GUAMARÉ RN -“Eleitores estão com horror aos partidos”
Entrevista – Agnelo Alves
Deputado pelo PDT
Deputado estadual reeleito pelo PDT, ex-prefeito de Parnamirim, pai do prefeito de Natal Carlos Eduardo, apontado por líderes políticos como um hábil articulador, Agnelo Alves é cauteloso na primeira análise que faz sobre o resultado do pleito potiguar, mas deixa escapar a avaliação de que os candidatos a deputado estadual e federal do palanque de Henrique Alves não priorizaram a eleição majoritária, como ocorreu, de fato, na aliança de Robinson Faria, que terminou sendo o vencedor do pleito. “Como explicar que o candidato a governador, que é sempre quem puxa o cordão, tenha chegado no final do cordão? A coligação que apoiou Henrique elegeu 16 deputados estaduais contra apenas seis eleitos pelo adversário”, observa Agnelo Alves. Ele confirma que será oposição na Assembleia, mas “sem radicalismo”. Sobre a escolha para presidente do Legislativo, ele disse que ainda não foi procurado por nenhum grupo, mas considerou natural a interferência do governador eleito Robinson Faria. Agnelo Alves avalia que a sucessão de 2016 já foi deflagrada. O parlamentar descarta o plano de disputar a Prefeitura de Parnamirim, sinaliza que já tem alguns nomes, mas prefere não citar. Confira a entrevista com o deputado estadual Agnelo Alves.
Qual a leitura que o senhor faz das urnas?
Uma leitura muito difícil porque no plano federal a crise econômica, por mais que o Governo negue, está latente e crescente, tendo em vista a confissão, sem confissão, do aumento dos juros na primeira semana, quando a presidente Dilma vinha dizendo que o juro mais baixo era do governo dela e o mais alto era do governo de Fernando Henrique. Está aí a crise instalada. Ela (Dilma) já não pode mais negar e vamos ver em que isso vai dar. E no plano estadual houve um eclipse. Alguém desligou a luz. Temos um governador eleito a quem caberá acender essa luz. Como ele vai acender e quem ele vai mostrar na claridade é que está na expectativa, não só sua, como minha e de todo Rio Grande do Norte.
Analisando politicamente o Rio Grande do Norte, o candidato Henrique Alves formou um palanque muito denso de partidos e líderes políticos. Do outro lado, havia um palanque aparentemente enfraquecido. Mas a lógica das urnas se inverteu. Por quê?
Porque o resultado foi um eclipse. Como explicar que o candidato a governador, que é sempre quem puxa o cordão, tenha chegado no final do cordão? A coligação que apoiou Henrique elegeu 16 deputados estaduais contra apenas seis eleitos pelo adversário. E federais elegeu seis e o adversário elegeu apenas dois. Robinson puxava os deputados dele estaduais e federais e Henrique aparecia no final do cordão, eu não sei se empurrando os candidatos a deputado ou os deputados querendo se livrar dele. Porque a realidade das urnas foi uma apagão que estamos esperando que Robinson acenda. E ele tem condições e deverá acender.
Com esse quadro, o que foi determinante para eleição de Robinson Faria?
Foram vários fatores. Muitos fatores, inclusive essa de que Robinson era quem aparecia unicamente do lado de lá. Você não ouvia falar quem era os candidatos a deputado estadual que o apoiava ou os deputados federais, exceto o filho dele (Fábio Faria, que foi reeleito) e o outro que veio aparecer no final com o apoio da governadora Rosalba Ciarlini, que foi o sobrinho dela (Betinho Rosado Segundo).
A governadora Rosalba Ciarlini atuou decisivamente nessa campanha?
Sem dúvida. Não decisivamente porque a maioria foi muito grande, mas deu uma contribuição verdadeiramente fantástica. Mas isso numericamente, tanto que politicamente ela não apareceu, mas como era consciente do poderio eleitoral, ela (Rosalba) se satisfez em aparecer apenas aritmeticamente.
O deputado federal Henrique Alves é um líder político, presidente estadual do PMDB, 11 mandatos na Câmara dos Deputados. Qual o futuro desse líder político agora que fica sem mandato?
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Ele é quem vai traçar, vai escolher o futuro. Henrique tem uma história que o Rio Grande do Norte não pode ignorar. Ele tem serviços prestados, tem uma gama enorme de apoios que não pode desperdiçar e, certamente, muito certamente, está todo mundo na expectativa do que ele vai fazer, como ele vai fazer e por que vai fazer.
