O major da Polícia Militar Edson Alexandre Pinto de Góes, subcomandante do Comando de Operações Especiais (COE), se entregou na manhã desta terça-feira na 1ª Delegacia de Polícia Militar Judiciária (DPJM), no Méier, na Zona Norte do Rio. Ele é acusado de integrar o esquema de corrupção na PM desbaratado nesta segunda-feira na operação Amigos S.A. Na casa do major, agentes encontraram R$ 420 mil em espécie e joias. Já o mototaxista José Ricardo de Jesus Oliveira, que recolhia propinas para a quadrilha e estava foragido, foi preso na manhã desta terça em uma operação na Vila Aliança, na Zona Oeste, por agentes da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança.
Integrante da cúpula da PM e um dos responsáveis pela formação de centenas de homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o coronel Alexandre Fontenelle, comandande do COE, foi o primeiro a ser capturado durante a Operação Amigos S.A. Ele ocupava a terceira posição na hierarquia da PM e era responsável pelas unidades especiais da corporação, incluindo o Bope, o Grupamento Aeromarítimo (GAM) e o Batalhão de Choque (BPChoque). Além de Fontenelle, outros cinco oficiais, 18 praças e um civil são acusados de formarem uma quadrilha que exigia propinas de donos de empresas de ônibus, motoristas de vans, mototaxistas e comerciantes em Bangu. A ação contra o grupo é o mais recente esforço para tentar acabar com o longo histórico de crimes relacionados ao batalhão da PM no bairro, um problema que existe há pelo menos 20 anos, desde a época da apreensão de listas de propina elaboradas pelo falecido bicheiro Castor de Andrade.
Em uma denúncia descrita em 150 páginas, o Gaeco definiu o “modus operandi” do bando como “forte e bem organizado”. As investigações revelaram que cada integrante do grupo tinha uma função bem definida. O esquema de cobrança de propinas teria sido estabelecido em 2010, quando os policiais envolvidos estavam lotados no 41º BPM (Irajá), e ganhado força em 2012, época em que o grupo trabalhou no 14º BPM (Bangu). Mas um papel encontrado ontem na carteira de Fontenelle levou a Subsecretaria de Inteligência a acreditar que o pagamento de propina continuava até ontem. Nele, há uma contabilidade com uma divisão de R$ 27 mil. Ao lado da quantia “10.000″, está a palavra ‘‘eu’’.
Durante buscas realizadas nesta segunda-feira, foram encontrados R$ 420 mil em espécie na casa do major Edson de Góes, além de R$ 33 mil no apartamento de um sargento. Os outros oficiais acusados de envolvimento no esquema de propinas são os majores Carlos Alexandre Lucas e Nilton João dos Prazeres Neto e os capitães Walter Colchone Netto e Rodrigo Leitão da Silva.
O subsecretário de Inteligência, delegado federal Fábio Galvão, responsável pela investigação, explicou que a megaoperação desta segunda-feira é um desdobramento da operação Compadre I, feita no ano passado, que levou à prisão, na época, 78 pessoas, entre eles 60 policiais civis e militares. A operação durou aproximadamente um ano, e o período de investigação aconteceu do segundo semestre de 2012 até o fim de 2013. Só no ano passado, a Subsecretaria de Inteligência prendeu 339 pessoas, sendo 99 PMs e 12 policiais civis. Entre as operações que se destacaram, além da Compadre I, houve também a Fortaleza, que revelou o pagamento de propinas do tráfico para policiais da UPP do Morro da Providência.
Dos 25 mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara Criminal de Bangu para a operação, 23 tinham sido cumpridos nesta segunda-feira. Ao comentar as prisões, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que as investigações sobre supostos casos de corrupção em sua pasta vão continuar.
Dois fatos chamaram a atenção da equipe que planejou a Operação Amigos S.A. O primeiro foi a nomeação de Colchone para um cargo de confiança no COE — ele já havia sido preso, no ano passado, por suposto envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. O segundo foi a descoberta de indícios de pagamentos feitos a um sargento do 14º BPM, Marcelo Valim dos Santos. Licenciado da Polícia Militar por ter sido atropelado, ele recebia dinheiro de propinas sem sair de casa. Para o Ministério Público estadual, isso comprova o nível de organização do esquema, comparado a uma empresa.
Segundo as investigações, as propinas variavam entre R$ 30 e R$ 10.400, podendo ser diárias, semanais ou mensais. Os alvos do esquema de extorsão variavam de mototaxistas a clubes, passando por lojas, motoristas do transporte alternativo e empresas de ônibus. Os policiais cobravam taxas para não fazer repressão a serviços piratas ou exigiam dinheiro para ignorar problemas com documentação. Em um grampo telefônico feito em 2012 com autorização judicial, um policial, que, segundo o Gaeco, era o major Neto, diz que operações contra vans deveriam acontecer “até alguém levantar a bandeira branca”.
De acordo com o Gaeco, os acusados responderão a inquéritos por concussão e associação criminosa armada. Se forem condenados, receberão penas que variam de dois a seis anos de prisão.
Fonte: O Globo