FOTOS IMAGENS-Ex-parceiro de R10 nas baladas, Jô se converte e revela drama com álcool
No futebol, o álcool é um tabu. O assunto é velado. Para Jô, a bebida foi uma cruz, um fardo que ele carregou por muito tempo. E que hoje está superado. Dentro de campo, uma carreira de sucesso. Fora dele, uma trajetória marcada por festas e bebidas. Rotina que impediu que o atacante chegasse muito mais longe do que gostaria. Convertido ao cristianismo, está sem beber há dois anos. Com o lado família aflorado, busca um recomeço no futebol, sonhando em voltar ao Atlético-MG e à seleção brasileira. Em uma entrevista reveladora (veja a reportagem no vídeo acima), o jogador de 29 falou do distanciamento de Ronaldinho Gaúcho e a dificuldade de superar o estilo de vida que, hoje, ele considera nocivo. O jogador revelou que já a diretoria do Corinthians já fez contato e que “o coração bate forte pelo alvinegro paulista”.
No Galo, Ronaldinho Gaúcho e Jô fizeram uma parceria inesquecível para os torcedores. Juntos, conquistaram o maior título da história do Atlético-MG. E quem não se lembra da peitada na comemoração dos gols? Uma parceria que não existia somente dentro de campo. Jô era presença certa nas festas no condomínio de R10, em Lagoa Santa, regadas a muita cerveja e pagode.
Após a conversão, Jô não teve mais contato com Ronaldinho. O estilo de vida mudou muito, e eles se afastaram. Naturalmente. O atacante foi jogar no futebol do Oriente, e R10 passou a rodar o mundo com contratos e aparições publicitárias.
– A gente se distanciou um pouco, pelo fato de eu ter saído do país e a gente ter perdido o contato. Não tive a oportunidade de sentar e conversar com ele. O Ronaldo como profissional e como amigo também, independentemente do que a gente fazia, conversava bastante comigo e me ajudou muito dentro de campo. Cada um tem a sua vida. Se ele acha que a maneira que está vivendo é a maneira correta, eu respeito. Se um dia eu tiver a oportunidade de conversar com ele, de tentar passar um pouco do que vivi e do que vivo hoje, poder falar pessoalmente, vou falar.
Jô evita julgar o amigo na época de Atlético-MG. Acredita que se a vida do craque fora de campo fosse mais regrada, poderia ter multiplicado as conquistas da carreira.
– Acho que não posso falar que o Ronaldo é sem juízo. Acho que ele curte em excesso. Se ele se cuidasse mais, diminuísse… Se foi duas, poderia ser dez vezes melhor do mundo. Tenho certeza que vou determinar espiritualmente para que o Ronaldo encontre Deus na vida dele. E aí poderá ser melhor ainda, porque ele é uma pessoa maravilhosa.
Problema com o álcool
Jô coloca a bebida com a principal causa para o descompasso fora de campo. O jogador não esconde o drama que viveu com o álcool e como ele criava um efeito dominó que, muitas vezes, acabava só no dia seguinte.
– Coloco a bebida primeiro, porque ela te leva a outras situações. Exemplo, eu poderia começar a beber aqui em casa, com dois, três amigos, com a minha esposa. Começava a beber, aí o espírito começa a ficar inquieto. Você quer sair. Aí, se eu não tivesse jogo, começava a beber em casa. E saia. Te leva pra noite, te leva a fazer coisas que você não queria.
Festas, baladas, mulheres. Tudo era consequência do consumo excessivo de álcool. O arrependimento batia, mas a rotina se repetia, incontrolavelmente.
– Não que eu gostasse de ir para a noite, mas daqui a pouco você se pega num lugar que você não gostaria de estar. Aí eu acaba vivenciando aquilo ali intensamente. Começava a beber, beber, beber e queria beber até de manhã. Saía de manhã e queria esticar para um outro bar, e ir para casa de um outro amigo. Aí, depois, quando eu parava, pensava: o que estou fazendo? Onde estou? Minha mulher tá em casa… Falava que não ia fazer mais, mas daí a pouco, dois dias, fazia tudo de novo. As festas não eram a prioridade. Eu gostava de beber em casa, mas isso me levava a fazer outras coisas. A bebida era o ponto crucial – completa.
Mas, aos poucos, as palavras do volante Pierre do Fluminense, na época companheiro de Galo, foram influenciando Jô. Em novembro de 2014, foi afastado – junto com André e Emerson Conceição – por indisciplina. A delegação estava em Curitiba, e foi noticiado, na época, que eles voltaram ao hotel muitas horas depois do horário previsto. Menos de um ano depois, em outubro, morando em Dubai, ele se converteu. E passou a enxergar a vida diferente.
