FOTOS IMAGENS-Voluntários contam por que ajudam na limpeza de praias atingidas por óleo no Nordeste e relatam o que viram no local


As dezenas de praias do Nordeste atingidas por manchas de óleo desde 30 de agosto contam com voluntários que ajudam na limpeza das áreas atingidas. Até a última atualização desta reportagem, 200 localidades em 78 municípios de 9 estados haviam sido afetadas. O fenômeno afeta a vida de animais marinhos e causa impactos nas cidades litorâneas.

De acordo com o professor de biologia e médico Fernando Beltrão, não há riscos para quem entra em contato com o material na água. Ele aponta, no entanto, que é preciso ficar atento se o contato ocorrer na areia – o material pode chegar a queimar, já que se trata de óleo quente. Entre os problemas que podem ocorrer, estão dermatite e elaioconiose (um tipo de cisto de obstrução dos poros).

G1 fez duas perguntas a voluntários:

  1. Por que você veio?
  2. O que você viu?

Leia, abaixo, as respostas:

Joab Santana, de 47 anos, agente comunitário de saúde

Participou da limpeza do estuário do Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE)

Joab Santana, de 47 anos, se voluntariou para tirar petróleo do estuário do Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE)  — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de TamandaréJoab Santana, de 47 anos, se voluntariou para tirar petróleo do estuário do Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE)  — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de Tamandaré

Joab Santana, de 47 anos, se voluntariou para tirar petróleo do estuário do Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE) — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de Tamandaré

“Por morar em Tamandaré [Litoral Sul] há mais de 30 anos, não consegui ficar de fora de uma ação contra esse problema. É um dos maiores desastres ambientais do mundo. Eu vi os estuários dos rios afetados. E, infelizmente, essa recuperação é muito lenta. Acho que vou morrer e não vou ver meio ambiente livre desse óleo.”

Jaílson da Silva, de 43 anos, eletricista

Participou da limpeza do Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE)

Jaílson da Silva, 43 anos, eletricista, atuou no Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE) — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de TamandaréJaílson da Silva, 43 anos, eletricista, atuou no Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE) — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de Tamandaré

Jaílson da Silva, 43 anos, eletricista, atuou no Rio Mamucabas, entre Tamandaré e Barreiros (PE) — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de Tamandaré

“Essa [Rio Mamucabas] foi uma das áreas mais atingidas pelo óleo. Foi um pedido de socorro feito pelo meio ambiente que me levou a sair de casa para trabalhar aqui. A gente está arriscando a vida para remover o óleo. Foram mais de três toneladas nessa área, só hoje [segunda-feira, 21 de outubro]. Vi um desespero grande das pessoas para ajudar a vida marinha e o ecossistema. Também vi as pessoas sem suporte e o mangue muito poluído, pedindo socorro.”

Dário Carlos da Paciência, conferente de logística

Participou da limpeza de praias em Cabo de Santo Agostinho

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Voluntário coberto de óleo fala sobre ações nas praias de Cabo de Santo Agostinho

Voluntário coberto de óleo fala sobre ações nas praias de Cabo de Santo Agostinho

“Moro em Prazeres [Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife] e minha família mora aqui no Paiva [Cabo de Santo Agostinho]. Quando vi a situação por fotos nas redes sociais, decidir vir aqui para dar a minha força. Desde cedo tinha muita gente. Quanto mais ajuda melhor, as manchas de óleo estão muito grandes. Muito óleo e muito denso. Quando pega a substância, ela se parte.”

Édson Santos Silva, de 32 anos, bombeiro civil

Participou da limpeza de áreas em Tamandaré (PE)

Édson Santos Silva, 32 anos, bombeiro civil que se voluntariou para recolher óleo em Tamandaré (PE) — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de TamandaréÉdson Santos Silva, 32 anos, bombeiro civil que se voluntariou para recolher óleo em Tamandaré (PE) — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de Tamandaré

Édson Santos Silva, 32 anos, bombeiro civil que se voluntariou para recolher óleo em Tamandaré (PE) — Foto: Manoel Pedrosa/Prefeitura de Tamandaré

“Muita gente depende desse manguezal para viver. Eu vi que o óleo tem um cheiro muito forte. Também vi animais prejudicados e o medo das pessoas que dependem do mangue para sobreviver.”

Rafael Fonseca, de 36 anos, analista e integrante do grupo Guardiões do Litoral

Participou da limpeza na praia de Barra do Jacuípe, em Camaçari (BA)

O analista Rafael Fonseca, de 36 anos, que é integrante do grupo Guardiões do Litoral e trabalhou como voluntário na praia de Barra do Jacuípe, em Camçari (BA), para limpar as manchas de óleo — Foto: Arquivo pessoalO analista Rafael Fonseca, de 36 anos, que é integrante do grupo Guardiões do Litoral e trabalhou como voluntário na praia de Barra do Jacuípe, em Camçari (BA), para limpar as manchas de óleo — Foto: Arquivo pessoal

O analista Rafael Fonseca, de 36 anos, que é integrante do grupo Guardiões do Litoral e trabalhou como voluntário na praia de Barra do Jacuípe, em Camçari (BA), para limpar as manchas de óleo — Foto: Arquivo pessoal

“Eu estou sempre no mar. Sou um cara que estou sempre ligado ao mar, pego onda. Então, hoje foi um dia que eu estava de bobeira, em casa, sem trabalhar, e vim ajudar. Meu colega pediu, porque está precisando de muita gente. Eu vejo que tem muito pouca gente consciente da situação, da tragédia que foi. Então, a cada semana que passa a gente consegue mais voluntários.”

“A luta é diária. A situação, quando a gente pensa que está melhorando, ela piora. É ficar ligado que o óleo está na água e ela vai bater na costa de qualquer jeito. É ficar ligado para ajudar.”

