Blog do Levany Júnior

MACAU-GUAMARÉ-PENDÊNCIAS-ALTO DO RODRIGUES-CARNAUBAIS-ASSU-IPANGUASSU-RN-Pesquisas eleitorais contêm ‘problemas sérios’ e deveriam ser vetadas, diz estatístico veterano

Nas últimas semanas, dezenas de pesquisas eleitorais incendiaram o cenário político, expondo uma acirrada disputa entre a candidata Marina Silva (PSB) e a presidente Dilma Rousseff (PT), e até mesmo uma recente reação de Aécio Neves (PSDB), cuja preferência de voto havia caído por conta da ascendente e fulminante chegada da ambientalista à corrida presidencial, após a trágica morte de Eduardo Campos em meados de agosto.

Esses estudos serviram de termômetro para o cenário eleitoral e foram amplamente repercutidos na imprensa, nas campanhas políticas, entre analistas, professores e, claro, por parte dos mais de 140 milhões de eleitores brasileiros. Mas, o que foi pouco falado diz respeito a quão precisos são os resultados?

O tema é espinhoso principalmente por dois motivos: um é a complexidade técnica do assunto, e outro diz respeito às discordâncias sobre a metodologia entre alguns estatísticos independentes e acadêmicos, de um lado, e estatísticos dos institutos e sociólogos, do outro. (Ver ao fim da reportagem as explicações dos institutos sobre o método aplicado)

Para o estatístico José Ferreira de Carvalho, professor aposentado da Unicamp e livre docente pela USP, além de consultor da Statistika, em Campinas, as pesquisas eleitorais contém “problemas sérios”, em grande parte por causa da margem de erro, e, por isso, deveria ser “vetadas”.

Ele sustenta que os institutos se valem de uma “amostragem não probabilística”, ou seja, a maneira pela qual os entrevistados são encontrados recai sob o julgamento do pesquisador, e não sob uma forma totalmente aleatória. Isso ocorre porque é mais rápido, barato e fácil do que realizar uma“amostragem probabilística”, na qual cada eleitor teria a mesma probabilidade de ser selecionado.

Assim, por exemplo, para preencher a quota de, digamos, 2.000 eleitores consultados, o entrevistador seria enviado para um lugar na cidade onde seria mais fácil encontrar certo tipo de pessoa buscada – faixa etária, gênero, escolaridade etc. “Tenho respeito pelo problema que eles (pesquisadores) encaram”, disse Carvalho ao Yahoo Brasil. ”Mas fazem a amostra deles apenas para preencher as quotas.”

Essa metodologia ocasionaria um grande problema na margem de erro da pesquisa (aquele dado que diz, por exemplo, 2 pontos percentuais para mais ou para menos), a qual, assim, não pode ser estipulada com precisão, constituindo um grave erro estatístico. “O erro é que é maior do que se preconiza”, afirma o veterano.

Esse embate, inclusive, já gerou problemas para o consultor, que chegou a ser processado pelo Conselho Regional de Estatística (Conre) por “improbidade profissional”. A entidade, que regula a profissão, perdeu o processo, disse ele.

Outro grande problema consiste no aval da Justiça Eleitoral às pesquisas, considerando que elas precisam ser propriamente registradas. “O fato de os tribunais registrarem as pesquisas faz com que sejam cúmplice do mal feito”, alertou Carvalho.

Institutos e alguns analistas políticos, por outro lado afirmam que as pesquisas eleitorais tem resultados comprovados, mas o estatístico é enfático: “Não está provado coisa nenhuma”.

Ele reconhece que as vezes os institutos acertam resultados, mas alertou que isso não deve ser motivo para que continuem sendo divulgados. “Cada vez que acertam, colocam isso em letras garrafais na 1a página, e quando erram deixam passar.”

Seja como for, independentemente das provas matemáticas de Carvalho a respeito dos erros das pesquisas, o fato é que elas têm muitos efeitos no processo eleitoral. “As pesquisas eleitorais são importantes para medir o retrato do momento, o grau de satisfação, a expectativa do eleitorado”, disse o analista de comunicação política Gaudêncio Torquato, da GT Consultoria. Ele falou ao Yahoo em uma entrevista no fim de agosto.

E em uma coisa eles concordam: esses estudos ajudam a moldar a decisão do eleitor.  Por exemplo, uma pessoa que não quer a reeleição de Dilma pode escolher votar em Marina por julgar que ela tem mais chances do que Aécio, que seria sua escolha inicial.

“As pesquisas eleitorais tendem a favorecer os candidatos que estão na dianteira, os quais vão encontrar mais patrocinadores. As doações serão maiores para aqueles com mais pontos nas pesquisas”, afirmou o Torquato.

Carvalho, por sua vez, quis se distanciar de mais polêmica, mas disse: “Acredito que a pesquisa manipule (a escolha do eleitor), mas não sei se (os institutos) fazem intencionalmente.”

Com o argumento nessa direção, nas eleições presidenciais de 2014 alguns candidatos presidenciais de certa popularidade, mas pior colocados nas pesquisas, como Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) têm repetidamente solicitado aos eleitores para que votem por convicção no primeiro turno, ou seja, que escolham o candidato com o qual mais se identificarem, para depois, se for o caso, escolherem o “menos pior” em um iminente segundo turno.

A cruzada de Carvalho, que se disse um militante contra as pesquisas eleitorais, já não tem mais o mesmo fôlego de anos atrás, contida pelo fraco eco de suas afirmações fora da academia, pelo processo sofrido e por ele ter mais coisa na vida para fazer.

“Não falo mais sobre isso porque já encheu a paciência”, disse ele, resignado.

É atribuído a Otto von Bismarck, líder que formou o Império Germânico do fim do século 19, a frase “se você gosta de leis e salsichas, é melhor não saber como são feitas”. Dependendo do que se escolher gostar, isso pode valer também para pesquisas eleitorais.

Funcionamento

Como funcionam as pesquisas eleitorais?

Primeiramente, todas as pesquisas são registradas no Tribunal Superior Eleitoral e as entrevistas são realizadas em todo o país.

Grosso modo, os institutos de pesquisa (Datafolha, Ibope, Vox Populi etc.) consultam poucos milhares de eleitores (o montante varia de pesquisa a pesquisa), levando em conta a diversidade de gênero, idade, escolaridade, cor, entre outros dados básicos, a fim de estabelecer comparações e relações mais amplas com o eleitorado.

A Folha de S. Paulo, divulgou uma explicação bastante simplificada do processo do Datafolha, que pode ser vista aqui.

Veja também como o Ibope explica sua pesquisa aqui e aqui.

O posicionamento mais técnico de Carvalho sobre o assunto está em um artigo publicado conjuntamente com o professor Cristiano Ferraz, da Universidade Federal de Pernambuco (UNPE), em 2006.

Para acompanhar os resultados e interpretações, acompanhe Plínio Fraga, blogueiro do Yahoo.

 

 

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