Ondas gravitacionais podem permitir viagem no tempo, diz pesquisador
Físico brasileiro diz que viagens devem ser possíveis daqui a 100 anos.
Cientistas confirmaram fenômeno previsto por Einstein nesta quinta (11).
Viajar no tempo ou ir para outro planeta em questão de segundos. Essas ideias, que vêm dos filmes de ficção, podem estar mais próximas de virar realidade. Segundo um pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), que participou do estudo sobre as ondas gravitacionais, isso poderá acontecer daqui a 100 anos.
A primeira detecção de ondas gravitacionais, um fenômeno previsto pelo físico Albert Einstein na Teoria da Relatividade há cem anos, foi anunciada por um consórcio internacional de cientistas nesta quinta-feira (11). Entre os pesquisadores, estão seis estudiosos do Inpe em São José dos Campos (SP).
Quando elaborou sua teoria da Relatividade Geral, Einstein afirmou que a gravidade é uma força de atração que age distorcendo o espaço e o tempo – espaço e tempo em sua concepção são uma coisa só. Quando há uma interação de objetos muito maciços, para os quais a força da gravidade é muito grande, eles produzem ondas que se propagam pelo espaço e tempo.
(Foto: Reprodução)
“Você pode desenhar dois pontos distantes no papel, digamos milhões de anos-luz de distância um do outro, e, ao dobrar a folha, aproximá-los. Isso é fazer um atalho em outras dimensões e pular de um ponto do espaço e do tempo para o outro, como foi mostrado no filme ‘De Volta para o Futuro’”, explicou o professor Odylio Aguiar, um dos pesquisadores.
Ficção e realidade
Em 1985, ‘De volta para o Futuro’ se tornou um sucesso de bilheteria. O mundo se encantou com a história de um jovem e um professor que criaram uma máquina do tempo.
Segundo o Aguiar, fazer o mesmo que o personagem do jovem Marty Mcfly pode se tornar possível para as futuras gerações.
“Você não é destruído em nenhum momento, você viaja de um ponto para outro em um atalho em outra dimensão. Não consigo imaginar alguma coisa ainda neste século, mas de alguma forma vamos chegar lá”, defende o professor.
Som do universo
Entre os mais de mil cientistas que formam o grupo internacional que anunciou a descoberta das ondas nesta quinta, sete são brasileiros, sendo seis do Inpe. O anúncio foi feito em Washington, nos Estados Unidos, acompanhado simultaneamente em 15 países colaboradores.
A possibilidade de observar o céu em ondas gravitacionais agora, e não apenas em ondas eletromagnétcias, como a luz, abre a perspectiva de descoberta de fenômenos antes invisíveis para os astrônomos.
Agora, é possível escutar o som do universo, que parece com um coração de bebê batendo. “São frequências em ondas gravitacionais que, jogadas em um alto-falante, são possíveis de escutar. As ondas gravitacionais permitem que nós possamos ouvir o universo. Vamos conseguir ouvir coisas que a gente não consegue ver”, explicou Odylio Aguiar.
Experimento
O que os pesquisadores do projeto Ligo (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) encontraram em seus experimentos essencialmente foram “distorções no espaço e no tempo” causadas por um par de objetos com massas enormes interagindo entre si. Neste caso específico, os cientistas acreditam que o evento observado seja fruto da interação entre dois enormes buracos negros.
O Ligo consiste em dois enormes detectores de cerca de 4 km de extensão nos estados de Washington e Louisiana, nos EUA, operando conjuntamente.
O Ligo em si começou a funcionar em 2002, depois de outros experimentos iniciais, e sua sensibilidade vem sendo aprimorada desde então. Só com um aprimoramento maior realizado no ano passado, porém, foi possível detectar um primeiro evento. A colisão de buracos negros registrada pelo projeto foi detectada em 14 de setembro.
O custo do projeto Ligo foi estimado em US$ 620 milhões. O projeto foi uma iniciativa conjunta do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) e do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Ao longo dos 40 anos que se passaram entre a construção do primeiro detector e a detecção das primeiras ondas gravitacionais, outros centros de pesquisa se juntaram à iniciativa, como o Inpe e o IFT-Unesp (Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista).