MACAU RN-Em editorial, Estadão faz campanha contra Pastoral da Juventude
do Blog do Dini
Pastoral da Juventude é vítima de campanha da mídia contra o Papa
por Arthur Gandini
“A missão não se reduz apenas a trazer os jovens
para as atividades da Igreja, mas consiste também
em despertar sua vocação e seu papel na sociedade.
Há o desafio de trabalhar a dimensão social
da fé com os jovens como um elemento da missão
do cristão. A luta pela justiça é um elemento
constitutivo da evangelização. O jovem cristão é
desafiado a trabalhar com todas as pessoas de boa
vontade — independente da sua opção religiosa
— para construir uma sociedade justa e fraterna,
uma sociedade querida por Deus. Participar da
construção de uma sociedade justa e solidária
constitui um dos objetivos da ação evangelizadora
da Igreja no Brasil. Isto inclui também o engajamento
político. 8
8 “Entre essas realidades temporais, não se pode deixar de salientar com ênfase
especial a atividade política. Esta abarca um vasto campo, desde a ação de votar,
passando pela militância e liderança em algum partido político, até o exercício de
cargos públicos em diversos níveis” (Puebla, n. 791).”
Esse é o trecho do Documento 85 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que se tivesse sido lido pelo editorialista responsável pela edição de O Estado de S. Paulo da última segunda-feira (23) – supondo-se que não existiu má fé por parte do texto – teria evitado a publicação do editorial “Menos ideologia e mais coerência” (aqui) no dia mencionado.
Isto porque o texto faz uma crítica – contraposta a orientação oficial da CNBB à participação dos jovens na vida política e com referência ao documento de Puebla, pertencente à Doutrina Social da Igreja Católica Romana – à Pastoral da Juventude por ter manifestado apoio ao governo Dilma Rousseff.
O texto, que não é assinado por ninguém como a maioria dos editoriais midiáticos, afirma que a PJ “não esconde seus objetivos políticos” e que sua posição favorável ao governo é “esquisita, tendo em vista ser de uma organização vinculada à Igreja católica. Ao menos em teoria, a Igreja católica se diz apartidária e respeitosa da liberdade política dos seus fiéis.”
Aqui, o editorialista do Estadão contraria a Doutrina Social da Igreja e o documento oficial sobre a juventude católica brasileira e coloca a manifestação de uma opinião como algo que interferiria a liberdade política da Igreja. É como se a emissão de opinião por alguém impedisse a do outro e como se a Igreja fosse não um coletivo de fiéis, o povo de Deus, mas uma instituição gigante de mármore.
O clero, sim, de fato, é proibido de ter ligação com partidos políticos. A Exortação Apostólica de Paulo VI, Evangelica Testificatio, pertencente à Doutrina Social da Igreja, afirma, por exemplo, que os religiosos “devem cooperar na evangelização do político” (528), mas sem participar da vida partidária.
A mesma isenção não é pedida dos leigos em geral, pelo contrário, conforme documento da Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano de 1979, em Puebla (México), que diz que cabe aos leigos à militância partidária (791) e a organização de partidos (524).
Mas não se precisa ir muito longe nos documentos católico romanos quando O Estado de S. Paulo critica o apoio a um partido político (PT) fundado com base católica, por meio de grupo de católicos ligados à teologia da libertação e da própria Pastoral da Juventude, que completou 40 anos de existência em 2013 e que recebeu carta de apoio do Papa conclamando, em nome de um “Cristo Libertador”, a não esquecer a “utopia” e a não dar importância ao que se fala “pejorativamente dos jovens” durante o encontro nacional desse ano (aqui).
Por trás da crítica à Pastoral da Juventude
O editorial do jornal paulistano segue a crítica contra a pastoral ao afirmar que a mesma apoia governos latino-americanos autoritários. A publicação o faz por meio de uma citação de tom irônico ao Concílio Ecumênico Vaticano II: “É um estreitamento de visão que não se coaduna com a mensagem de liberdade política e de apoio à democracia que a Igreja católica afirma ter abraçado com o Concílio Vaticano II.”
Este é o mesmo jornal que dá suporte, por meio de um noticiário sobre corrupção no plano federal que dá pouco destaque à corrupção em nível estadual pelo governo tucano (PSDB), à pressão por impeachment de uma presidente eleita há apenas dois meses.
O Estado de S. Paulo critica o concílio que foi responsável por dar um sopro progressista à Igreja Católica Romana ao abri-la ao povo dando o fim a ritos como a missa celebrada em latim e se colocando ao lado dos pobres por meio da Doutrina Social.
A Igreja possui atualmente um Papa, mas é João Paulo II que é buscado pelo editorialista no texto.
Como o próprio editorial diz, foi ele quem combateu os regimes comunistas, mas omite aqui que foi este o pontífice responsável por abafar a Teologia da Libertação na América Latina, inclusive no Brasil, afastando-se de dioceses e arquidioceses bispos e padres progressistas.
A operação causou trauma em comunidades como resume bem o jornalista Gerson Camarotti no livro “Os Segredos do Conclave” (baixe o livro aqui).
A Pastoral da Juventude, por si só, é ligada à Teologia da Libertação e quem vive a vida eclesial no Brasil sabe como ela é perseguida por padres e bispos conservadores, contrários ao Vaticano II.
O Estado de S. Paulo segue dentro de uma campanha lenta e cuidadosa da grande imprensa brasileira contra um papa que é popular e por isso possui o apoio da opinião pública (aqui).
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