A Polícia Federal (PF) investiga o vazamento de informações sobre a deflagração da 24ª fase da Lava Jato. A suspeita é de que pessoas ligadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus familiares tenham agido para dificultar o cumprimento dos mandados da operação.
De acordo com o delegado Igor Romário de Paula, um inquérito foi aberto ainda na quarta-feira (2), dois dias antes da 24ª fase ser deflagrada, para investigar as suspeitas de vazamentos. “Infelizmente, a gente tem indícios de um vazamento concreto de informações relacionadas à quebras de sigilo bancário e fiscal do ex-presidente”, disse o delegado.
A PF informou ainda que já foi apurado que pessoas ligadas a Lula e familiares agiram para mobilizar pessoas que pudessem tentar prejudicar o cumprimento de mandados. Este foi um dos motivos, conforme a polícia, para que Lula fosse ouvido no aeroporto de Congonhas, e não na Superintendência da PF em São Paulo.
“O acesso à superintendência é complicado, pode ser facilmente obstruído por manifestantes”, disse Igor de Paula.
O procurador da República Carlos Fernando de Lima também comentou os vazamentos, e disse que foi detectado que muitos dos fatos sob apuração das autoridades já eram de conhecimento das pessoas alvos das investigações.
“Esses vazamentos prejudicam, provas são destruídas e todos aqueles que tiverem atividade de obstrução à Justiça serão presos e processados”, disse o procurador. “Eles [os vazamentos] facilitam a destruição de provas, e o objetivo de toda investigação é conseguir provas”, afirmou Carlos Fernando.
De acordo com os investigadores, há indícios de que tenha havido uma “limpa de documentos” antes do cumprimento dos mandados de busca e apreensão, especialmente na sede do Instituto Lula, com computadores e materiais tenham sido retirados antes da operação ser realizada.
Outro lado
O Instituto Lula afirmou que a investigação “cometeu uma arbitrariedade” com a condução coercitiva do ex-presidente Lula, e que agora buscam justificativas para essa medida. Ressaltou ainda que os próprios investigadores e o juiz Sérgio Moro reconhecem que não existe antecipação de culpa e comprovação de nenhum crime, de forma que não faz sentido discutir destruição de provas de supostos crimes que não foram comprovados.
A entidade informou ainda que, assim a empresa de palestras de Lula, forneceu às investigações todos os dados que foram requeridos, e que há quebras de sigilo do ex-presidente desde agosto de 2015. Os dados demonstram, segundo o Instituto Lula, que nem o ex-presidente, tampouco familiares cometeram quaisquer crimes.
neste sábado, em São Bernardo (Foto: Roberto
Stuckert Filho/Presidência da República)
24ª fase
O objetivo desta etapa da Lava Jato é apurar se o ex-presidente foi beneficiado diretamente com os esquemas de desvios de recursos daPetrobras. Segundo o Ministério Público Federal, há ainda indícios de que Lula tenha recebido um apartamento no Guarujá e um sítio, como forma de pagamento pelas vantagens dadas a construtoras envolvidas nos casos de corrupção.
Ambos os imóveis não pertencem a Lula ou familiares nas escrituras. No entanto, o MPF acredita que isso se trata de ocultação de patrimônio. No caso do sítio, o imóvel é de propriedade de dois sócios de Fábio Luis da Silva, filho de Lula. Já o apartamento, um tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, pertence a construtora OAS.
O sítio, segundo as investigações, recebeu uma ampla reforma paga pela construtora Odebrecht. O local é usado pela família do ex-presidente com certa frequência e chegou a receber festas organizadas por Lula quando ele ainda estava na presidência, com a presença de políticos de várias esferas.
Um desses imóveis era o Condomínio Solaris, cujas obras foram assumidas pela construtora OAS, após a falência do banco. Alguns proprietários das cotas resolveram aceitar os imóveis, outros, no entanto, disseram que preferiam receber o dinheiro investido de volta. Lula diz que está na segunda leva de investidores e que não é dono do imóvel.
No entanto, depoimentos colhidos pelo MPF apontam indícios de que uma reforma no valor de R$ 800 mil, paga pela OAS, foi feita a pedido da família de Lula. A mulher dele, Marisa Letícia, teria inclusive vistoriado parte da reforma no local, conforme as investigações.