Foi enterrado no fim da manhã deste domingo de Páscoa (16) no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi, Centro do Rio, o corpo de Miguel Ayoub Zahkour, de 19 anos. O jovem morreu depois de ter sido baleado em uma tentativa de assalto em Laranjeiras, Zona Sul, na sexta-feira (14).
Na porta da capela onde o corpo era velado, amigos do jovem soltaram fogos de artifício para homenageá-lo. Outro grupo de amigos chegou ao cemitério fazendo barulho em motos, também como forma de prestar a última homenagem ao rapaz.
Miguel era apaixonado por moto e foi por causa do veículo que pilotava que os criminosos o teriam abordado. De acordo com a polícia, o jovem foi surpreendido por ladrões que estavam em outra moto, quando parou no sinal em um cruzamento da Rua Pinheiro Machado, a 500 metros da sede do Governo do Estado, o Palácio Guanabara.
“Ele era um menino, garoto que trazia paz na vida de todo mundo”, lamentou o primo Plínio Augusto. “Ele era uma criança ingênua, o apelido dele era ‘lisinho’ porque ele era ingênuo”, acrescentou Gabriel Vernei, outro primo de Miguel.
Um dos primos de Miguel, Plinio Augusto, contou que aquela foi a primeira e única vez que o rapaz pilotou a moto que tentaram lhe roubar. Ele estava fazendo uma transação e iria vender o veículo para comprar uma outra motocicleta de sua preferência
“Foi a primeira vez que ele andou naquela moto. Ele foi só testar, dar uma volta com a namorada. Garoto né? Foi dar uma volta e aconteceu. Da sacada [da casa do Miguel] você dava para ver o local. O tio dele ouviu os tiros, mas ninguém vai imaginar”, contou o primo.
Da capela onde o corpo era velado até o jazigo onde foi enterrado, os amigos de Miguel fizeram um cortejo em motos, repetindo a homenagem que fizeram ao chegar ao cemitério. Cerca de 40 motos participaram do cortejo.
O pai de Miguel, Alexandre, estava inconsolável. Depois que o caixão do filho foi depositado no jazigo, ele afirmou que a violência não irá intimidá-lo. “Quero ver marginal me pegar na rua, eu vou continuar rodando”, disse Alexandre.
Em seguida, todos que acompanhavam o funeral ofertaram uma salva de palmas ao jovem e sua família.
“Vocês não têm ideia de como era esse garoto. A parte ruim de mim sumiu quando ele nasceu. Ele nasceu no dia 8 de maio, dia de São Miguel. Era dia das mães na época, foi o melhor presente que ele deu pra mãe dele. Agora vai vir o secretário não sei de quem é falar que foi fatalidade?”, desafabou o pai de Miguel.
Indignação e muita dor
Por todos os amigos e parentes Miguel era descrito como um rapaz carinhoso e pacífico. A morte violenta provocou um clima de uma indignação entre os que lhe eram próximos. Dois de seus primos apontaram a estrutura política do país como geradora da situação de barbárie que se vive nas ruas do Rio de Janeiro.
“Quanta gente já passou por isso é quantos ainda vão passar? Culpa dessa política sanguinária que a gente tem. Essa política sanguinária matou o meu bebê. Quantos ainda vão sentir essa dor? Não tem remédio que cure e traga ele de volta. Eu sei que não sou o último a passar por isso. Ele era uma criança ingênua, o apelido dele era ‘lisinho’ porque ele era ingênuo”, afirmou o primo Gabriel Vernei.
“Ele era um menino, garoto que trazia paz na vida de todo mundo. Não tem nem o que falar. Ele tinha pegado essa moto para pegar uma mais potente. No primeiro passeio, isso aconteceu. O bandido não é só aquele que mata, ele também está de terno e gravata. O que atira também tem sua parcela de culpa, mas quem tem de terno e gravata comandando também é culpado. E ninguém toma providência. Mais um menino para estatística, mais uma criança. A família toda gostava de moto, o motor da moto era o coração dele, era a vida dele”, completou Plínio Augusto.
Os investigadores suspeitam que Miguel tenha se assustado com a abordagem, tentou acelerar e foi baleado. A namorada dele, que estava na garupa, caiu da moto e teve ferimentos na perna.
Miguel chegou a ser levado para o Hospital Municipal Miguel Couto, mas não resistiu e morreu durante cirurgia. A Polícia Militar disse que fez buscas logo depois do crime, mas ninguém foi preso.
A Divisão de Homicídios, que assumirá as investigações, vai usar imagens de câmeras de segurança para tentar identificar os assassinos.
‘Pessoa mais pura que existia na Terra’
A morte violenta de Miguel deu fim a um relacionamento de quatro anos com a namorada Tayssa Freitas. Na tarde da Sexta-feira Santa, pouco antes de participar de um ato com cerca de 100 pessoas perto do local do crime, a jovem publicou um texto e várias fotos ao lado que marcaram o namoro com Miguel, a quem ela definiu como a “pessoa mais pura que existia na Terra”.
“Ouvi nessa noite, algumas muitas vezes, que ele partiu do lado das duas coisas que ele mais amava, a Tayssa e a moto”, escreveu a namorada.
Abalada pela perda brutal, Tayssa aconselha: “Vamos aproveitar cada segundo com quem a gente ama, o tempo não volta (…) Guardem com vocês o que ele realmente foi, o que ele realmente é e será eternamente em nossos corações (…) Um estrelinha brilhará no céu nessa e nas próximas noite. Eu já tinha um anjo todos os dias, agora ele aprendeu a voar!”, declarou-se.
Aumento da violência
Os moradores dizem que o bairro de Laranjeiras está mais violento. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, os roubos em geral cresceram na área patrulhada pelo 2º BPM (Botafogo), que cobre Laranjeiras e mais sete bairros da região.
De acordo com o ISP, em fevereiro foram 227 casos, 30 a mais do que no mês anterior. Os roubos de veículos também tiveram aumento: foram 35 em fevereiro contra 21 em janeiro – 66% a mais.
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