Médico e cirurgião do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
Anderson Santos
Repórter
O médico Edésio Macário é um dos que atuam há mais tempo no Hospital Walfredo Gurgel. Ele foi o primeiro cirurgião de trauma da unidade, nos anos 70. Ele chegou em Natal em 1960, filho de militar, veio com sua família de Alagoas. Estudou e se formou na faculdade de medicina da UFRN , em 1971. Fez residência no Hospital Federal dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro em 1975. Começou a clinicar no Walfredo em 1° de janeiro de 1976. Em entrevista a TRIBUNA DO NORTE, o médico conta “os altos e baixos” da principal unidade hospitalar do RN e afirma: “atualmente, está muito mais baixo”.
Entenda as principais dificuldades enfrentadas pelo hospital ao longo dos anos e conheça os relatos de quem conhece a estrutura do HWG como poucos:
Quais as principais dificuldades do Walfredo Gurgel ao longo desses 43 anos?
O Walfredo vive de altos e baixos, mais atualmente está muito mais baixo, pois nunca houve um desabastecimento tão forte desde seu funcionamento nos anos 70. Naquela época funcionava apenas um andar e o número de atendimentos era baixíssimo. O hospital foi crescendo, a população aumentando e o número de leitos diminuindo. O Hospital era administrado pela fundação, depois passou para a universidade e posteriormente para o Estado. Foi ai que começou a via-crúcis do hospital. Houve um período razoável, mais ou menos entre 1993 e 1994. Nesse período o hospital viveu uma melhora bem acentuada. Esses corredores do hospital não deviam ser motivos de preocupação, pois é nele que a maioria dos problemas dos pacientes são resolvidos. Hoje, não se utiliza mais o corredor e nem se resolvem os problemas dos pacientes por vários motivos: falta de fios suturas, falta de medicamentos, falta de tudo… Se chegou a um ponto onde o juiz teve que dizer que o Estado têm que manter o hospital. Antigamente o Walfredo atendia em média 30 pacientes por dia, hoje atende 600 pacientes e o número de leitos diminuiu.
Qual a principal mudança ao longo desses anos que o senhor presenciou?
A principal mudança foi a construção dessa ala do hospital (Clóvis Sarinho). Na época tinha uma maquete da construção da expansão do hospital, muita bonita. Mas não sei o que houve que foi construída essa aberração. Eu digo essa aberração, pois no mesmo período foi construído o Hospital do Trauma de João Pessoa. Se você quiser ver como é um hospital de trauma de futuro é só ir em João Pessoa. O nosso não têm nenhum leito de internação e lá eles têm 150 leitos, numa área construída bem menor do que essa. O Hospital continua do mesmo jeito, quando foi inaugurado nos anos 70.
Qual a diferenças nos atendimentos de antigamente para os de hoje?
Sempre foi o trauma. Nós fomos o primeiro hospital de trauma do Rio Grande do Norte, o trauma era antigamente só fratura, mas agora é tudo. Antigamente chegavam aqui pessoas vítimas de facadas, feridas por arma branca. Até uns anos atrás para cada cinco pacientes, quatro eram vítimas de arma branca e um de arma de fogo. Hoje, quase não se vê mais ferimentos por armas brancas, na verdade inverteu esse quadro. Aqui no hospital quando chega alguém ferido por arma de fogo, normalmente ficam lá fora ou então vão direto para o ITEP. Agora, os acidentes de moto são os que lideram o atendimento. Quase todo dia chega um motoqueiro sem pé, sem mão. Isso devido a falta de educação no trânsito.
Quais os momentos que marcaram sua carreira aqui no hospital?
Foram vários, mas um que me lembro agora é de um paciente que caiu de um coqueiro em cima de uma estaca que penetrou no abdômen e toda a camisa entrou dentro dele. Então, o irmão dele viu o ocorrido e cerrou a estaca, colocaram ele em uma caminhonete e trouxeram aqui pra o hospital. Ele passava pelos corredores com a estaca no corpo e muita gente desmaiando. Perdeu algumas partes internas, como o baço, mas, graças a Deus, ele sobreviveu.
E coisas positivas?
Muitas. Cada paciente operado com sucesso é uma vibração. Aqui o índice de óbito cirúrgico é muito baixo. Isso é algo que me emociona, ver os pacientes curados e as famílias agradecidas. Mas cada óbito, é uma tristeza, pode ser o paciente mais idoso, pode ser a patologia mais boba.
O senhor já chegou a presenciar algum caso em que o paciente estava em um situação impossível de sobreviver?
O primeiro paciente que operei aqui no Walfredo, uma semana depois da inauguração, tinha levado uma facada no coração. Nós abrimos ele ainda no corredor, coloquei o dedo no buraco do ventrículo direito ,que havia sido perfurado pela faca, para não perder muito sangue. Levamos ele para sala onde foi suturado e quatro dias depois teve alta. O primeiro foi esse caso, ainda lembro o nome do rapaz, ‘Dedé da Macumba’. Mas houve vários outro casos, que não lembro no momento.
Qual a diferença da medicina praticada antigamente para a de hoje?
Antigamente não havia tomógrafo, o médico escutava o paciente, examinava com maior cuidado. Agora para tudo tem que ter tomografia. Para um simples diagnóstico é preciso tomografia, que devia ser um exame complementar. Basta uma boa conversa e um bom exame físico para se fazer um bom diagnóstico. O que falta hoje é examinar mais o paciente, conversar mais e prevenir mais.
Uma frase que resume esse anos de médico dentro do Walfredo?
A medicina foi tudo na minha vida, meu propósito .
Hospital
O complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel é o principal hospital de trauma do Rio Grande do Norte. Foi inaugurado em 14 de março de 1971, então conhecido como Hospital Geral e Pronto Socorro de Natal. Em 31 de março de 1973 o hospital começou a funcionar e recebeu o título atual em homenagem ao Governador Monsenhor Walfredo Gurgel. O hospital atende em média de 21 mil pacientes por mês, oriundos da capital e do interior do estado . Hoje, 43 anos depois de inaugurado, o hospital passa por diversos problemas de gestão, mas continua sendo referência no atendimento de urgência.