– Hoje eu durmo a noite toda. Já tem dois anos que eu não bebo. Tudo melhorou 100%.
Com o trauma superado, o atacante espera usar a própria história para motivar e incentivar outros jogadores, especialmente os mais novos, que também se sentem deslumbrados com o mundo do dinheiro e da fama que o futebol proporciona.
– A melhor situação para se usar de exemplo é o seu testemunho, não tem nada melhor que o testemunho vivo. Também demorei, foram muitos anos até ter esse encontro com Deus. Se tiver oportunidade de falar para os jovens que estão começando, é para não ir pela dor, porque a dor é uma situação difícil. Você se vê sem saída, então vai pelo amor. Eu sei que jovem que curtir, quer sair. Mas lá frente isso não vai te levar a lugar nenhum, só vai te levar para o buraco.
Hoje, Jô mora com a esposa e com os filhos na cidade de Esmeraldas, a 44 quilômetros de Belo Horizonte. O atacante tem contrato com o Jiangsu Suning, da China, até o final da temporada. Mas pelo excesso de estrangeiros no clube foi liberado para voltar ao Brasil até o fim do contrato. O centroavante, que tem apenas 29 anos, espera acertar o futuro até o fim do ano. E não esconde o sonho de voltar a jogar no Atlético-MG ou no Corinthians.
Confira mais detalhes da entrevista exclusiva com o centroavante Jô:
Se não fossem as festas e as bebidas, onde o Jô poderia ter chegado?
– Hoje vejo o tanto que prejudicou. Às vezes, em uma semana, eu não dormia direito e antes dos jogos não dormia bem ou bebia. Isso influenciava. Poderia estar fisicamente melhor, ter chegado mais inteiro numa bola. A gente pensa que porque é jovem vai chegar, mas não aguenta.
Depois da conversão, o círculo de amizades permaneceu o mesmo?
– A gente passa a ter consciência, saber onde é o perigo, com quem andar, onde ir. Isso muda bastante. Automaticamente, minhas amizades mudaram todinhas. Hoje, meu circulo de amizade é 90% evangélico.
Ainda tem contato com os amigos da época das baladas? Eles entendem a transformação no novo Jô?
– Converso, falo, mas não tenho para o meu dia a dia. A maioria entende, quem se preocupa comigo, entende. Como eu não tenho mais nada a oferecer, alguns se distanciaram.
Quando começou esse lance da bebida? Foi na juventude?
– Quando eu era muito novo morava com meus pais e não saia. Eles eram muito rígidos. Até porque perdi meu irmão com 15 anos. Eram duas irmãs e dois homens. A pressão se voltou para mim. Meu pai me pressionou muito. Às vezes, saia escondido, mas não bebia. Acabava um jogo, eu saia como todo ser humano faz. Aí, ali você começa a ganhar gosto. Vai duas vezes ao mês, vai toda semana. Quando vê, se pega saindo quase todo dia. Mas ainda era meio controlado. Quando fui pra Rússia que as coisas saíram do controle. Comecei a beber. Em vez de ser uma vez na semana, eram três, quatro vezes. Sem dormir, aí você começa a perder o controle.
Depois eu casei e voltou a ser mais tranquilo. Só que como você começa a ganhar fama e dinheiro, você quer fazer as coisas escondido. Aí começa a dar os problemas. Você começa a brigar em casa. Você briga e quer sair. Ela discutia comigo, eu saia. Quando ela ia embora, eu ficava sozinho. Aí sozinho você pensa besteira e começa a fazer coisa errada. Isso foi por muito tempo, estou casado há dez anos.
Qual foi o fundo do poço, com relação à bebida e ao futebol?
– Alguns treinos que faltei por causa de noite. Ou voos que perdi porque bebi muito e não me apresentei. Me arrependo, porque sou profissional. Graças a Deus, nunca passei perto da morte, um acidente de carro.
Existe um arrependimento específico?
– Teve um episódio no Inter que deixei de viajar para um jogo na Libertadores, que foi contra o The Strongest. Bebi um dia antes. O jogo era numa quarta-feira, íamos viajar numa segunda-feira. Acabou o jogo do (Campeonato) Gaúcho no domingo e fui beber. Saí e cheguei tarde em casa. E dormi. Estava separado na época. Até acordei no horário, mas de ressaca, não tinha como. E não fui. Muita coisa saia na mídia. Poderia ter me resguardado mais, minha família, minha esposa.
