Jornal GGN – A pesquisadora Christina Vital, que estuda a atuação política dos neopentecostais, na Universidade Federal Fluminense, disse em entrevista à Folha de S. Paulo, segundo edição desta segunda (31), que o objetivo eleitoral das lideranças evangélicas é emplacar um presidente da República e influenciar no Judiciário.
A ideia, segundo ela, é tornar as pautas no Supremo Tribunal Federal – onde os ministros passam pelo crivo dos presidentes – menos inclinadas às minorias, desacelerando os debates que envolvam, por exemplo, aborto, maconha, direitos dos LGBTs.
“No nosso livro que será lançado, o pastor Everaldo falou claramente na estratégia de assumir a ‘cabeça’, falou exatamente a palavra ‘cabeça’, em uma referência à importância da ocupação da Presidência, que é por onde passa a indicação para o Supremo Tribunal Federal.”
“Desde pelo menos 2006, o Judiciário tem sido o Poder que vinha possibilitando a garantia de direitos de algumas minorias, direitos esses ameaçados, digamos assim, pelo comportamento legislativo. Os evangélicos falam de uma judicialização da política e eles estavam se organizando para combatê-la.”
Segundo ela, o candidato para 2018 ainda é Jair Bolsonaro (PSC), que consegue unificar o apoio de diversos segmentos religiosos.
Até a presidência, contudo, ainda há um longo caminho de construção política que vá além do apoio de fieis. Ela aponta que, nesse sentido, a campanha de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro é um modelo.
Isso porque Crivella – diferentemente de Pastor Everaldo, que fez questão de mostrar onde está na hierarquia religiosa em seu registro a candidato a presidente, em 2014 – lançou mão de um discurso que extrapola o nicho religioso. O mapa do desempenho do prefeito eleito nas urnas, contra Marcelo Freixo (PSOL), mostra que ele foi unanimidade em todos os municípios distantes da capital.
A vitória de Crivella, segunda a pesquisadora, cria uma “tensão” entre as várias denominações evangélicas, pois representa o poderio da Universal do Reino de Deus ante outras comunidades em ascensão, como a Assembleia de Deus, a Igreja Batista e a Sara Nossa Terra.
Ela também apontou que as lideranças do PRB não apostarão apenas em celebridades religiosas, como o sobrinho de Edir Macedo, mas também em pessoas populares como Celso Russomanno, católico.
Por fim, a pesquisadora denotou que há, ainda, “descompasso” entre os interesses das lideranças religiosas que estão na base da política e aquelas que conseguiram uma vaga no Congresso. Em sua visão, os parlamentares costumam ser mais conservadores e atendem a interesses próprios e dos partidos.
“Os evangélicos no Brasil são, em geral, contra a pena de morte, contra a ampliação do armamento e contra o Estado liberal, defendem o Estado protetor. Enquanto a maior parte dos políticos religiosos no Congresso é a favor do liberalismo. Tem um descompasso aí.”
A entrevista completa está disponível aqui.