RIO — Com um esquema de cobrança de propinas na Zona Oeste, a quadrilha supostamente comandada pelo coronel Alexandre Fontenelle de Oliveira, oficial formado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) que integrava a cúpula da Polícia Militar, faturou cerca de R$ 10 milhões nos últimos três anos. A estimativa foi feita pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual a partir de extratos e comprovantes de depósitos bancários apreendidos nas casas dos 24 PMs suspeitos de envolvimento com o crime organizado. Os acusados, incluindo ainda três majores e dois capitães, foram presos na segunda e na terça-feira, durante a Operação Amigos S.A., desencadeada pelo Gaeco e pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria estadual de Segurança.
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O Ministério Público (MP) estadual, que já pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal do grupo, também vai solicitar à Justiça autorização para investigar as movimentações financeiras feitas por parentes dos policiais presos. Há a suspeita de que boa parte da fortuna arrecadada no esquema de cobrança de propinas tenha sido usada na aquisição de imóveis e veículos em nome de familiares dos PMs. Promotores que acompanham o caso esperam mensurar com o máximo de precisão os ganhos obtidos pela quadrilha para solicitar o bloqueio de bens e contas bancárias. Para cumprir esse objetivo, o Gaeco vai contar com o apoio de técnicos do MP especializados em investigações de lavagem de dinheiro.
A suspeita é de que bens em nome de parentes foram comprados com dinheiro obtido a partir do recebimento de propinas. A hipótese ganhou força na terça-feira, um dia depois de agentes do Gaeco e da Polícia Civil terem cumprido mandados de busca e apreensão nas casas dos acusados. Analisando a documentação recolhida, eles descobriram grande quantidade de comprovantes de transferências financeiras para pessoas das famílias dos PMs. No apartamento do coronel Fontenelle, foram encontradas cópias de depósitos de R$ 2 milhões feitos por ele na conta-corrente de um tio, que é oficial da reserva do Exército.
O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou, nesta quarta-feira, que o suposto envolvimento de oficiais do alto escalão da PM no esquema de propinas não provocará mudanças no comando da corporação:
— Continuaremos as investigações e, se for preciso, vamos punir e fazer o movimento que tiver de ser feito, mas não haverá mudança no comando.
Ao ser ser questionado sobre a escolha de Fontenelle para a chefia do Comando de Operações Especiais da PM (cargo do qual já foi exonerado), o comandante-geral da corporação, coronel Luiz Castro, justificou:
— Não tínhamos informações que manchassem a ficha do coronel Fontenelle.