Miguel Sehbe Neto, de 37 anos, administrador e integrante do grupo Guardiões do Litoral

Participou da limpeza na praia de Barra do Jacuípe, em Camaçari (BA)

O administrador Miguel Sehbe Neto, de 37 anos, que é integrante do grupo Guardiões do Litoral e trabalhou como voluntário na praia de Barra do Jacuípe, em Camçari (BA), para limpar as manchas de óleo — Foto: Arquivo PessoalO administrador Miguel Sehbe Neto, de 37 anos, que é integrante do grupo Guardiões do Litoral e trabalhou como voluntário na praia de Barra do Jacuípe, em Camçari (BA), para limpar as manchas de óleo — Foto: Arquivo Pessoal

O administrador Miguel Sehbe Neto, de 37 anos, que é integrante do grupo Guardiões do Litoral e trabalhou como voluntário na praia de Barra do Jacuípe, em Camçari (BA), para limpar as manchas de óleo — Foto: Arquivo Pessoal

“A gente vive um momento em que é fundamental que a gente dê exemplo. Essa situação impacta diretamente no meio ambiente, e o meu objetivo ao me voluntariar e fazer parte desse movimento é de reduzir esse impacto. Eu tenho responsabilidades, questões de trabalho, mas eu tenho dividido a minha rotina para tentar minimizar isso [o impacto do óleo] junto com o grupo de voluntários.”

“Nos últimos dez dias, algumas praias tiveram um cenário mais intenso, e o grupo atuou para resolver, junto com órgãos competentes. O cenário hoje é de que na Linha Verde, ao norte de Salvador, tem nova incidência de óleo. E ao sul também, como Morro de São Paulo, Guarapuá. Então, a gente está fazendo um monitoramento de todas as praias. A gente tem lideranças espalhadas no intuito de mapear onde chegam as manchas de óleo e atuar de forma rápida. Uma vez que a gente não atue de uma forma rápida e eficiente. essa mancha volta para o mar e vai para em outra praia.”

Ariel Dantas, estudante de biologia

Participou da limpeza da praia da Cinelândia, em Aracaju

A estudante de biologia Ariel Dantas (de camiseta azul), que participou da limpeza da praia da Cinelândia em Aracaju — Foto: Arquivo pessoalA estudante de biologia Ariel Dantas (de camiseta azul), que participou da limpeza da praia da Cinelândia em Aracaju — Foto: Arquivo pessoal

A estudante de biologia Ariel Dantas (de camiseta azul), que participou da limpeza da praia da Cinelândia em Aracaju — Foto: Arquivo pessoal

“Vi que as equipes que trabalham na limpeza são pequenas em relação ao volume de manchas, que prejudicam os animais e a vida de quem vive da pesca, além do comércio, que também foi impactado. As pessoas não estão informadas. Vi crianças tomando banho, pessoas tendo contado com as manchas. As praias não estão sinalizadas com informações de que o contato com as manchas deve ser evitado.”

Erasmo Rocha, educador ambiental

Participou da limpeza das praias de Maragogi (AL) e Japaratinga (AL)

O educador ambiental Erasmo Rocha, que faz ações voluntárias retirando óleo das praias de Maragogi e Jarapatinga, em Alagoas — Foto: DivulgaçãoO educador ambiental Erasmo Rocha, que faz ações voluntárias retirando óleo das praias de Maragogi e Jarapatinga, em Alagoas — Foto: Divulgação

O educador ambiental Erasmo Rocha, que faz ações voluntárias retirando óleo das praias de Maragogi e Jarapatinga, em Alagoas — Foto: Divulgação

“Aqui [a praia] é o lugar onde eu vivo com a minha família e trabalho. De onde tiro meu sustento e onde me divirto, recebemos meus amigos. Não há como ver todo o desastre e ficar parado. Todo mundo tem que se envolver, porque a situação é séria. […] Estou horrorizado com esse desastre! Sou otimista, mas a situação é desesperadora. O que sei é que serão anos para deixar as praias perto do que eram, saudáveis de novo. Limpamos as praias hoje e, no outro dia, tudo se repete. Mais óleo chega, fragmentado e sujando tudo.”

Flávio Marcel, autônomo

Participou da limpeza da praia de Cinelândia, em Aracaju

O voluntário Flávio Marcel, com o braço erguido, é um dos que ajudam a limpar a praia Cinelândia, em Aracaju — Foto: Arquivo PessoalO voluntário Flávio Marcel, com o braço erguido, é um dos que ajudam a limpar a praia Cinelândia, em Aracaju — Foto: Arquivo Pessoal

O voluntário Flávio Marcel, com o braço erguido, é um dos que ajudam a limpar a praia Cinelândia, em Aracaju — Foto: Arquivo Pessoal

Percebi que o efetivo para fazer a limpeza das praias seria pouco. Logo quando as manchas chegaram em Aracaju, elas estavam mais densas e facilitava. Agora isso mudou, e os pedaços estão pequenos, o que requer muito mais trabalho. E isso ainda facilita a ingestão pelos animais. Esses fragmentos expostos ao sol derretem na água e na areia, gerando um impacto muito maior.”

Isac da Silva, morador de Maragogi (AL)

“A gente vive das praias e ver ela sendo poluída desse jeito nos deixa bastante tristes. O pessoal tá bem mobilizado por aqui, quando alguém tá de folga sempre vem pra cá ajudar, depois do trabalho, a gente se junta de noite, de dia e a qualquer momento. Uma imagem que nunca vou tirar da cabeça é a de uma tartaruga que resgatamos coberta de óleo, agonizando, quase morrendo asfixiada de tanto óleo. Isso é muito triste.”

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