No alvorecer do segundo mandato de Dilma Rousseff, o governo tratou o imponderável com enorme precisão. Ao anunciar a meta anual de superávit de caixa, evitou os arredondamentos. Informou que economizaria 1,13% do PIB para pagar os juros de sua dívida. Coisa de R$ 63,3 bilhões.
Nesta quarta-feira (22), sob atmosfera de constrangimento, os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) anunciaram uma redução da meta. Caiu para irrisórios 0,15% do PIB —ou R$ 8,6 bilhões. São grandes, muito grandes, enormes as chances de o superávit chegar a zero. Pior: o superávit pode virar um déficit de até R$ 17,7 bilhões.
O que houve? Simples: o governo tomou suas decisões, apertou os botões que tinha de apertar no seu painel de controles e esperou que as pessoas, sempre tão imprevisíveis, se comportassem como o planejado.
Deu-se o seguinte: apavorados com os juros, a inflação e o desemprego, os consumidores consumiram menos do que o governo gostaria. Com o caixa minguado, os empresários se trancaram no cofre e recolheram menos impostos do que a Receita Federal gostaria de receber.
Como se fosse pouco, os aliados de Dilma no Congresso comportaram-se como adversários. Injetaram despesas novas em propostas que visavam cortar gastos. No Senado, um Renan Calheiros fora de controle, tramou o adiamento do projeto que elevaria a tributação sobre a folha salarial de 56 setores da economia.
Ou seja: o governo estava certo. As pessoas é que não cooperaram. A previsibilidade da economia só vai até onde começa o mistério do comportamento humano. Quem poderia imaginar, por exemplo, que Dilma Rousseff deixaria como legado para si mesma uma economia tão estraçalhada e difícil de consertar?
JOSIAS DE SOUZA
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