Blog do Levany Júnior

MACAÍBA RN-A relação do uso de medicamentos psiquiátricos com massacres nos EUA

medicamentos

Informação Incorreta
Pílulas e massacres
Cada vez que houver um massacre entre civis nos Estados Unidos (nos últimos tempos quase com cadência semanal), a informação alternativa cavalga a onda das teorias conspiracionistas: é o projecto MK Ultra da CIA, é o governo que quer assustar os cidadãos para que abandonem as suas armas, etc.
Teorias se calhar fascinantes mas que apresentam todas um problema: não passam de teorias, sem uma única prova. Por exemplo: o facto de ter existido o Projecto MK Ultra não significa que seja utilizado agora com o fim de desarmar os americanos. Além disso, a ideia de que um cidadão armado possa constituir uma espécie de seguro contra as prepotência dum governo é simplesmente ridícula, em particular no País  que mais gasta no planeta em armamentos para o seu sistema militar.
Seria também interessante observar qual a relação entre massacres e vendas de armas aos privados. Não tenho dados, só a suspeita de que a leitura poderia reservar algumas surpresas.
Proponho aqui uma ideia talvez menos “conspiradora” mas que tem aos menos o mérito de ser baseada em dados objectivos, que todos podem tranquilamente conferir com uma breve pesquisa. Uma teoria que também não recorre a outras teorias para explicar os acontecimentos mas, mais simplesmente, é filha directa do Capitalismo exasperado no qual vivermos.
A lista
Qual a teoria? Muito simples. A seguir os nomes de alguns autores de massacres com o relativo medicamento psiquiátrico assumido:
• Eric Harris 17 anos (antes Zoloft, depois Luvox) 18 anos e Dylan Klebold (Massacre de Columbine, Colorado) mataram doze estudantes, um professor e feriram outras 23 pessoas antes de cometer suicídio. Os registos médicos de Klebold nunca foram disponibilizados ao público.
• Jeff Weise, 16 anos (Prozac 60 mg/dia, três vezes a dose média para um adulto), disparou contra o seu avô, um amigo do avô e colegas em Red Lake, Minnesota. Em seguida cometeu suicídio. Total: 10 mortos e 12 feridos.
• Cory Baadsgaard, 16 anos, da Wahluke High School (Estado de Washington), tomava Paxil quando com uma espingarda manteve reféns 23 colegas de classe. Não tem nenhuma memória do evento.
• Chris Fetters, 13 anos, matou a tia favorita durante o tratamento com Prozac.
• Christopher Pittman, 12 anos, matou ambos os avós enquanto tomava Zoloft.
• Mathew Miller, 13 anos, se enforcou no seu quarto depois de tomar Zoloft durante seis dias.
• Kip Kinkel, 15 anos (tomava Prozac e Ritalina), disparou contra os pais enquanto dormiam; em seguida, foi para a escola e abriu fogo matando dois colegas e ferindo 22.
• Luke Woodham, 16 anos (Prozac) matou a sua mãe e, em seguida, dois estudantes, ferindo também  outros seis.
• Um rapaz de identidade confidencial em Pocatello (anos de 1998) teve um ataque induzido por Zoloft que o levou a mostrar uma arma na frente da sua escola.
• Michael Carneal, 14 anos (Ritalina), abriu fogo contra estudantes numa reunião de oração na escola em West Paducah, Kentucky. Três adolescentes foram mortos e outros cinco ficaram feridos.
• Um jovem (identidade confidencial) em Huntsville, Alabama (Ritalina) após um episódio psicótico atacou os seus pais com um machado, matou um irmão e feriu o outro.
• Andrew Dourado, 11 anos (Ritalina) e Mitchell Johnson, 14 anos (Ritalina), dispararam contra 15 pessoas, matando quatro estudantes, um professor e ferindo outras 10 pessoas.
• TJ Salomão, 15 anos (Ritalina), estudante do ensino médio em Conyers, Georgia, abriu fogo e feriu seis colegas.
