GUAMARÉ RN -As irregularidades incluíam o aproveitamento de animais mortos (e não abatidos) para produção de linguiça, falsos certificados sanitários e pagamento de propina aos agentes.


Por Zuenir Ventura, O Globo

Para minimizar os efeitos da Operação Carne Fraca, que revelou um criminoso esquema de compra de fiscais para liberar produtos adulterados, os frigoríficos e o próprio governo reagiram criticando a Polícia Federal por “erros técnicos” e por ter generalizado uma questão pontual, comprometendo todo um setor ao juntar o joio e o trigo, inocentes e culpados.

Os investigadores informam, no entanto, que há ainda muito material sob sigilo e que a operação, que começou há dois anos, vai ter mais desdobramentos, o que, quem sabe, viria a justificar a espetacularização de que é acusada.

De qualquer maneira, por mais desastrada que tenha sido a falha de comunicação, e parece que foi, o mais grave está no que foi comunicado, isto é, na promiscuidade entre fiscais e fiscalizados, a sujeição de uma atividade técnica aos interesses de partidos que detinham o poder de indicar, nomear, transferir e demitir.

As autoridades, porém, para preservar o prestígio do produto e a imagem do país, tiveram que continuar usando, inclusive para o mercado externo, o argumento de que tudo foi apenas um “problema pontual”, como se isso já não bastasse, como se fosse consolo dizer ao consumidor: “Você está comendo carne estragada, mas não é sempre”.

O ministro Blairo Maggi chegou a classificar de “idiotice” acreditar que as empresas misturavam papelão à carne, e ele tinha razão. Mas não pôde dizer o mesmo em relação às misturas altamente indigestas encontradas nas amostras analisadas.

O fato indiscutível é que até hoje poderíamos estar correndo esse risco sem saber, se não fossem a honestidade e a coragem do auditor Daniel Gouvêa Teixeira, que, ao encontrar “carne até em putrefação” no frigorífico Peccin, comunicou o fato ao superintendente do Ministério da Agricultura em Curitiba e, como resultado, foi punido com transferência.

Mas, mesmo assim, não desistiu e não deixou de denunciar o que via de errado, entregando à PF gravações com provas de que os chefes do serviço de inspeção faziam acerto para que a empresa continuasse atuando na ilegalidade.

As irregularidades incluíam o aproveitamento de animais mortos (e não abatidos) para produção de linguiça, falsos certificados sanitários e pagamento de propina aos agentes.

Foi Teixeira, também, quem forneceu provas das ilicitudes envolvendo a empresa Souza Ramos, fornecedora de merenda para escolas do Paraná. E foi ainda quem levantou as suspeitas de enriquecimento ilícito do então superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Paraná, Daniel Gonçalves Filho, sócio de empresas e dono de imóveis e carros de luxo, incompatíveis com a sua renda.

Ainda bem que, nesse ambiente contaminado pela corrupção, havia alguém que não desistia de dizer “não”.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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