Foto: André Coelho / Agência O Globo
O governo está preocupado com a deterioração da situação nos últimos 15 dias e avalia que está no limite para conseguir impedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na reunião comandada por Dilma com dez ministros e quatro líderes aliados no Congresso foi feita uma avaliação de que o governo perdeu a margem de votos que tinha antes do acirramento da crise política, a partir da divulgação da delação do ex-líder do governo Delcídio Amaral, e hoje teria pouco mais do que os 172 votos para conter o processo no plenário da Câmara.
Um participante da reunião contou que até o fim da semana retrasada, a conta era que o governo tinha entre 240 e 250 votos. Já na comissão especial do impeachment, o governo contabiliza apenas metade dos votos, algo entre 32 e 33 dos 65, além de dois indecisos na base aliada. Mas oposicionistas já dizem ter a maioria do colegiado pela derrubada de Dilma.
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), admitiu que o governo tem uma pequena margem de vantagem e que a tarefa agora será ampliá-la. Para isso, Dilma quer montar uma força-tarefa. O ex-presidente Lula, ainda que não consiga assumir a Casa Civil, tem papel chave para arregimentar parlamentares na guerra contra o impeachment. Os outros soldados são Jaques Wagner (chefe de gabinete de Dilma), Ricardo Berzoini (ministro da Secretaria de Governo), líderes aliados e ministros do PMDB, que foram chamados a ajudar. A própria Dilma conversará com os integrantes da comissão. A presidente pretende se reunir com integrantes do PMDB e em seguida com os do PSD, partido do presidente da comissão, Rogério Rosso (DF).
— Pelo primeiro placar, temos uma pequena vantagem, mas nada que não possa ser ampliado durante o processo de discussão. Vamos trabalhar junto a cada deputado — disse Costa.
Na reunião, também foi dado um informe sobre as atuações jurídicas para garantir a posse do ex-presidente Lula como ministro. Ele continua tentando um encontro com o vice-presidente Michel Temer, presidente do PMDB. O partido, o maior da base aliada, marcou para dia 29 uma definição sobre sua permanência no governo. Embora aliados de Dilma ainda nutram a expectativa de que o PMDB permaneça no governo, expoentes do partido garantem que o desembarque daqui a uma semana será “quase unânime”.
— Não haverá duas chapas, será chapa única. Mais de 90% do PMDB são a favor do rompimento — disse um cacique peemedebista anti-Dilma.
Situação é tida como delicada
Depois do relato que recebeu, Dilma buscou saber ontem à tarde como está o placar junto às bancadas aliadas. A presidente chamou ao seu gabinete os ministros André Figueiredo (Comunicações), do PDT; Antônio Carlos Rodrigues (Transportes), do PR; e Eduardo Braga (Minas e Energia), do PMDB. Nestas conversas, segundo relato de participantes ao GLOBO, Dilma disse saber que sua situação é “delicada” e “difícil”, mas que lutará até o fim e que não renunciará em hipótese alguma.
— A presidente quer ter clareza absoluta sobre os votos que tem na Câmara. Está serena, mas consciente que a situação não é fácil. Ela pediu apoio e que a gente converse com todos os deputados — relatou um dos participantes dessas reuniões.
Pelo PR, a presidente foi informada que enfrenta uma dificuldade significativa. Dos quatro parlamentares na comissão do impeachment, Rodrigues disse não ser possível garantir hoje, com 100% de certeza, nenhum voto a seu favor. Em plenário, dos 40 deputados, 20 são a favor do impeachment. Entre os peemedebistas, o cenário também é de divisão. Os ministros do PMDB decidirão na próxima terça-feira, após reunião do diretório nacional, que rumo tomarão.
De André Figueiredo, Dilma ouviu que os dois pedetistas na comissão do impeachment votarão contra o afastamento, e a bancada de 19 deputados, está fechada com ela. Em uma operação casada para tentar sobreviver na aguda crise política, Dilma recebe hoje no Planalto um grupo de juristas que condenam as últimas ações do juiz da 13ª Vara Federal, Sérgio Moro.
A primeira reunião após a eleição da mesa da comissão do impeachment começou conturbada ontem. Convocada para que o presidente, Rogério Rosso (PSD-DF), e o relator do processo, Jovair Arantes (PTB-GO), anunciassem o cronograma dos trabalhos, a reunião logo recebeu 17 pedidos de questão de ordem, a maioria de parlamentares do PT e partidos da base aliada, mas também do PSOL. O questionamento é sobre a inclusão da denúncia da delação premiada do senador Delcídio Amaral. Argumentam que a petição original e a denúncia acatada em plenário pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizem respeito apenas ao suposto crime de responsabilidade em razão das chamadas pedaladas fiscais, e que seria desvio de finalidade anexar outros elementos, o que também prejudicaria o direito de defesa da presidente.
PT cogita recurso ao STF
Sílvio Costa (PTdoB-PE), disse que o aditamento foi feito por “má vontade” de Cunha:
— Um médico, quando vai fazer uma cirurgia de coração, ele sabe que o diagnóstico é para cirurgia de coração. Qual foi, presidente, o motivo do pedido de impeachment? Pedalada fiscal e ponto. Aí o presidente Cunha, por má vontade, vem agora fazer um aditamento? Me parece que Vossa Excelência não é um empregado de Eduardo Cunha, tem o dever regimental de decidir.
Chico Alencar (PSOL-RJ) também criticou a possibilidade de se anexar a delação ao processo:
— Começaríamos muito mal se essa decisão do presidente Eduardo Cunha tiver amparo. Isso só pode ser um novo pedido de impeachment. Pedalada fiscal não tem nada a ver com a delação do Delcídio. Pão é pão, queijo é queijo.
Vice-presidente da comissão, Carlos Sampaio (PSDB-SP), argumentou que as novas informações não alteram o andamento do processo, já que elas não poderão, segundo ele, ser usadas como elemento de decisão.
Após a reunião da comissão, Wadih Damous (PT-RJ) disse que o PT vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal caso o aditamento da delação de Delcídio não seja anulado por Rogério Rosso.
O Globo
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