Um maratonista revelou como sobreviveu por mais de uma semana no Saara bebendo sangue de morcego e urina. Em 1994, o ex-atleta olímpico Mauro Prosperi foi um dos 80 participantes da Maratona das Areias — uma corrida de seis dias e quase 250 quilômetros pelo Deserto do Saara — considerada tão difícil, que Prosperi e os outros maratonistas foram obrigados a assinar formulários antes da prova, avisando aos organizadores se gostaria de ser enterrado caso morresse.
O italiano vinha bem na corrida e ocupava o quarto lugar quando chegou ao marrocos, mas sua sorte mudou quando ele se viu no meio de uma violenta tempestade de areia de oito horas.
— A areia atingiu o meu rosto. Era como uma tempestade de agulhas — disse ele em entrevista à rede BBC.
Subitamente Prosperi seu viu sozinho, e nos dez dias seguintes teve que sobreviver usando apenas uma faca, uma bússola, um saco de dormir, e um pouco comida desidratada em sua mochila. Prosepri lembrou-se então que a urina bem hidratada era potável e passou a guardar sua urina numa garrafa vazia. Para hidratar sua comida, o italiano também urinou sobre os alimentos, evitando usar a urina guardada para consumo.
Em seu segundo dia perdido, Prosperi avistou um helicóptero policial e lançou um sinalizador, mas os policias não viram o fogo de artifício e partiram sem saber que o italiano estava perdido nas areias.
Após dias andando, o maratonista encontrou um marabout, construção usada pelos nômades beduínos que cruzam o deserto, e ficou lá por três dias. Ao escalar a construção para fixar sua bandeira italiana no telhado, na tentativa de sinalizar sua posição para um possível resgate, Prosperi encontrou uma colônia de morcegos.
— Decidi beber seu sangue. Peguei alguns morcegos, arranquei suas cabeças e esmaguei suas entranhas com a faca, antes de beber — afirmou o italiano. — Bebi o sangue de cerca de 20 morcegos. Só fiz com ele o que eles fazem com suas presas.
Prosperi começou a se desesperar quando uma segunda tentativa de ser encontrado por um avião falhou, e o maratonista decidiu se suicidar, na esperança de que seu corpo fosse encontrado, e sua esposa recebesse seu seguro de vida. Mas quando sua tentativa de suicídio falhou, ele enxergou isso como um sinal e decidiu continuar tentando ser resgatado.
O maratonista se lembrou de um conselho que recebeu antes da corrida, e seguiu rumo às nuvens, esperando encontrar outras pessoas. Durante sua jornada ele se alimento de cobras e lagartos crus e de pequenas plantas em estiagens secas. Enquanto isso, os organizadores da maratona, juntamente com o irmão e o cunhado de Prosperi o procuravam no deserto, e encontraram vários rastros deixados intencionalmente pelo italiano, mas tinham certeza de que não o encontrariam com vida.
No oitavo dia, no entanto, a sorte de Prosperi mudou. Ele descobriu um oásis onde ficou por horas bebendo água, e no dia seguinte encontrou um grupo de mulheres numa tenda beduína, que o ajudaram e chamaram a polícia para resgatá-lo.
Policiais o disseram que ele estava na Argélia, e havia se desviado da rota e caminhado por 219 quilômetros. Em um hospital, médicos da Mauritânia, do Saara Ocidental e do Marrocos disseram a Prosperi que ele perdera 16 quilos na jornada, e pesava somente 45 quilos. Durante meses seu corpo só pode ser alimentado por líquidos, e ele não se recuperou completamente por dois anos.
No entanto, quatro anos depois, Prosperi retornou à Maratona das Areias e conseguiu vencer a prova que quase o matou. Desde então ele participou de mais oito maratonas em desertos, e em 2015 planeja correr de costa a costa no Norte da África, numa maratona de 7 mil quilômetros entre Agadir, no Marrocos, até Hurghada, no Egito.
O Globo
Blog do BG: http://blogdobg.com.br/#ixzz3KNCZ6BIJ