Um vazamento de gás dentro do complexo do Porto de Santos liberou uma nuvem tóxica que atinge cidades do litoral de São Paulo. Até as 21h desta quinta-feira (14), 52 pessoas, dentre elas duas crianças, já haviam procurado atendimento médico em hospitais da região com irritação nos olhos e problemas respiratórios.
O Corpo de Bombeiros registrou o vazamento na área da Localfrio, no Terminal 1 do porto, que fica no Distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá. Apesar de a nuvem de fumaça já atingir as cidades de Guarujá e Santos e testemunhas afirmarem ter visto fogo no local, apenas o Terminal 1 está fechado – o fluxo das demais áreas do complexo não foi afetado. A rodovia Padre Manoel da Nóbrega, que liga Santos ao Guarujá, está liberada.
A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), responsável pela área, afirma que se trata de um vazamento de ácido dicloro isocianúrico de sódio, nome comercial do composto dicloroisocianurato de sódio (C3 O3 N3 NaCl2). Ainda de acordo com a companhia, um incêndio ocorrido posteriormente atingiu outros 12 contêineres e a área foi isolada. Pouco antes, os bombeiros chegaram a afirmar que a substância que vazou tinha características de amônia, mas a informação não se confirmou.
Em função de a fumaça estar invadindo o Pronto Socorro de Vicente de Carvalho, os pacientes lá internados estão sendo transferidos, juntamente com as equipes e ambulâncias, para a UPA Boa Esperança, na Rua Alvaro Leão de Carmelo, onde a Secretaria de Saúde de Guarujá afirma que os pacientes terão tratamento especializado.
As 52 pessoas atendidas apresentaram ardência nos olhos ou mal-estar ocasionado pela fumaça. Desse total, 30 foram para a UPA de Vicente de Carvalho, seis para a UPA Boa Esperança, 15 para o Pam Rodoviária e uma para o Hospital Guarujá. Apesar do transtorno, as vítimas não correm risco de morte.
Segundo Flavio Zambrone, médico toxicologista e professor aposentado da Unicamp, “esse produto é extremamente tóxico”. Ele produz irritações de pele e de olhos e, caso seja inalado, causa irritação também nos pulmões. “É um produto à base de cloro. Ele é estável, mas tem alto teor de cloro, que se dissolve na água. Por isso, outro problema será a questão ambiental que virá depois”. Segundo o professor, o produto é usado na maioria das vezes em desinfecção de água, mas em grandes quantidades passa a ser tóxico.
Início do vazamento
O incidente ocorreu por volta das 15h30 e a fumaça rapidamente se espalhou pela cidade de Guarujá. Fotos registradas por moradores mostravam a Avenida Santos Dummont, a principal do município, coberta por uma névoa. Vários moradores recorreram a equipamentos de proteção. “As máscaras acabaram nos postos e nas farmácias. Consegui pegar uma das últimas. Tem muita gente passando mal por causa da fumaça”, afirmou a doméstica Maria Rita.
O engenheiro Felipe Pavan, de 27 anos, que trabalhava na Santos Brasil no momento do acidente, conta que ninguém entendeu o que estava acontecendo quando o produto começou a vazar. “Fomos orientados a ir ao local de resgate. O problema é que estava tudo tomado por fumaça. Depois orientaram a sairmos por outra área. Nos disseram que era amônia e nitro alcool. Nunca tinha visto uma emergência dessas”, disse.
Segundo a assessoria de imprensa da Localfrio, o contêiner que armazenava o ácido foi invadido por água, gerando uma reação química que pode colocar em risco a saúde das pessoas que entrarem em contato com a névoa.
Paulo (Foto: G1)
A empresa acionou um plano de auxilio mútuo. Até o momento, não há informações sobre feridos e a situação não está controlada.
A assessoria de imprensa da Dersa, empresa responsável pelas travessias entre Santos e Guarujá, afirma que a travessia de pedestres entre Vicente de Carvalho e a Praça da República foi temporariamente suspensa, mas liberada cerca de uma hora depois.
Em nota, a administração municipal afirma que a prefeitura está trabalhando em conjunto com agentes da Defesa Civil Estadual, Corpo de Bombeiros, Exército e secretarias de Saúde, Meio Ambiente, Governo e Defesa Social e monitorando a situação.
após vazamento (Foto: Reprodução/TV Tribuna)
A orientação é para as pessoas que moram em um raio de até 100 metros próximo ao local – ou seja, pessoas que residem no quadrante das avenidas Alvorada, Adriano Dias dos Santos, Santos Dumont e Rua Santidade Papa Paulo VI, além do Sitio Conceiçãozinha – procurem a casa de amigos ou parentes.
Quem precisar de atendimento médico por irritação nos olhos, dificuldades de respirar, tontura ou náuseas deve procurar somente as UPAs Boa Esperança, Rodoviária e Enseada.
A prefeita de Guarujá, Maria Antonieta de Brito (PMDB), pediu para os moradores não saírem de casa e ordenou a evacuação dos três quarteirões próximos ao local do acidente.
“A situação é grave. Quem está nos quarteirões próximos ao local deve deixar as casas imediatamente. Os moradores precisam ir para a casa dos vizinhos e ficar longe do local da explosão. Quem estiver em casa, a orientação é pegar panos secos e colocar nas portas e janelas. Não saiam de casa. Se o morador se sentir mal deve procurar a UPA imediatamente. Cuidado com a chuva, porque ela contém elementos químicos e pode queimar a pele”, afirmou a prefeita.