Blog do Levany Júnior

GUAMARÉ RN-Os delicados e incertos rumos da economia, por Rodrigo Medeiros

por Rodrigo Medeiros

As análises e os indicadores publicados recentemente apontam para um momento econômico global muito delicado. Os complexos desdobramentos do crash de setembro de 2008 ainda estão presentes e os países os sentem de formas distintas. No que diz respeito ao aprofundamento da recessão brasileira, agravado pela extensão da crise política, esses indicadores, que revelam ainda uma contração na produção de bens e serviços, sugerem dificuldades para uma retomada vigorosa e rápida no crescimento.

Em uma matéria na “Folha de S.Paulo”, assinada por Érica Fraga e Mariana Carneiro, esse debate foi bem contemplado. A matéria afirma que “o Brasil está deixando a crise para trás, mas indicadores sugerem que o ritmo da retomada será lento. Analistas do mercado financeiro preveem que a recessão deverá terminar neste segundo semestre, e o País poderá voltar a crescer em 2017” [1]. Por outros ângulos venho escrevendo sobre essa questão.

A economia brasileira vinha deslizando para baixo desde 2011 e já era possível notar que o governo federal tentava “esticar a situação anterior” a partir de 2012 com algumas medidas que hoje são tão criticadas, mas que foram apresentadas pelo empresariado (desonerações fiscais e a queda dos preços de energia elétrica, por exemplo). O efeito de histerese derivado da desindustrialização prematura já apontava desde 2014 para uma saída lenta, difícil e dolorosa da crise [2]. Por outro lado, é possível dizer que a situação tampouco se mostra tranquila no mundo em termos de crescimento, empregos e distribuição de renda.

Desde o final de 2014, estava bem claro que a desindustrialização prematura dificultaria uma rápida recuperação brasileira em um contexto no qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) chamaria, em 2015, de “um novo medíocre” em termos de expectativas de crescimento global. O economista Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro norte-americano e acadêmico de prestígio, vem defendendo a tese da “estagnação secular” e suas implicações derivadas da histerese na redução do crescimento global [3]. Pouca atenção recebeu no Brasil.

A crise política e o fim do boom das commodities afetaram a economia brasileira – paralisia de investimentos, o crescimento do desemprego e a retração do consumo das famílias. Em um contexto global de expressiva ociosidade nos sistemas produtivos tradables não commodities, deslocar competidores parece ser uma tarefa muito difícil para a economia brasileira. O FMI, por sua vez, sinaliza para o crescimento do protecionismo no âmbito do G-20 desde setembro de 2008 e a queda relativa das importações no bloco [4]. A história não terminou, ainda que haja a tentativa de se voltar no tempo. A belle époque passou e o mundo vive um interregno da crise financeira que explodiu em setembro de 2008. Conflitos e disputas fazem parte da história humana nesses tempos incertos e turbulentos.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

Notas

[1] http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/08/1803803-retomada-da-economia-brasileira-deve-demorar-anos-indica-fgv.shtml

[2] http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Desindustrializacao-histerese-e-o-complexo-debate-das-contas-publicas/7/35442

[3] https://www.washingtonpost.com/news/wonk/wp/2016/08/18/larry-summers-what-we-need-to-do-to-get-out-of-this-economic-malaise/?postshare=1061471538393761&tid=ss_tw

[4] http://blogs.wsj.com/economics/2016/09/06/trade-protectionism-risks-deeper-global-growth-funk-imf-warns/

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