MACAÍBA RN-Funcionário da carceragem da PF é suspeito de vender dados da Lava Jato a jornalistas
“Japonês” identificado como Milton seria responsável por vender a jornalistas dados de delação premiada de Nestor Cerveró. Outra hipótese é vazamento pelas mãos de advogado do Fernando Baiano, Sergio Riera
Jornal GGN – Bernardo Cerveró e Edson Ribeiro, filho e advogado do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, respectivamente, indicaram que um funcionário da carceragem da Polícia Federal de Curitiba pode, possivelmente, ser o responsável por vender a jornalista de veículos da grande mídia, como a revista Época, informações que constariam na delação premiada de Cerveró e de outro dos principais réus e delatores da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef.
A suspeita foi levantada durante conversa que Bernardo gravou na presença de Ribeiro, do senador Delcídio do Amaral (PT) e do chefe de gabinete do petista, Diogo Ferreira. A gravação, segundo informações do portal Consultor Jurídico, foi entregue à Procuradoria Geral da República e faz parte da colaboração premiada que Cerveró assinou com as autoridades da Lava Jato.
Como o áudio revela que Delcídio tentou comprar o silêncio de Cerveró, o senador teve prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal na manhã de quarta. A Polícia Federal também prendeu o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, o chefe de gabinete de Delcídio e, à noite, informou que localizou Ribeiro nos Estados Unidos.
Por volta dos 25 minutos da gravação disponibilizada pelo portal do Estadão, Delcídio relatou um encontro com Esteves. Na ocasião, o banqueiro teria revelado, para a supresa de Delcídio, a posse de um esboço da delação premiada de Cerveró, com trechos que teriam sido anotados pelo próprio executivo e que não constavam no arquivo entregue ao senador por “Alessi”, que pode ser a advogada de Cerveró, Alessi Brandão.
Perplexo, Delcídio indicou que se sentiu “goleado” pelo nível de acesso à informação que foi dado a Esteves. A versão do banqueiro implicava Delcídio e citava “Jorge Lúcio, Jader e Renan”. O senador apontou que uma reportagem da revista Época teria sido “calcada” nas informações que constam no mesmo documento, mas que a cópia de Esteves parecia mais completa.
O filho e o advogado de Cerveró sustentaram que era costume do ex-diretor da Petrobras “complementar” as informações que seriam disponibilizadas ao Ministério Público Federal. Mas que essas anotações ficavam em posse do executivo, na “cela” em que estava retido em Curitiba, próximo a Youssef. “Esse que é o lance… O que foi vazado, a gente acha que pode ter sido vazado ali de dentro, Youssef na cela com ele, uma coisa assim”, disse Bernardo.
O advogado tentou tranquilizar Delcídio, afirmando que mesmo que as anotações tenham parado nas mãos do Ministério Público, não teriam validade até que Ceveró assinasse a versão final da colaboração premiada. E havia uma negociação que seria mantida em pé, no sentido de poupar Delcídio de qualquer acusação.
Delcídio afirmou ter lido nas anotação à mão que atribuiu a Cerveró, sem confirmação, que a presidente Dilma Rousseff (PT) tinha conhecimento sobre tudo que dizia respeito à refinaria de Pasadena. Fala semelhante foi disparada por Youssef, segundo reportagem da revista Veja, divulgada às vésperas do segundo turno presidencial de 2014.
Escuta clandestina
Sem esconder que chegou a cogitar, junto a Esteves, que o advogado e o filho de Cerveró sabiam do fornecimento de informações a outros envolvidos na Lava Jato, Delcídio afirmou que, a partir daquela conversa, acreditava mais na versão de vazamentos a partir da cela de Cerveró.
Na sequência, Bernardo lembrou: “Os caras não tinham uma escuta [clandestina] em cima da cela [do Youssef]?”. Delcídio respondeu que “alguém pegou isso aí e deve ter reproduzido. Agora quem fez isso é que a gente não sabe.” Aos 45 minutos, Ribeiro rebateu: “É o japonês. Se for alguém [da carceragem o responsável pelos vazamentos], é o japonês. (…) Ele vende as informações para as revistas”, acrescentou, com confirmação de Bernardo.
Apesar de entender a questão do uso das informações pelo MP, Delcídio demonstrou preocupação com a possibilidade das anotações cairem nas mãos de jornalistas e serem transformadas em reportagens bombas. “É uma merda, entendeu? E mexe com a cabeça…”
Bernardo identificou o japonês como Milton. Ribeiro sugeriu que se não for o japonês o responsável pelos vazamentos, poderia ser Sergio Rieira, advogado contratado por Fernando Baiano – operador do PMDB no esquema da Lava Jato – em agosto, para negociar com as autoridades da Lava Jato os detalhes de sua delação premiada.
“Traidor”
Rieira surgiu na conversa como um “traidor”, por ter usado informações que constariam na delação de Cerveró na negociação com a força-tarefa da Lava Jato para beneficiar Baiano. Contudo, Bernardo sinalizou que já havia “cortado” o canal com ele e indicou que se não o japonês da carceragem, quem poderia ter vazado as informações à imprensa seria o próprio Youssef. “O Youssef, em cada delação que ele faz, ele melhora a situação dele lá dentro”, disse Edson Ribeiro.
Nesta quarta (25), o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, comentou a “grave revelação de que André Esteves tem consigo cópia de minuta do anexo do acordo de colaboração premiada assinado por Nestor Cerveró, confirmando e comprovando a existência de canal de vazamento na operação Lava Jato que municipa pessoas em posição de poder com informações de complexo investigatório”. O magistrado chamou um “mistério” um documento sigiloso “que se encontrava em ambiente prisional em Curitiba chegou ao escritório de Esteves, em São Paulo”.
Descubra mais sobre Blog do Levany Júnior
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
Comentários com Facebook