Na idade onde a maioria das pessoas pensa em se aposentar, uma moradora de Itanhaém, no litoral de São Paulo, resolveu “iniciar a vida”. Aos 65 anos, Lydia da Silva Gonçalves começou a estudar, se alfabetizou e, em seguida, virou estudante universitária. Após se graduar em pedagogia, ela lançou livros e abriu uma biblioteca comunitária na garagem da própria casa. A história de superação começou após a idosa sofrer um golpe.
Lydia conta que não teve oportunidade de estudar quando era pequena. Ela decidiu ir para a escola com mais de 60 anos por um motivo muito forte. “Meu pai faleceu e deixou umas terras para mim. Enquanto resolvia os documentos, o advogado fez eu assinar um papel em que eu cedia 50% das terra para ele. Não sabia porque era analfabeta. Ainda luto por isso na Justiça. Mas, a partir de então, decidi que precisava aprender a ler e escrever”, afirma.
(Foto: Divulgação / Prefeitura de Itanhaém)
A vontade de aprender foi muito além da alfabetização. Lydia iniciou a escola para adultos, começou na primeira série e concluiu o ensino médio. Em seguida, prestou vestibular e começou a faculdade de pedagogia. “Eu era uma aluna que dava trabalho ao professor. Ficava no pé dele todo o dia. Voltava para casa de ônibus, era longe, chegava à meia-noite. Corria atrás do meu sonho. Quando a gente quer algo, tudo é possível”, relata.
Pedagoga formada e com 77 anos atualmente, Lydia Gonçalves não parou de se dedicar após a faculdade. Apaixonada por poesias, ela já lançou dois livros. “Já li centenas de livros e dou palestras. Antigamente as pessoas não me enxergavam. A pessoa sem leitura não é nada, é cega. Eu tento passar isso para as crianças e os adultos. A maioria das pessoas do meu bairro não sabem ler”, afirma Lydia.
Como parte do sonho, a idosa montou na garagem da própria casa uma biblioteca comunitária, que já conta com mais de 1300 obras. “Abri a biblioteca na garagem e conto com a doação de livros. Faço uma parceria com a biblioteca municipal de Itanháem e com a Academia de Letras da cidade, a qual eu faço parte. Todo mundo pode chegar e pegar um livro para ler. Além disso, também auxilio as crianças do bairro com as lições de casa. Elas podem vir aqui à tarde que eu dou reforço. O livro é o melhor bem que se pode ter. O estudo ninguém pode roubar de você”, afirma a pedagoga.
O próximo passo, segundo Lydia, será cursar a faculdade de Direito. Ela afirma que fará o vestibular nos próximos dias. “Quero fazer Direito para lutar pelas crianças. Comecei a viver aos 65 anos de idade. Eu era excluída do mundo. Ninguém te ouve, ninguém te dá crédito. Pretendo ajudar quem precisa. Passarinho na gaiola não conhece o infinito. Eu voei ate o infinito”, finaliza.