Recife e Olinda têm protesto, tradição e poesia na segunda de carnaval
Blocos líricos tomaram conta do Marco Zero, saudando o passado.
Ladeiras tiveram bloco feminista, famílias e fantasias criativas.
A segunda-feira (8) de carnaval foi marcada por criatividade, irreverência, protestos e também reafirmação das tradições. A poesia dos blocos líricos levou famílias a relembrarem os antigos bailes no Marco Zero do Recife, enquanto Olinda teve protesto contra o machismo, forró nas ladeiras e até um bloco criado exclusivamente para que uma bisavó não deixasse de brincar na folia.
O encontro dos blocos líricos no Recife teve agremiações tradicionais, como o Bloco das Flores, criado em 1920 pelo carnavalesco Pedro Salgado, eternizado no famoso frevo Evocação Nº 1, de Nelson Ferreira. O Bloco O Bonde comemorou 25 anos no palco do Marco Zero.
(Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)
A Praça do Arsenal também se rendeu a poesia, com apresentação de grupos como o Boêmios da Boa Vista, fundado em 2007. O Bloco Lírico Artesãos de Pernambuco fez uma homenagem à atriz Geninha da Rosa Borges, que acompanhou a apresentação.
A programação tranquila levou famílias para aproveitar, mais uma vez, a tarde no Bairro do Recife. As primas Larissa, de 5 anos, Isabella, 5, e Gabriela, 4, foram fantasiadas de zika, chikungunya e dengue, respectivamente. “A ideia é fazer com que as pessoas não esqueçam dos cuidados para combater o mosquito”, explica a mãe de Larissa, Juliana Freitas.
A tradição também mostrou sua força no 26º Encontro Estadual de Maracatus de Baque Solto, na Cidade Tabajara, em Olinda. O evento desta segunda reuniu 37 grupos. Turistas de todo o país e até de outros países compareceram à Praça Ilumiara Zumbi para conferir de perto o colorido dos caboclos de lança.
No fim da tarde, em Olinda, era possível ouvir o som da sanfona e pessoas cantando canções de Luiz Gonzaga. O bloco Boi da Macuca, que conta com 27 carnavais, mostrou que não só de frevo é feita a folia pernambucana e que forró não é apenas para a época de São João, arrastando uma multidão pelas ladeiras.
Mais cedo, o bloco feminista Vaca Profana trouxe mulheres com os seios à mostra em forma de protesto contra o machismo e o assédio. A ideia surgiu de uma fantasia usada pela produtora de cinema e uma das organizadoras da agremiação, Dandara Pagu. “Me fantasiei de Vaca Profana, em homenagem à música cantada por Gal Costa, no carnaval do ano passado e a partir disso percebi que os dias de folia também eram uma oportunidade de refletir”, contou.
As ladeiras de Olinda foram também testemunhas do amor da aposentada Izete Souza, de 90 anos, pelo carnaval. Preocupada se aguentaria a folia, a idosa foi presenteada pela família com um bloco, chamado “A Véia Debaixo da Cama”. Pelo quarto ano consecutivo, a cama feita de canos de PVC acaba criando uma espécie de perímetro seguro, protegendo a adorável dona Izete.
(Foto: Thays Estarque / G1)
A segunda-feira teve também desfile de bonecos gigantes. As versões do policial federal Newton Ishii, o ‘japonês da federal’; do juiz Federal Sérgio Moro; do músico David Bowie e dos personagens Yoda e Darth Vader, da franquia Star Wars, foram as grandes novidades da apoteose neste ano. Quem também ganhou uma versão gigante foi o deputado federal Jair Bolsonaro – mas esse gigante foi criação dos admiradores do político.