Blog do Levany Júnior

Guamaré RN;Por que movimentos sociais não reverteram impeachment

Cientista social explica fatores do clima de derrotismo que paira entre grupos de esquerda e, ainda, o papel do PT e Temer nos conflitos sociais futurosesther_solano_movimentos_sociais
Jornal GGN – O conflito social que poderá surgir em resposta ao golpe de impeachment contra Dilma dependerá de dois fatores: de como o PT irá atuar como oposição e como Michel Temer anunciará as propostas do seu governo interino, avalia Esther Solano, cientista social e professora da Unifesp.
Para a docente não assistimos a uma atuação mais enérgica e contundente dos movimentos sociais logo após ao afastamento da presidente porque um clima de derrotismo já pairava sobre esses grupos dada a forte repercussão das acusações de crime de corrupção do seu governo pelos grandes meios de comunicação – com maior alcance sobre a população geral -, e também porque no Congresso já estava certo que o governo teria baixíssimas condições de reverter o jogo.
A única possibilidade que resta para a executiva voltar a comandar o Planalto, agora, está nas mãos do Supremo Tribunal Federal. Isso porque, no Senado, a oposição conseguiu a adesão de 55 parlamentares a favor do início das investigações, os 2/3 que precisará para a votação final do julgamento que deverá ocorrer em seis meses.
Solano destaca, ainda, e como importante fator, a falta de capacidade de Dilma de dialogar, desde o início do seu primeiro mandato, com os movimentos sociais que a elegeram, imprescindível como formuladores de opinião para grande parte da população.
“Todo mundo esperava, por exemplo, no 1º de maio e na votação do impeachment no Senado que tivesse tido uma resposta muito maior das ruas. Mas isso não aconteceu. De alguma forma, tudo mundo já assumiu que o impeachment estava aí. Não houve uma resposta mais contundente como esperávamos dos movimentos sociais”, relembra.
A fato de Dilma levar a cabo uma política liberal com a indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, recebendo críticas até mesmo de membros do próprio PT, acabou enfraquecendo mais a ligação da executiva com os grupos que a levaram ao poder, completa a pesquisadora ressaltando, em seguida, que quando as manifestações pelo impeachment começaram a ganhar destaque, graças também ao apoio massivo da mídia, o vácuo ideológico aberto pelo PT, por não saber lidar com a crise política, foi preenchido pelos movimentos organizados da direita.
“Tem um sentimento de descontentamento e muito discurso anti-PT nas periferias também, um pouco por culpa de tudo isso”, avalia Solano. A pesquisadora aponta como outro fator importante da queda do PT a demora de Lula partir para a articulação pública contra o golpe.
“Ele entrou em cena muito tarde, talvez forçado pela questão da condução coercitiva da Lava Jato. Acho que ele se sentiu pessoalmente ferido por tudo aquilo. Lula tinha um capital político e articulador muito grande e, talvez, se ele tivesse ajudado antes poderia ter salvo o governo, por conta da sua capacidade de diálogo com as ruas”, pondera.
Solano indica, portanto, que os próximos passos dos conflitos sociais dependerão de dois fatores: como o PT irá se comportar na oposição e como o presidente interino, Michel Temer, vai lançar as medidas do seu governo de transição. Em outras palavras, se o perfil de Temer for mais agressivo vai colaborar para favorecer conflitos, mas se for mais cauteloso irá conseguir segurar um pouco a insatisfação das ruas.
Durante seu discurso inaugural de posse, realizado na tarde dessa quinta-feira (12), Temer foi justamente cauteloso na apresentação de propostas. Não foi direito em relação as medidas que irá implantar, falando em “recuperação da economia” a partir da atuação conjunta entre “trabalhadores” e “empregadores”.
Já, quanto a atuação do PT, como posição, é preciso considerar que suas principais lideranças estão na mira da Operação Lava Jato, fator que poderá obrigar nomes importantes, como o de Lula, a se afastarem (coercitivamente) das ruas
Quem foi às ruas
A professora Esther Solano faz parte de um grupo de pesquisa que analisa, desde 2015, o perfil de pessoas que compareceram nas manifestações contra e a favor do impeachment. Os levantamentos mostraram que o perfil econômico-social e o grau de instrução tanto dos grupos a favor do impeachment, quanto contrários ao processo, era semelhante. Porém com duas diferenças importantes: nas manifestações pelo governo havia maior predominância de jovens e cerca de 30% formada por pardos e negros, enquanto que nos atos pela queda da presidente a população predominante era branca.
Cerca de 73% dos manifestantes pró governo diziam ter confiança em Lula, contra apenas 3% das pessoas que foram as ruas a favor do impeachment. O grupo de pesquisa também avaliou o grau de confiança nos meios de comunicação, mostrando a força da grande mídia para conseguir consolidar uma imagem negativa, tanto de Lula quanto de Dilma.
As pessoas pró impeachment disseram confiar muito nos principais veículos de comunicação do país, com destaca para a revista Veja e, ainda, para comentaristas como Raquel Sherazade e Reinaldo Azevedo, os nomes mais citados, segundo Solano. Enquanto nos grupos contra o impeachment o que se constatou foi uma baixa credibilidade da grande mídia. Esse público disse preferir se informar por meios de comunicação “da esquerda”, como Carta Capital, e estrangeiros, como o El País, além de seguir comentaristas nas redes sociais. Como exemplo, Esther Solano citou a Socialista Morena e o músico Tico Santa Cruz, dentre os nomes indicados pelos entrevistados.
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