Marcelo Lima
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As macas nos corredores não deixaram de ser a tônica do atendimento no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Seja de ambulâncias do Samu ou da própria unidade hospitalar, um número considerável de pacientes continuam a ser atendidos de forma improvisada. É o que acontece com o pai do motorista Marcelo Marques.
No domingo passado, o senhor de 55 anos teve um acidente vascular cerebral. Levado para o Walfredo Gurgel, teve a indicação para usar um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Mesmo depois de o filho Marcelo Marques iniciar um processo judicial para ter direito a UTI, o pai continua internado sobre uma maca.
“Não é uma maca do Samu porque o menino daí conseguiu uma, mas é do mesmo estilo”, contou o motorista. Outro problema que não cessou foi a falta de insumos. Na manhã desta quinta-feira (21), Marcelo teve que comprar um coletor de urina porque o hospital não tinha. “Por causa da falta disso aqui [coletor] ele pode ter uma infecção urinária”, reproduziu o que os médicos falaram. O coletor custou R$ 28,00. Segundo ele, até luvas cirúrgicas estão em falta no Walfredo Gurgel.
De acordo com o acompanhante, hoje pela manhã havia cerca de 50 pacientes em um dos corredores do principal hospital do Rio Grande do Norte. Para comprovar seu depoimento, Marcelo Marques fez um registro fotográfico com o celular e cedeu à nossa equipe de reportagem.
Samu comprometido
Uma ambulância do Samu estava parada em frente ao maior hospital do Estado na manhã de hoje. Por volta das 9h30 da manhã, o condutor do veículo de suporte básico afirmou que já estava parado ali cerca de 30 minutos.
Mas, se comparado a outros dias, essa situação não chega a ser grave. Na tarde da terça-feira passada, seis ambulâncias estavam à espera das macas que estavam dentro do Walfredo Gurgel com pacientes. Vale lembrar que o Samu Natal possui nove ambulâncias de suporte básico e três dotadas de UTI.
A técnica em enfermagem Genilda Vieira da Silva trabalha no Samu há 10 anos e foi um dos membros da equipe do Samu que ficou à espera da liberação da maca naquela tarde. “Anteontem passei a tarde todinha lá na sala da endoscopia esperando”, contou. Ainda segundo ela, ontem à noite mais três ambulâncias ficaram presas.
As equipes que permanecem na rua ficam sobrecarregadas quando isso acontece. Foi o que aconteceu com Genilda e seus colegas de equipe nesta última quarta-feira à noite. “Ontem três ficaram a noite todinha parada e a gente teve que rodar feito bicho lá na Zona Norte”, acrescentou.
Em geral, o paciente entra no hospital com a maca do Samu e quando o hospital está superlotado grande parte do atendimento ocorre sobre a maca da ambulância. Não raramente, o paciente fica internado nela. Como o Samu não pode atender outras ocorrências sem maca, os veículos ficam presos na frente do hospital à espera da liberação.
De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, as macas ainda ficam no hospital, mas por um tempo curto. Ainda segundo a assessoria, muitas vezes o paciente entra em estado gravíssimo e logo é encaminhado para realizar procedimentos urgentes sobre a maca do Samu. Mas isso não duraria mais que 15 minutos. Sobre o acúmulo de macas na terça e quarta-feira, a assessoria disse que não tinha como verificar a veracidade da informação.
Problema em rede
Em decorrência do “sequestro das macas”, as equipes do Samu Natal têm uma nova ordem. De acordo com Genilda Silva, a determinação é que o veículo volte para a base e continue o atendimento normal com uma maca reserva. Mas segunda ela, nem essa medida tem dado vencimento à situação.
E não é apenas no Walfredo Gurgel que o problema acontece. Segundo Genilda, no Hospital Doutor José Pedro Bezerra (Santa Catarina), nas UPAs e no João Machado as macas também ficam presas. “No João Machado é que acontece mesmo, porque não tem vaga aí o paciente corre o risco de ficar no chão se a gente não deixar a maca”, acrescentou.
O Governo do Estado pagou parte de uma dívida com médicos cooperados. Dessa forma, eles voltaram a realizar cirurgias ortopédicas. Esse é um dos motivos para o setor de traumas ortopédicos do Walfredo Gurgel apresentar corredores livres. Mas em outros setores o problema permanece.”Não é só por causa das cirurgias ortopédicas, é um problema muito maior”, acentuou a técnica em enfermagem do Samu.