• Rod Mathews, 14 anos (Ritalina), matou um colega com um bastão.
• James Wilson, 19 anos (vários medicamentos psiquiátricos) de Breenwood, South Carolina, armado com um revólver calibre 22 matou duas meninas e feriu sete crianças e dois professores de uma escola primária.
• Elizabeth de Bush, 13 anos (Paxil), responsável por um tiroteio numa escola na Pensilvânia.
• Jason Hoffman (Effexor e Celexa), responsável por um tiroteio na escola em El Cajon, Califórnia.
• Jarred Viktor, 15 anos, após cinco dias de Paxil esfaqueou a sua avó 61 vezes.
• Chris Shanahan, 15 anos (Paxil), matou uma mulher.
• Jeff Franklin (Prozac e Ritalina), em Huntsville, Alabama, matou os seus pais com um martelo, um machado, uma faca de açougueiro, e, em seguida, atacou os irmãos e irmã mais nova.
• Neal Sulco (Prozac), Los Angeles, responsável por um tiroteio numa escola judaica, previamente submetido a outros medicamentos psiquiátricos depois de ordem judicial.
• Kevin Rider, 14 anos, estava em fase de desmame do Prozac quando morreu na sequência dum ferimento de bala na cabeça. Inicialmente tinha sido considerado um suicídio, mas após dois anos de investigação abriu-se a hipótese de assassinato. O principal suspeito, também de quatorze anos, estava a tomar Zoloft e outros antidepressivos SSRIs.
• Alex Kim, 13 anos, enforcou-se pouco depois da dose prescrita de Lexapro ter sido duplicada.
• Diane Routhier, à qual tinha sido prescrito Welbutrin por causa de cálculos biliares, matou-se seis dias mais tarde, depois de sofrer outros efeitos adversos do medicamento.
• Billy Willkomm, 17 anos, lutador e estudante da Universidade da Flórida, a quem tinha sido prescrito Prozac. A sua família encontrou-o morto por enforcamento em Julho de 2002.
• Kara Jaye Anne Fuller-Otter, 12 anos, usava o Paxil quando se enforcou num gancho do seu próprio armário. Os pais de Kara declararam: “… aquele maldito médico não quis tirá-lo (o fármaco) quando pedimos durante a segunda visita. Nós dissemos da suspeita de que ela estava a ter reações estranhas com o Paxil”.
• Christian Gareth, de Vancouver, 18 anos, estava a tomar Paxil quando cometeu suicídio em 2002.
• Julie Woodward, 17, estava tomando Zoloft, quando ele se enforcou em sua garagem.
• Matthew Miller, 13 anos, era seguido por um psiquiatra por causa das dificuldades que encontrava na escola. O psiquiatra deu-lhe Zoloft. Sete dias depois, a mãe encontrou o rapaz morto, enforcado no armário.
• Kurt Danysh, 18 anos, tomava Prozac quando matou o pai com uma espingarda. Hoje está na prisão da qual escreve cartas para advertir o mundo sobre os perigos do SSRIs.
• Woody (apelido confidencial), 37 anos, cometeu suicídio durante a quinta semana de tratamento com Zoloft. Pouco antes de sua morte, o seu médico tinha-lhe sugerido de dobrar a dose do medicamento. O único problema de Woody era a insónia. Nunca tinha estado deprimido e nem tinha qualquer sintoma de transtorno mental.
• Um menino de Houston (identidade confidencial), com 10 anos, matou os seu pai após a dose de Prozac ter sido aumentada.
• Hammad Memon, 15 anos, atirou e matou um companheiro da escola secundária. Tinha sido diagnosticado como vítima de TDAH e depressão e estava a tomar Zoloft.
• Matti Saari, estudante culinário de 22 anos, matou nove estudantes e um professor e feriu outro aluno antes de se matar. Saari tomava SSRIs e benzodiazepínicos.
