A delegada da Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil, Patrícia Aguiar, afirmou nesta quarta-feira (27) que foi o adolescente de 16 anos apreendido na semana passada quem esfaqueou o médico Jaime Gold, de 57 anos, durante assalto na Lagoa no último dia 19.
Segundo ela, o adolescente de 15 anos apreendido nesta quarta por envolvimento no crime confessou ter participado do assalto, mas acusou o outro menor de ter atacado o ciclista. Mais cedo, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SPDS) chegou a divulgar que o adolescente de 15 anos havia confessado ter dado as facadas no médico, segundo a família dele. A informação foi corrigida posteriormente pela delegada.
“O primeiro menor [de 16 anos] foi quem deu as facadas”, afirmou Patrícia. “Para a polícia, o caso está encerrado. […] Não há menor dúvida da participação dos dois neste crime”, completou.
Provas ‘robustas’
Segundo a delegada, embora o adolescente de 16 anos negue reiteradamente ter envolvimento no caso, as provas são robustas contra ele. “Há testemunha, imagem e a confissão do segundo adolescente”, disse, destacando que a testemunha “teve visão perfeita de quem estava conduzindo a bicicleta”.
Ainda de acordo com Patrícia, o menor de 16 anos pedalava e o de 15 estava sentado sobre o quadro, virado para a Lagoa. Em seu depoimento, o mais novo disse que abordou o médico anunciando o assalto e que o mais velho atacou a vítima com três facadas.
“Ele disse que o médico reagiu, mas essa suposta reação foi a do médico se postar para frente na bicicleta. O primeiro menor já foi logo esfaqueando a vítima”, afirmou a delegada.
O adolescente de 15 anos chegou por volta das 17h30 à delegacia na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, acompanhado de um irmão e da mãe, que foi quem decidiu denunciá-lo à polícia.
Antecedentes
Patrícia Aguiar disse que os dois adolescentes são de comunidades vizinhas, que se conhecem e praticam roubos na Zona Sul “praticamente diariamente”. No caso do médico, o adolescente de 15 anos afirmou à polícia que foi a segunda vez que a dupla saiu para roubar e a primeira vez que ele participou de um assalto com faca.
O menino de 15 anos foi quem teria ficado com a bicicleta roubada de JaimeGOLD
Mãe denunciou
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social afirmou que foi a mãe do menor de 15 anos quem decidiu denunciá-lo e que ela está muito abalada com o envolvimento do filho no crime.
O garoto cursa o oitavo ano da Escola Municipal Uruguai e está em liberdade assistida. Neste ano, ele cumpriu medida socioeducativa por furto durante 45 dias no Centro de Socioeducação Dom Bosco, o antigo Instituto Padre Severino (IPS).
A delegada Patrícia Aguiar disse fazer questão de destacar a postura da mãe do adolescente. “É uma mulher de fibra, de coragem, que apresentou o filho dela diante das nossas diligências”.
Segundo a delegada, a mãe do garoto procurou a assistência social da prefeitura depois que o filho confessou a ela ter participado da morte de JaimeGOLD
Em abril, quando passou a valer a liberdade assistida, ele apareceu para cumprir a medida socioeducativa. Em maio, não apareceu mais – a mãe foi em seu lugar.
O adolescente chegou à DH acompanhado do subsecretário de Proteção Social Especial, da SMDS, Rodrigo Abel.
Pedido de ajuda
De acordo com a SMDS, a mãe e o padrasto moravam com o menino no Arará, mas o menor teria se envolvido em crimes e foi morar no Jacaré, com o pai. Na segunda-feira (25), o adolescente ligou para a mãe dizendo estar muito assustado, dizendo ter feito “uma coisa errada” e teria relatado como ocorreu o crime na Lagoa.
Nesta quarta, avó e pai do menino procuraram o Conselho Regional de Serviço Social (Cress), no Rio Comprido, que decidiu encaminhar o menino para a DH.
No caminho, ele disse que teria jogado a faca do crime no Rio Maracanã, em frente ao Cefet. A equipe da polícia chegou a parar no local, mas não encontrou o objeto.
Assalto e morte
O crime ocorreu na noite de 19 de maio.GOLD
Dois dias depois, a polícia apreendeu um adolescente de 16 anos. O garoto não confessou o ataque ao médico, mas teria admitido praticar roubos de bicicletas na orla da Lagoa para revendê-las em comunidades de Manguinhos, no subúrbio.
Nesta quarta, o adolescente de 16 anos foi ouvido pela Justiça e voltou a negar envolvimento no caso. Família e defesa afirmam que ele estava em casa quando Gold foi morto.
“A comunidade confia na inocência dele”, afirmou o advogado Alberto Junior. Em até três dias, testemunhas de defesa serão convocadas para prestar esclarecimentos.
Na audiência desta quarta, o juiz definiu que o adolescente seguirá detido em um abrigo do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase). Ele já havia sido apreendido 15 vezes, por delitos diversos, mas nunca ficou internado.
Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, o menor apreendido já chegou a frequentar a escola e tinha boas notas mas, em 2012, discutiu com um professor e não voltou mais. O Conselho Tutelar chegou a acionar a família dele, mas ninguém apareceu.
A juíza Cristina de Araújo Goes, da Vara da Infância e Juventude da Capital, marcou para o dia 17 de junho, às 13h, uma audiência de continuação para ouvir as testemunhas de acusação e defesa do processo que apura a morte do médico JaimeGOLD
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