Por Diogo Costa
EVOLUÇÃO DOS SPREADS BANCÁRIOS NO BRASIL – Spread bancário é a diferença entre o que o banco paga ao tomar um empréstimo e o que ele cobra ao conceder um empréstimo.
Desde sempre se ouve falar que o Brasil tem uma das maiores taxas de spread bancário do mundo, o que é absolutamente verdadeiro.
O que não se ouve, e que também é absolutamente verdadeiro, é o fato do spread ter hoje um valor menor do que a metade daquilo que era, por exemplo, em 2002.
Existe uma certa mania de se olhar a fotografia do momento sem olhar o filme de médio e longo prazos aqui em Pindorama. Daí alguém chega e diz:
“-O spread bancário médio, de 18,7% ao ano, cobrado no Brasil em 2015, é extorsivo.”
Este alguém, com evidência, está coberto de razão. Mas este alguém tem que saber da evolução da taxa do spread (sem analisar a evolução temos apenas um número solto e desconexo), até para tecer cenários futuros.
Notem, logo a seguir, que a média do spread bancário no governo Dilma – bem como a média das taxas de juros reais – é a menor das últimas décadas.
Seguem os índices anuais e a evolução da média dos spreads bancários, divulgados pelo Banco Central do Brasil¹:
2002: 42,46%
2003: 41,52%
2004: 35,56%
2005: 36,40%
2006: 34,76%
2007: 28,40%
2008: 39,98%
2009: 29,81%
2010: 23,5%
2011: 26,9%
2012: 11,5%
2013: 13,8%
2014: 14,9%
2015: 18,7%²
Não resta a menor dúvida de que o spread bancário continua alto. Também não resta dúvida de que este spread é bem menor hoje do que era no início do governo Lula.
O que de fato intriga é que no primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff a taxa real de juros e o spread bancário caíram drasticamente, o que era uma antiga reivindicação do ‘setor produtivo’.
Mesmo assim o que se viu foi uma queda constante na formação bruta de capital fixo (taxa de investimentos) a partir do terceiro trimestre de 2013 (a queda na formação bruta de capital fixo começou logo após os protestos de junho de 2013 e não parou mais de cair até hoje).
O governo federal deveria eliminar o quanto antes a política de desonerações fiscais e deveria passar a ser ele próprio o indutor da demanda.
O setor privado, mesmo com as melhores condições macroeconômicas, presentes entre 2011 e 2014, empoçou investimentos e transformou as desonerações em lucro.
Um caso emblemático é o comportamento da FIESP, por intermédio do sr. Paulo Skaf. Este ser foi a ponta de lança nas campanhas pela aprovação da MP 579 (diminuição das tarifas de energia, aprovada em 2012) e pela aprovação das desonerações fiscais nas folhas de pagamento.
A retribuição da presidenta Dilma por dar guarida e por atender aos pleitos do “setor produtivo” foi ter que ver e ouvir o sr. Skaf defender o fracassado e natimorto golpe de estado do impedimento, no final do ano passado.
Dizem alguns analistas que o CUT (Custo Unitário do Trabalho) aumentou significativamente nos últimos anos, prejudicando a competitividade da indústria e os investimentos no parque produtivo.
Essa é uma questão interessante mas é preciso dizer que o CUT atual já está mais depreciado do que estava em junho de 1994, antes da implementação do Plano Real de Itamar Franco³.
O Custo Unitário do Trabalho se valorizou no primeiro mandato de FHC (artificial paridade cambial), se desvalorizou no segundo mandato tucano e começou a se apreciar novamente em novembro de 2002.
A apreciação do CUT continuou então até o Crash de setembro de 2008.Depois desse evento houve uma rápida desvalorização e a apreciação voltou no primeiro semestre de 2009 (a apreciação retomou a sua trajetória e atingiu o pico em julho de 2011, no começo do mandato da presidenta Dilma).
Entre 2011 e 2014 houve uma queda no Custo Unitário do Trabalho – o real também se desvalorizou no período – e a partir de 2015 a queda se acentuou fortemente (a ponto de hoje termos o CUT compatível com o que tínhamos logo antes da entrada em vigor do Plano Real, como já foi dito).
Tem-se, portanto, que a questão do Custo Unitário do Trabalho, bem como a questão do câmbio, foram devidamente resolvidas no ano passado.
O hiato entre a resolução destes problemas e a volta dos investimentos é que preocupa um pouco.
Não é possível que a Formação Bruta de Capital Fixo se encontre atualmente com o péssimo índice de 10 trimestres consecutivos de queda.
¹ http://www.bcb.gov.br/?spread