, bem como ampliação do numero de cirurgias ortopédicas realizadas no Hospital Deoclécio Marques de Lucena.
“As ações duradouras envolve o fortalecimento da regionalização para que os pacientes dos municípios mais distantes não venham para Natal, melhorar a retaguarda do Walfredo Gurgel, somada as medidas emergenciais, são medidas estruturantes que estamos trabalhando, incessantemente, na proporção que é a dificuldade. Não interessa a saúde viver nessa situação de picos. A boa gestão de saúde tem que ter planejamento e estamos caminhando nesse sentido”, ressalta o secretário.
Abastecimento
No final do ano passado, diversas unidades sofreram com o desabastecimento de insumos e medicamentos. O secretário Ricardo Lagreca reconhece que não é possível as unidades funcionarem a contento se o problema do desabastecimento persistir. “Procuramos abastecer, pelo menos minimamente, os hospitais para que eles pudessem até o paciente que chega lá. Se ele está desabastecido faz se um ciclo, pois o paciente não é atendido e volta para Natal”, destaca.
Ortopedia
A Secretaria está organizando ações que pretendem reduzir as filas de espera por cirurgias ortopédicas nos maiores hospitais da Região Metropolitana. O secretário informou que será montada uma escala extra, aumentando de três para cinco o número de profissionais durante o período diurno, no Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, para ampliar a capacidade cirúrgica da unidade. “Com isso iremos dobrar a capacidade de realização de cirurgia”, conta o secretário.
A nova sala já começa a funcionar na próxima segunda-feira (2) e a expectativa é que o hospital realize cerca de 15 cirurgias ortopédicas por dia. “Embora estejam sendo planejadas ações mais duradouras, essa é uma ação emergencial que visa diminuir a superlotação nesses hospitais e garantir uma melhor assistência ao paciente”.
O secretário lembra que o problema da urgência e emergência do trauma é uma epidemia mundial. Além disso, o estado diminuiu, ao longo dos últimos anos, o número de prestadores de serviço de ortopedia, na contramão do crescente número de pacientes de trauma. “De um lado tivemos uma diminuição da oferta, e do outro aumentamos consideravelmente a demanda. E isso resulta no atual desequilíbrio”.
Walfredo Gurgel
Já no Hospital Walfredo Gurgel, o objetivo é que, após o primeiro atendimento, os pacientes ortopédicos sejam remanejados para outras unidades de saúde de seus municípios de origem, enquanto aguardam pela realização de sua cirurgia, recebendo todo o atendimento necessário em um ambiente adequado.
“Começamos um trabalho de contra-referenciar os pacientes para suas unidades de origem, depois de uma análise médica com os ortopedistas, para que eles possam ir com segurança e aguardando a chamada, de modo que todos sejam operados. Com isso, já houve uma diminuição acentuadíssima desses pacientes que estavam nos corredores do Walfredo Gurgel”, afirma.
Além disso, a Sesap trabalha para agilizar o fluxo dos atendimentos aos pacientes que aguardam pelas cirurgias ortopédicas eletivas junto aos prestadores desse serviço ao município – o hospital Memorial e a Clínica Paulo Gurgel, em Natal – cujos procedimentos são custeados de forma compartilhada com o município de Natal, cabendo ao Estado o pagamento de 60% do valor total destas cirurgias.
Clínica Médica
Os pacientes de clínica médica também têm causado uma superlotação nos dois maiores hospitais da Região Metropolitana de Natal. Ontem (27), mais de 30 pacientes estavam internados em macas, nos corredores do Hospital Deoclécio Marques. “Nós também temos que contra-referenciar esses pacientes para as unidades de origem para elas possam manter esses pacientes lá e aqui vamos pactuar leitos de retaguarda para que esses pacientes possam ir. Essas são medidas emergenciais, mas que estão surtindo efeito de imediato”, ressalta Ricardo Lagreca.