Blog do Levany Júnior

FOTOS IMAGENS-Policiais atribuem execução em Costa Barros a tiroteio entre facções rivais

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RIO — Os quatro PMs presos após a execução de cinco jovens em Costa Barros, no último sábado, culparam traficantes pelo fuzilamento do grupo, segundo depoimentos dos acusados aos quais O GLOBO teve acesso. Para justificar a chuva de tiros, os policiais relataram uma série de situações que teriam levado a equipe a ficar no meio de um fogo cruzado entre criminosos de facções rivais. O intenso tiroteio, nessa versão, teria atingido o Palio branco onde estavam as vítimas, que saíram do Morro da Lagartixa — onde quatro delas moravam —, depois de um passeio ao Parque Madureira, para fazer um lanche. De acordo com a polícia, 111 disparos foram feitos, e não cerca de 50, como se imaginava. Desse total, 81 foram de fuzil e 30 de pistola. O carro foi perfurado 63 vezes. Muitos desses tiros atingiram os rapazes em pontos vitais, como a cabeça.

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Os depoimentos dos PMs, que são do 41º BPM (Irajá), foram prestados na 39ª DP (Pavuna). Os policiais dão versões coincidentes, mas que não condizem com as provas técnicas. Entre outros pontos, não fica explicado como o veículo da PM, que também teria ficado no meio dos disparos, só apresenta duas marcas de tiro na carroceria — e nem há confirmação de que sejam do mesmo dia em que ocorreu o crime.

De acordo com os policiais, que afirmaram ter se escondido atrás de uma mureta, os disparos que fizeram foram apenas para se defender dos traficantes. Os bandidos teriam atirado de dois lados da Rua José Arantes de Melo — uma parte deles estaria disparando do alto de uma passarela —, para onde teriam ido para atender a um chamado de roubo de um caminhão com carga de cerveja, que estaria sendo saqueado. Eles faziam patrulhamento e foram deslocados para o local, por volta das 22h, pelo capitão Daniel, também lotado no 41º BPM, que ainda será ouvido.

POLICIAIS ALEGAM QUE CAMINHÃO ERA SAQUEADO

Ao chegarem ao local, os PMs teriam visto três homens armados com fuzis dando cobertura ao saque. De acordo com o depoimento deles, esses bandidos teriam atirado contra a viatura, dando início a um primeiro confronto. Mas esse grupo de traficantes fugiu, assim como os moradores que participavam do saque.

Depois, ainda de acordo com os acusados, eles permaneceram junto ao caminhão roubado até a chegada de uma viatura de supervisão do batalhão e do motorista da cervejaria. Para garantir a retirada do caminhão do local, dois dos acusados, os soldados Thiago Resende Viana Barbosa e Antônio Carlos Gonçalves Filho, teriam seguido a pé pela rua para dar cobertura ao veículo. Enquanto aguardava pelo retorno dos colegas, o cabo Fabio Pizza Oliveira da Silva ficou na viatura, onde teria conseguido sintonizar a frequência do rádio da facção que controla os morros da Quitanda e da Pedreira, ouvindo os traficantes combinarem um ataque a eles. Nenhum dos policiais esclareceu por que, apesar do risco iminente, permaneceram na área, em vez de seguir com os outros PMs de supervisão que partiram com o caminhão.

Em seu depoimento, o sargento Márcio Darcy Alves dos Santos afirmou que, no momento em que os dois soldados retornaram a pé, foram abordados por um motorista de ônibus, que informou ter sido assaltado por homens numa motocicleta, um deles carregando um fuzil. Ainda de acordo com a versão dos PMs, nesse momento passou pela rua uma moto com um garupa atirando contra eles. Logo depois teria aparecido o Palio branco das vítimas. Os PMs alegam o que já foi divulgado: que um rapaz, o do banco do carona, estaria com parte do corpo de fora, fazendo disparos. No entanto, peritos já disseram que, pela posição do corpo, essa versão não se sustenta.

Nesse ponto do depoimento, os PMs ampliam a história para um verdadeiro confronto que os teria cercado. Protegidos atrás de um muro, os policiais disseram ter avistado um grupo de criminosos descendo de um dos acessos à Lagartixa. Quase ao mesmo tempo, por trás deles, outro bando rival, do Morro do Chapadão, postado no alto da passarela entre as duas comunidades, começou a atirar contra a polícia e contra o Palio branco. A perícia não indica tiros disparados do alto. Os acusados contaram que pediram prioridade ao batalhão e conseguiram “reverter a situação” — mas não deram detalhes de como isso ocorreu. Segundo eles, bandidos teriam remexido o interior do Palio e o porta-malas, recolhendo cápsulas.

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Também já prestou depoimento no inquérito o jovem de 15 anos que dirigia a motocicleta. Ele contou que levava na garupa seu cunhado, que é surdo e mudo. O rapaz disse que seguia o Palio branco, dirigido pelo irmão. Quando o grupo entrou na Rua José Arantes de Melo, viu o veículo da PM com os faróis apagados. Por trás dela, saíram os policiais já disparando contra as vítimas. Ainda segundo o jovem, depois de passarem pela lateral do Palio atirando, os policiais se posicionaram atrás do carro, fazendo novos disparos e descarregando suas armas. Ele disse que conseguiu avançar e escapar do bloqueio, parando um pouco à frente, de onde pôde ver toda a ação.

— A história do jovem condiz com a perícia do carro. Ele contou que os policiais dispararam de uma distância de três metros, crivando o veículo de balas — contou um dos investigadores.

Os peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli constataram apenas que as duas marcas feitas no carro da polícia são recentes. A motocicleta que seguia o veículo das vítimas não apresentava sinais de tiros.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/policiais-atribuem-execucao-em-costa-barros-tiroteio-entre-faccoes-rivais-18205543#ixzz3tFidKBXh
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