Mesmo com o extra campo conturbado, o Atlético-MG foi a redenção?
– Eu ando em Belo Horizonte e, graças da Deus, sou idolatrado, ovacionado. Pedidos de volta acontecem a toda hora e sempre agradecimentos por tudo que fiz no Atlético. Acho que já estava escrito. Uma coisa que me marcou foi quando o Pierre falou que, no final de 2014, não era a maneira certa que eu deveria sair do Atlético. A história que construí, em pouco tempo, o que fiz pelo Galo, Deus não ia permitir que eu saísse brigado, seis, sete meses sem fazer gols. Deus preparou 2015 para mim, o ano inteirinho, porque me batizei em novembro. Minha conversão, o Campeonato Mineiro, o gol do título e a minha venda para os Emirados Árabes: saí pela porta da frente.
Em outubro de 2014, seu pai disse temer pela sua carreira, que virasse “o novo Adriano”. O que você pensa daquela declaração?
– Pai é um sentimento que… Hoje sou pai e entendo. Na época, fiquei chateado, mas pai é pai. Nunca quer ver o filho em situação de desespero. Até para chamar atenção, ele falou aquilo. Mas eu entendo perfeitamente, porque sempre vou querer o bem do meu filho e tudo que puder fazer por ele, vou fazer.
Hoje sua família tem orgulho do novo Jô?
– Meu pai se via meio perdido por não poder ajudar. Eu não dava muita atenção para ele, falávamos por telefone, não convivíamos muito. Ele vinha uma, duas vezes no ano, porque eu não deixava, eu era uma pessoa muito difícil. Tudo queria fazer sozinho. Hoje ele se sente muito orgulhoso. Ele ainda não é cristão, mas um dia hei de levá-lo na igreja. Mas ele está muito feliz pelo filho, pelo pai, pelo homem que me tornei.
Você tem orgulho de ter se tornado um cara família?
– Hoje me sinto como uma criança com meu filho, o levo para treinar, levo minha esposa na academia. Fico com ele de manhã e consigo ter o papel de pai muito presente. Não que eu não fosse presente, mas não era participativo. Talvez a bebida ou outras situações. Hoje sou um marido melhor. Meu filho está crescendo, e o que mais um filho que é se espelhar no pai. E acho que o Pedro, quando crescer, vai pensar: “desde que eu me entendo por gente, meu pai sempre foi essa pessoa serena”.
<i>Você estava no banco do Mineirão no jogo do 7 a 1, o que aconteceu naquele dia?</i>
– O fato que eu acho que aconteceu foi a preparação, porque a gente jogou dois jogos anteriores, oitavas de final e quartas de final contra Chile e Colômbia, dois times sul-americanos. É guerra. Sei por que joguei Libertadores. Joguei na Europa e sei que lá eles são mais frios. Saímos de duas guerras, tanto que o Neymar se machucou com uma porrada nas costas, que tirou ele da Copa. Fomos jogar contra a Alemanha. Todo mundo fala que os alemães são frios, calculistas. Então, você se prepara de outra maneira. No meu modo de ver, a gente deu um relaxada. Pensamos: “agora, não vai ter guerra, jogo vai ser mais morno teoricamente”. Foi onde a gente se enganou. Entramos despreparados e eles atropelaram.
Qual a perspectiva de carreira? Retorno à Seleção? Ao Corinthians? Ao Atlético-MG?
– A vida mudou muito. Começo a deixar as coisas andarem pelo caminho do Senhor. Tenho 29 anos, mas tenho muita carreira. Alguns me chamam de velho, mas é porque comecei cedo. Tenho muito o que mostrar. Há um ano, confesso que não pensava em voltar para a Seleção. Coloquei na minha cabeça que vou jogar em alto nível. Se possível, voltar à Seleção. Ainda não posso negociar com ninguém, porque tenho contrato com o clube chinês. Por ética e porque está no final do ano. Quando começarem as férias, aí, sim, poderei começar a negociar, ficar aberto a qualquer clube do Brasil. Tenho desejo de voltar para o Atlético, para o Corinthians, onde eu tenho uma identificação muito grande. Mas sou profissional.
É tão profissional que jogaria até no Cruzeiro?
– Qualquer clube, não. Vamos colocar aí como exceção o Cruzeiro. Claro que é muito difícil. Não posso cravar que um dia não jogaria, mas mancharia muito a minha passagem no Atlético, porque realmente foi uma passagem fantástica. Acho que não estaria preparado para isso.
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