Blog do Levany Júnior

MACAU RN-Geadas nos EUA são alternativa para produtores de sal do RN, diz sindicato

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04/12/2015 11h31 – Atualizado em 04/12/2015 11h31

Geadas nos EUA são alternativa para produtores de sal do RN, diz sindicato

Sem chuvas, produção salineira aumenta e preço da tonelada diminui.
Para o Simorsal, exportar o produto para o derretimento de neve é solução.

Anderson Barbosa e Fred CarvalhoDo G1 RN

RN é responsável por 94% de todo o sal marinho produzido no país (Foto: Anderson Barbosa/G1)

Maior produtor de sal marinho do país, o Rio Grande do Norte não vive um bom momento comercial. Se a adversidade fosse apenas a crise financeira, a alta do dólar até que seria motivo de alívio para os exportadores. No entanto, a seca, a concorrência com o sal chileno e a ausência de caminhões são os grandes gargalos do setor. E qual a solução? Para o Sindicato da Indústria de Moagem e Refino de Sal do RN (Simorsal/RN), usar o sal potiguar para derreter neve nos EUA é uma alternativa.

“Poucas chuvas e muito vento são condições climáticas que favorecem a extração do sal. Pode até parecer uma boa notícia, mas não é. Quando se produz muito, o preço do produto cai. É a velha lei da oferta e da procura. Então, a saída é exportar. E os Estados Unidos são o destino a ser conquistado. Os americanos precisam de sal para derreter neve. Mesmo produzindo 42 milhões de toneladas de sal por ano, eles ainda importam 18 milhões. Jogar sal no gelo faz com que ele derreta mais rápido, visto que a temperatura de fusão, que é a passagem da água do estado sólido para o líquido, acelera”, explica Renato Fernandes, presidente do Simorsal, em entrevista ao G1.

“No ano passado, pelo menos 16 estados americanos sofreram com fortes geadas. E não há nada melhor para derreter neve que o sal bruto, in natura. Nos anos de 2012 e 2013, não exportamos nenhuma grama para os norte-americanos. Já em 2014, por causa da neve, mandamos para lá quase 312 mil toneladas. Isso representou 46,26% de todo o sal que foi mandado para fora do país no ano passado”, acrescentou Fernandes. Nigéria e Camarões, que importaram o sal para ser usado na fabricação de ração animal e indústria química, fecharam a lista dos três principais destinos do sal marinho produzido no RN.

Quanto à produção, ainda segundo o Simorsal, o Rio Grande do Norte é responsável por 94% de todo o sal marinho produzido no país. Em 2013, o estado produziu 5,4 milhões de toneladas do produto. Rio de Janeiro (com 3,8%), Ceará (2%) e Piauí (0,15%) completam a lista dos maiores produtores. Em 2014 a produção foi de 7,5 milhões. No mercado internacional, a China é o país que mais produz sal marinho no mundo, com mais de 70 milhões de toneladas. O Brasil vem na 9ª posição.

Porto-Ilha, no RN, é o único terminal salineiro do mundo que funciona sobre uma plataforma instalada no meio do oceano (Foto: Anderson Barbosa/G1)

Produção em alta, preço em queda
Renato Fernandes lembra que, por causa da falta de chuvas, e consequentemente grande oferta de sal no mercado, o preço do produto despencou nos últimos anos no Rio Grande do Norte. Em 2011, último ano que se registraram boas chuvas no território potiguar, o estado produziu pouco menos de 5 milhões de toneladas. “Como choveu muito, produzimos pouco. Isso valorizou o produto. Naquele ano, por exemplo, a tonelada do sal extraído do mar foi comercializada a R$ 200. Hoje, após quatro anos de estiagem, a tonelada custa R$ 40. Já a tonelada do sal refinado, o apropriado para o consumo humano, chegou a valer R$ 750 em 2011. Atualmente, a tonelada é vendida a R$ 250”, revelou.

Para exportar mais, Fernandes disse que o estado também aposta na qualidade do sal. “O sal marinho que é extraído no Rio Grande do Norte tem  99,88% de pureza, o que torna o produto um diferencial. Por ser quase totalmente livre de outras substâncias, nosso sal é um atrativo para os clientes internacionais”, frisou.

No RN, apenas o sal bruto é exportado. O produto é ideal para derreter neve  (Foto: Anderson Barbosa/G1)

14 mil utilidades
O sal que é exportado não é aquele usado diretamente para consumo humano. Renato Fernandes, que também faz parte de empresas produtoras de sal marinho no Rio Grande do Norte, explica que o sal que vai para fora do país é o chamado sal grosso, com granulometria uniforme, especifico para isso. “Não aquele que usamos no churrasco. Somente para o mercado interno, após ser moído e refinado, é que o sal que produzimos, aqui no estado, vai para a cozinha das pessoas”, ressaltou.

A agropecuária e a indústria química são as que mais fazem uso do sal marinho potiguar. Juntos, os setores ficam com 59,2% de tudo o que é produzido. A indústria alimentícia utiliza 11,2%. Alimentação humana e indústria de papel e celulose ficam com 18,4% cada. Outras atividades também ficam com 11,2% da produção nacional.

“Existe um produto no mercado que diz possuir mil e uma utilidades. O que as pessoas não sabem, é que o sal marinho tem mais de 14 mil. Nós vestimos o sal. Afinal, ele é usado como fixador de tinta para roupas. Também ficamos mais bonitos com o sal, pois ele está presente na composição das maquiagens, dando vida mais longa ao blush, ao batom que as mulheres tanto adoram. Usamos o sal até quando morremos. O sal também é usado no processo de embalsamento de corpos”, exemplificou o empresário.

Porto-Ilha, no RN, é o único terminal salineiro do mundo que funciona sobre uma plataforma instalada no meio do oceano (Foto: Anderson Barbosa/G1)

Porto-Ilha, o único terminal salineiro no mundo no meio do mar
O sal marinho potiguar tem a possibilidade de sair do país de duas maneiras. Na capital do estado, a produção é escoada pelo Porto de Natal. Já no litoral Norte, a produção parte do meio do mar. Trata-se do Terminal Salineiro de Areia Branca, também conhecido como Porto-Ilha. É uma plataforma construída há 42 anos e que está fixada a 18 milhas (cerca de 14 quilômetros) da costa.

Guindaste retiram o sal das barcaças e colocam
a carga no pátio (Foto: Anderson Barbosa/G1)

Para conhecer o único terminal salineiro que fica no meio do oceano, o G1 foi até lá. Todos os dias um barco sai do porto do município levando mantimentos e funcionários. Existe uma escala de serviço. Cerca de 130 homens e mulheres, a maioria servidores da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), trabalham todos os dias na plataforma. Até chegar lá, são uma hora e meia de mar a dentro.

O Porto-Ilha, que fica a 9 metros acima do nível do mar, possui uma forma retangular. São 92 metros de largura por 166 metros de comprimento. “O sal chega por meio de barcaças. Guindastes descarregam as embarcações e depositam o sal no pátio da plataforma, que possui capacidade para até 180 mil toneladas de sal”, disse Alexsandro Lacerda, que é assessor da presidência da Codern. “E também existe uma esteira mecânica, com 430 metros de extensão, que leva o sal da plataforma até os navios”, acrescentou.

O assessor disse também que, em média, nove barcaças atracam no Porto-Ilha por dia. Cada uma carregada com até 1.800 toneladas de sal marinho. Depois de descarregado, o sal é embarcado em navios que partem para os países de destino das exportações. “Para os EUA e Canadá, por exemplo, o sal vai ser usado para derreter a neve que se acumula sobre pontes e estradas. Na África, parte é usada como ração animal e parte vai para a indústria química”, concluiu. No vídeo acima, Alexsandro dá detalhes de todo o funcionamento do terminal salineiro.

Ano passado, segundo dados da Codern, aproximadamente 1 milhão e meio de toneladas de sal partiram do Terminal Salineiro de Areia Branca. Para o mercado nacional, foram 850 mil toneladas. O restante seguiu para os EUA (311.950 toneladas), Nigéria (301.332 toneladas) e Camarões(61.000 toneladas).

Esteira com 430 metros de extensão leva o sal do pátio da plataforma até os navios (Foto: Anderson Barbosa/G1)
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