Um ministério da presidente Dilma seria uma alternativa viável, inclusive politicamente, para ele?
Eu não creio que ele esteja contando com isso. Até porque a presidente Dilma tem que se ater a uma realidade: ela não pode governar com quem não ganhou a eleição. Ela tem que governar com quem represente a vitória dela. Agora, é bem verdade, que Henrique representa autenticamente o PMDB. Mas o PMDB historicamente é um partido dividido. Tem o que sempre apoia todos os governos e os que sempre ficam na oposição.
Analisando o cenário do eleitor de Natal, onde administra a Prefeitura Carlos Eduardo. O gestor teve quatro candidatos: o senhor a deputado estadual, Sávio Hackradt a federal, Wilma de Faria ao Senado e Henrique Alves ao Governo. Na cidade de Natal, o senhor foi o oitavo deputado mais votado, Sávio o sétimo, Wilma de Faria perdeu e Henrique Alves também. O que houve com o líder político Carlos Eduardo?
Hoje o eleitor não se sente representado através de fulano e beltrano. Ele (o eleitor) se sente representado diretamente ao candidato. Isso não significa que eu conquistei. Não. O apoio de Carlos Eduardo foi extremamente importante e creio mesmo que, se ele não tivesse apoiado os outros candidatos, eles talvez não fossem candidatos. A verdade é a seguinte: o eleitor hoje tem horror aos partidos que estão aí. Ninguém diz que é peemedebista, deinista, ou qualquer “ista”. Hoje ele (o eleitor) examina quem são os candidatos e vota nos candidatos. Ele (o eleitor) tem as preferências. Isso não significa dizer que o eleitor acerta. O eleitor tende a errar também. Veja isso o erro de Rosalba Ciarlini, o erro de Micarla, que foram candidatas e venceram a eleição com maioria expressiva de voto. Portanto, é esperar que a luz acenda e clareie o panorama local que, por enquanto, ainda está sob o efeito do eclipse.
Qual o futuro político de Wilma de Faria, que era outra expressão política e ficou sem mandato?
Não tenho o dom de advinhão. É preciso saber se ela vai reconquistar a posição que tinha antes e perdeu nesta eleição. E ela já vinha de uma derrota anterior. Então ela (Wilma de Faria) tem uma convivência com vitórias e derrotas que não a intimidam. Certamente, não reforça a posição dela como vitoriosa e não a intimida quando é derrotada. Afinal de contas ela tem a fama de ser guerreira.
Quem foi o grande vencedor dessa eleição?
Robinson (Robinson Faria). Agora se ele vai merecer, se vai corresponder são outros “500 mirréis”.
Quem foi o grande derrotado desta eleição?
Henrique. Vai ficar sem mandato pela primeira vez em 40 anos. Agora pode ser que essa derrota se transforme em vitória. Ninguém sabe, deixe a luz assumir sua claridade plena, as pessoas começarem a transitar, a reivindicar, a querer ser, a querer ter. Hoje o eleitor não se sente preso a nenhum candidato. Pelo contrário, o eleitor tem que cobrar de quem votou. E não de quem for eleito cobrar fidelidade do eleitor.
Gostaria que o senhor analisasse o seguinte cenário: o eleitor este ano impôs derrota a grandes líderes políticos como Henrique Alves, João Maia e Wilma de Faria. Por outro lado, esse mesmo eleitor tornou vitoriosos os filhos de Garibaldi Filho (deputado federal eleito Walter Alves), de Ricardo Motta (deputado federal eleito Rafael Motta), de Betinho Rosado (deputado federal eleito Betinho Rosado Segundo), de José Agripino (deputado federal reeleito Felipe Maia) e de Robinson Faria (deputado federal reeleito Fábio Faria). Foi contraditório o comportamento do eleitor?
Não é contraditório, é porque eles (os líderes políticos) só focaram mais ainda a candidatura dos próprios filhos, a exceção de Robinson Faria, que a candidatura do filho foi quem focou mais o nome dele, e Garibaldi Filho, que trabalhou extremamente por Henrique Eduardo. E Walter Pereira Alves foi eleito porque soube habilmente obter apoios necessários não só dos antigos eleitores e colégios eleitorais de Henrique, como acrescentou outros com as amizades que fez na Assembleia Legislativa. Mas isso tudo a gente ver na penumbra. A luz ainda está apagada, vamos esperar mais um pouco, não há porque ter aflição, ansiedade.
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