• Steven Kazmierczak, 27 anos, matou cinco pessoas e feriu outras 21 antes de cometer suicídio num auditório na Northern Illinois University. De acordo com a sua namorada, estava a tomar Prozac, Xanax e Ambien. Os resultados toxicológicos mostraram vestígios de Xanax no seu corpo.
• O finlandês Pekka-Eric Auvinen, de 18 anos, estava a tomar antidepressivos quando matou oito pessoas, feriu dezenas e por fim se suicidou na Escola Jokela.
• Asa Coon, de Cleveland, 14 anos, feriu quatro pessoas antes de suicidar-se. Os documentos judiciais mostraram que assumiu Trazodona.
• Jon Romano, 16 anos, em tratamento por depressão, atirou um professor do ensino médio em New York com uma espingarda.
É possível acrescentar outras pessoas que tomavam vários medicamentos SSRIs:
• ​​Jared Lee Loughner, 21 anos de Tucson, Arizona, matou seis pessoas e feriu outras 14.
• ​​James Eagan Holmes, 24 anos de Aurora, Coloardo, matou 12 pessoas e feriu 59.
• Jacob Tyler Roberts, 22 anos de Clackamas, Oregon, matou duas pessoas e feriu outra.
• Peter Adam Lanza, 20 anos de Newton, Connecticut, matou 26 pessoas e feriu outras duas.
Então: lista comprida? Nem tanto, esta é apenas uma amostra. O site SSIRStories recolheu mais de 5.000 casos, a maior parte daqueles que ocupou as páginas dos diários, no Mundo todo ou apenas nos Estados Unidos. O facto é que uma quantidade muito significativa dos massacres nos últimos vinte anos (isso para não falar dos casos de suicídio ou tiroteios isolados) têm uma coisa em comum e não é a presencia de armas mas a utilização de psicofármacos. Praticamente todos os autores de tais actos ou estavam sob o efeito dos medicamentos ou os tinham consumido num passado recente.
As pessoas que insistem na proibição de armas de fogo ou na aplicação de restrições como razão que estão na base destes “acidentes” estão claramente a concentrar-se numa questão errada; o que é grave, porque a responsabilidade dos colossos farmacêuticos passa assim em segundo plano ou até desaparece.
As “reacções adversas”
E a propósito: estamos perante empresas farmacêuticas que deliberadamente produzem e
comercializam medicamentos nocivos e perigosos, tendo como fim provocar o caos na sociedade?
Mais uma vez, esta pode ser uma hipótese fascinante se a ideia for seguir a teoria dum obscuro enredo gerido nos bastidores por forças malvadas que querem governar o mundo. Mas a realidade é muito menos espectacular: tudo não passa do perverso efeito que tem como origem o nosso sistema do “livre mercado”.
A palavra-chave é “concorrência”. As multinacionais, longe de constituir um único cartel pacífico, tentam ocupar a maior fatia do mercado e jogam com as leis da probabilidade: enquanto sociedades cotadas nas Bolsas, são por definição criadoras e portadoras de riscos; sabem antes da comercialização até a que ponto um fármaco pode ser prejudicial, para quantas pessoas e quanto tempo antes da manifestação dos efeitos secundários.
Pegamos no caso da serotonina.
Diz Wikipedia:
A serotonina ou 5-hidroxitriptamina (5-HT) é uma monoamina envolvida na comunicação entre neurônios.
Esta comunicação é fundamental para a percepção e avaliação do meio e para a capacidade de resposta aos estímulos ambientais. Diferentes receptores detectam este neurotransmissor, envolvido em várias patologias.
A serotonina parece ter funções diversas, como o controle da liberação de alguns hormônios e a regulação do ritmo circadiano, do sono e do apetite. Diversos fármacos que controlam a ação da serotonina como neurotransmissor são atualmente utilizados, ou estão sendo testados, em patologias como a ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia, entre outras.
Todavia, este “diversos fármacos que controlam a ação da serotonina como neurotransmissor” podem também ser causa da  Síndrome da serotonina, um conjunto de sintomas resultante da estimulação excessiva de receptores serotoninérgicos centrais e periféricos, caracterizada por mudança do estado mental, anormalidades neuromusculares e hiperatividade autonômica.
Agora, é importante sublinhar como esta síndrome da serotonina não seja assim tão frequente, portanto nada de pânico. Mas existe e, estatisticamente, pode manifestar-se após assumpção das seguintes substâncias: Triptofano, Anfetaminas (incluindo “Ecstasy”), Bromocriptina, Cocaína, L-Dopa, Dextrometorfano, Nefazodona, Petidina (Meperidina), SSRIs (Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina, Citalopram, Fluvoxamina), ISRS/NA (Venlafaxina), Antidepressivos tricíclicos, Moclobemida, Tranilcipromina, Dietilamida do Ácido Lisérgico (LSD), Lítio.
Entre estas substâncias, como é possível observar, aparece a Fluoxetina (o Prozac), a Fluvoxamina (
Faverin, Fevarin, Floxyfral, and Luvox), a Setralina (Zoloft), a Paroxetina (Paxil e Seroxat), a Venlafaxina (Efferox) entre outros. São os mesmo nomes que encontramos na lista acima associados aos pacientes que cometeram actos violentos. É um mero acaso? Não, não é.
A página dedicada à Fluvoxamina (como o Luvox), de facto, reporta o conjunto de reacções adversas relacionada com esta substância:
há reacções comuns (1-10% dos casos) que incluem náusea, vómito, anorexia, nervosismo, agitação, ansiedade e outros sintomas tudo somado controláveis;
há reacções incomuns (0.1-1%) que incluem alucinações, estado confusional, hipersensibilidade cutânea, o que já é menos simpático;
há as reacções raras (0.01-0.1%) como manias, apreensões, alteração da função hepática e fotossensibilidade, que é ainda menos simpático;
e, por fim, há uma série de reacções cuja incidência é oficialmente desconhecida. E aqui fala-se de fracturas ósseas, glaucoma, incontinência urinaria, retenção urinária, pensamentos e comportamento suicida, violência contra os outros além da já citada síndrome da serotonina.
O facto destas últimas reacções apresentar uma incidência desconhecida deixa supor (mas é só uma conjectura) que o número reduzido de casos não viabilizem uma estatística fidedigna.
Todavia não podemos esquecer o volume do negócio dos psicofármacos nos Estados Unidos: há 25 anos apenas uma pessoa em cada 100 tomava regularmente estes medicamentos, hoje a percentagem subiu até uma em cada 5. Um negócio de dimensões assustadores, sobretudo se considerarmos que 72% das pessoas que utilizam psicofármacos não têm depressão nenhuma. e que estes mesmos medicamentos são responsáveis por 267.000 visitas anuais às Urgências por causa de reacções negativas.
Voltando ao volume global do negócio, é claro que até um sintoma muito raro pode tornar-se significativo perante um excesso de prescrição em sujeitos predispostos. É interessante realçar também como a idade média dos indivíduos que aparecem na lista acima seja muito baixa, pois há “síndromes” antes desconhecidas que hoje são diagnosticadas com excessiva desenvoltura: é o caso da hiperactividade (mais propriamente definida como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH).
A TDAH existe ou é uma “invenção” da Medicina? A polémica é real, pois não poucos especialistas acreditam ser este um exemplo de “excesso de medicalização do comportamento desviante” (na minha altura usava-se outra diagnose: “Esta´doente? Não, não tem vontade de estudar”). Mas, seja como for, o termo “hiperactividade” está a ser ouvido cada vez mais e a consequência é uma maciça difusão de psicofármacos entre as faixas mais jovem da sociedade. É também desta forma que uma reacção adversa particularmente rara pode tornar-se um perigo na sociedade.
Ipse dixit.
Fontes: no artigo.
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