Blog do Levany Júnior

GUAMARÉ RN-E aí? Como vão os negócios?, por Rui Daher

– E aí? Como vão os negócios?

Não pensem me enganar dizendo que não ouvem tal pergunta com fulminante frequência.

– Mal. A crise pegou todo mundo.

Mais uma vez, desaconselho fingirem que vão sair pela direita, girarão o corpo e me driblarão pela esquerda. Fernando Henrique Cardoso tentou isso e não conseguiu.

– Se eu pudesse, saía do Brasil.

Sim, já foi mantra da direita, direção Miami. Com menor fervor, hoje em dia, ouve-se isso também à esquerda. Num planeta fulminante endireitado não creio eficiente consultar a Decolar. Ainda que o destino indicado fosse Cuba, correriam o risco de uma invasão trumpiana.

Eu sou partidário do “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. A não ser que alguém me pagasse bem para escrever de um paraíso fiscal no Caribe sobre a onomástica usada pelos milhares de brasileiros que têm contas bancárias lá. Seria muito mais engraçado que qualquer crônica do “Dominó de Botequim” (Livraria da Vila, por favor).

Daí que vou ficando por aqui mesmo, sabendo de tudo pela manchete de capa da Folha de São Paulo, que mais não preciso, fazendo Andanças Capitais por sertões, litorais, e por esta fantástica cidade de São Paulo, em breve a ser transferida para Interlagos.

Quando das andanças, até o final do dia sou homem sério. Vejam que até botas uso. A calça jeans colada ao corpo e o cinturão de dupla sertaneja ainda não adotei. A preocupação é com as cobras, embora elas sejam muito mais frequentes no escritório de São Paulo. Também mais burras, mais óbvias, fáceis de pisar na cabeça e depois limpar as fezes esmagadas.

Mas, indefectivelmente, assim escorre o dia entre visitas a fazendeiros, lojas agropecuárias, cooperativas, reuniões, palestras faladas e pouco ouvidas. Aviso: nunca uso PowerPoint. Ele pode encontrar culpados por convicções e não por fatos comprovados. Se é para mentir, melhor só falar.

É quando as perguntas “como vão os negócios” se entrecruzam com as respostas:

– “Mais ou menos … péssimos … vai-se levando … melhorou um pouquinho … sabe que não posso me queixar … uma merda … tive que demitir 10 empregados, só ficou minha sobrinha … para mim, os que ficaram terceirizei, imagina se dá para dar benefícios”.

– Pena, não? Tivemos um período muito bom de, pelo menos, 10 anos.

– Foi isso! Gastamos o que não tínhamos.

– Com quem? Pra você foi bom?

– Bem, quer dizer, não me lembro bem … pelo menos estamos botando para correr os corruptos, aquela canalha do PT.

– Só o PT?

– É o que leio e ouço do William e da Renata. Gente séria, não?

Á noite, de volta ao hotel, viro o bicho. Entendam como quiserem. Mais simples para quem lê minhas escritas, caminhada de 20 anos, sem que profissão fosse.

Primeira providência, depois das fisiológicas e higiênicas, tirar a AK-47 da mochila e completar a munição. Colocar no frigobar a seringa e a insulina do viver desde 1975. Duro de queda, hein?

Informar-me sobre qual o melhor boteco da cidade – geralmente pontos já conhecidos, onde sou saudado por proprietários, garçons e fregueses constantes.

– Como vão os negócios, professor?

– Agora, bem demais.

– O de sempre?

– Claro.

Na volta Irene, a AK-47, ri.

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