ais de oito anos após o início das obras, a Refinaria Abreu e Lima, em Suape, no Litoral Sul de Pernambuco, ainda não foi concluída. Das duas unidades de refino, cada uma com capacidade de processar 115 mil barris de petróleo por dia, apenas uma ficou pronta. Com isso, a produção diária atual é de cerca de 100 mil barris, ainda distante da promessa do refino de 230 mil barris de petróleo por dia. [Veja vídeo acima]
De acordo com a Petrobras, a obra já custou US$ 17,8 bilhões aos cofres públicos, e, para ser concluída, está previsto o gasto de mais de US$ 1 bilhão, elevando o valor total da obra para US$ 18,9 bilhões, o que equivale a R$ 66,5 bilhões. Ainda segundo a estatal, a Unidade II da Refinaria Abreu e Lima está 79% concluída, mas deve ficar pronta apenas em dois anos.
Construída junto à Petroquímica e ao Estaleiro Atlântico Sul, a refinaria surgiu com a promessa de mudar o perfil econômico da região, colocando Pernambuco e o Porto de Suape no centro das atenções dos investidores. Mas a obra parece não ter fim.
No pátio da segunda unidade da refinaria, há sinais de abandono e ainda é possível encontrar materiais de construção espalhados. Pelo terreno, ainda existem tubos metálicos, estruturas de andaime e material de construção a céu aberto, como bobinas de cabos elétricos. Blocos administrativos foram erguidos, mas estão sem acabamento.
Histórico da obra
Em 2005, foi anunciado que a Refinaria Abreu e Lima sairia por US$ 2,4 bilhões e seria construída pela Petrobrás e pela estatal de petróleo da Venezuela PDVSA. Em dezembro daquele ano, os então presidentes Lula e Hugo Chavez lançaram a pedra fundamental do empreendimento. Dois anos depois, mesmo sem ter chegado nenhum dinheiro da Venezuela, Hugo Chavez reclamou do atraso no cronograma.
Em setembro de 2007, Lula veio acompanhar a terraplenagem. Naquela época, a previsão era inaugurar em agosto de 2010. Em 2009, a Petrobras disse que havia um erro nos cálculos do valor da refinaria e que o custo real seria de US$ 13,4 bilhões, ou seja, cinco vezes mais alto. No mesmo ano, Dilma Rousseff, que era ministra-chefe da Casa Civil, visitou o canteiro de obras. Uma nova data foi anunciada: ficaria tudo pronto no primeiro semestre de 2011.
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Porém, em 2010, o Tribunal de Contas da União recomendou a paralisação dos serviços, porque havia indícios de sobrepreço. A Petrobras informou que os gastos não eram abusivos. Em 2013, a Venezuela desistiu da parceira e o Brasil teve que arcar com os custos. No final daquele ano, a presidente Dilma Rousseff veio a Pernambuco e garantiu a conclusão dos trabalhos em 2014.
Além de óleo diesel, seriam produzidos gás de cozinha e coque de asfalto. Mas, em março de 2014, a Operação Lava Jato começou a expor um esquema de corrupção na Petrobras, o que atingiu as obras, que chegaram a empregar 45 mil pessoas. As construtoras atrasaram os salários dos operários, houve protestos e vieram as demissões. Até que, em dezembro de 2014, a Refinaria Abreu e Lima começou a funcionar, mas parcialmente: das duas unidades de refino, chamadas de trens, cada uma com capacidade de processar 115 mil barris de petróleo por dia, apenas uma ficou pronta e iniciou a produção diária de 73 mil barris.
Após a obtenção de uma licença ambiental, em janeiro deste ano, foi possível aumentar a quantidade para 100 mil barris de petróleo por dia, mas apenas na Unidade I. Denúncias envolvendo as empreiteiras que construíram a Refinaria Abreu e Lima deixaram a situação mais complicada, pois os pagamentos às construtoras foram suspensos. Em maio de 2015, deputados da CPI da Petrobrás vieram a Pernambuco.
79% concluída (Foto: Reprodução/TV Globo)
Resposta da Petrobras
Em nota, a Petrobras disse que as obras não estão paralisadas e ainda há contratos em execução. Segundo a estatal, alguns contratos foram afetados porque empresas e consórcios alegaram dificuldades financeiras. A Petrobras disse ainda que serão realizadas novas licitações para a contratação de construtoras para acabar o serviço. Sobre o material na área da refinaria, a estatal informou que mantém uma equipe para serviços de preservação dos bens e equipamentos e que faz o possível para reduzir os efeitos do desgaste natural.