Foto: Leonardo Aversa
O novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, que chegou à pasta na última segunda-feira, enviou à Casa Civil o nome de seus dois primeiros secretários: a amazonense Ivana Bentes, que assumirá a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, e o carioca Vinícius Wu, que ficará na Secretaria de Articulação Institucional. Em comum, os dois têm um histórico de defesa do ativismo cultural e de ataques à grande imprensa.
Até o ano passado, Ivana dirigia a Escola de Comunicação da UFRJ, e fazia uma defesa contundente do jornalismo independente, com críticas às maiores empresas de comunicação do país. Em junho de 2013, ela também somou vozes aos que se manifestavam abertamente contra os rumos do governo da presidente Dilma Rousseff. Em sua página no Facebook, Ivana escreveu que o projeto de governo era “limitado e nacional-desenvolvimentista” e que havia “um fosso entre o discurso e as políticas” adotadas. Dessa forma, Ivana defendeu que os manifestantes continuassem tomando as ruas, uma vez que “governo é que nem feijão: só funciona na pressão”.
Nesta terça-feira, ao ser confrontada com as críticas que fez à Dilma no passado, a professora negou que haja uma contradição entre o que disse e o posto que ocupará no Ministério da Cultura. Para ela, essas diferenças são, na verdade, um sinal de “amadurecimento político”.
— Sou filiada ao PT. Votei e fiz campanha pela eleição da presidente Dilma. Estamos na ponta esquerda do time que joga com ela, o que não me exime de ter um pensamento crítico e construtivo de dentro do próprio PT e do governo e apontar retrocessos. — disse Ivana. — É nossa contribuição para uma renovação e reconfiguração do campo político no Brasil e de uma esquerda global.
Ivana não esconde, no entanto, sua preferência pelas políticas adotadas no governo Lula. Promete lutar pela implementação da Lei Cultura Viva, que busca desburocratizar a prestação de contas dos Pontos de Cultura e dos agentes culturais — causa alinhada com as bandeiras de movimentos sociais como os coletivos Fora do Eixo e Mídia Ninja, que se tornaram conhecidos durante as manifestações de 2013.
Na época, a nova secretária chegou a dividir o microfone com Elisa Quadros, black-bloc popularmente conhecida como Sininho e que está foragida da Justiça. Num encontro que reuniu as duas, Ivana defendeu uma nova narrativa midiática e enalteceu o “momento extraordinário” que o Rio de Janeiro vivia, em que “a gente tem junto professores, estudantes, black blocs, sindicalistas.”
Em entrevista à revista “Cult”, em março do ano passado, Ivana disparou contra a mídia. Disse que ela “negocia denúncias, pessimismo e otimismo, reputações” e “mal disfarça a editorialização dos fatos”. O ponto mais grave, no entanto, era “interferir e direcionar fatos e investigações”.
Admiradora de Juca, Ivana também nunca poupou críticas às ex-ministras da Cultura. Para ela, Marta Suplicy e Ana de Hollanda se equivocaram na pasta:
— (Houve) Falta de uma política de participação e cogestão das políticas públicas. (Houve) Redução dos investimentos no Programa Cultura Viva e falta de sensibilidade em relação às dificuldades burocráticas enfrentadas pelos agentes culturais diante de uma máquina estatal burocratizada e que criou um clima de insegurança jurídica.
Orçamento modesto
Ivana ocupará, no entanto, uma secretaria criada em maio de 2012, por Ana de Hollanda. Com um orçamento modesto, de R$ 60,8 milhões para 2014, a Secretaria de Cidadania e Diversidade tem como principal programa o Cultura Viva, que foi criado em 2004 pelo então ministro, Gilberto Gil. Desde aquele ano, de acordo com a assessoria de imprensa da pasta, R$ 563 milhões foram investidos na criação de 4.376 Pontos de Cultura e em 172 Pontões.
— A secretaria é estratégica nesse novo entendimento expandido da cultura pensado pelo ministro Juca Ferreira. (Ele) Pensa a cultura como um direito, e na sua dimensão simbólica e econômica. Elabora políticas, programas e ações que incluem desde os povos de terreiro até a cultura digital — defende.
Vinícius Wu, que também aguarda a aprovação da Casa Civil para assumir a Secretaria de Relações Instituicionais, foi secretário-geral de governo de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul.
O Globo