Empresária diz que ‘quebrou’, admite dívida de R$ 300 mil, mas nega golpes
Ela alega que teve problemas com alta no câmbio: ‘Estou tentando pagar’.
Patrícia Morais afirma que já quitou R$ 500 mil em débitos com 30 pessoas.
A empresária Patrícia Rodrigues de Morais, de 34 anos, acusada de aplicar golpes em clientes na venda de pacotes de viagens, negou ter cometido o crime e afirmou que teve problemas após “quebrar” financeiramente. Ela admite que não cumpriu com alguns compromissos, mas culpa problemas cambiais e afirma que está trabalhando para quitar as dívidas com todas as pessoas prejudicadas, na ordem de R$ 300 mil. Segundo a Polícia Civil, o prejuízo estimado é de R$ 1 milhão.
Patrícia, que é formada em administração e turismo, mantinha uma agência de viagens em Goiânia, a Personal Turismo, até o mês de janeiro. Clientes relatam que ela não cumpriu com contratos assinados. Ela responde em liberdade a pelo menos quatro ações judiciais, sendo duas por crime de estelionato.
Ela afirma que seus negócios iam bem até março de 2015, quando começou a não conseguir arcar com seus compromissos devido a questões relacionadas à venda de moeda estrangeira, atividade que intermediava em sua empresa.
“Houve uma alta no câmbio. O dólar estava a R$ 3, por exemplo, e no outro dia subiu para R$ 3,20. Como já tinha feito o contrato para comprar a moeda, pagava a diferença. Pensei que a situação voltaria ao normal, mas não voltou. Eu quebrei. Estou tentando pagar e vou fazer isso trabalhando, não tem outra forma. Nunca fugi de situação nenhuma, enfrento o problema de frente”, disse ao G1 e à TV Anhanguera.
Ela afirma que, atualmente, ainda tem débitos com “5 ou 6” pessoas e que já pagou, desde que teve o rombo, cerca de R$ 500 mil em dívidas. O valor, segundo ela, refere-se a um grupo de aproximadamente 30 clientes com os quais fez acordos extrajudiciais.
Imagem arranhada
Patrícia diz que todos os problemas são relacionados a situação envolvendo sua atividade cambial. A empresária afirma que nunca deixou de “embarcar” nenhum cliente e que sempre “prezou pelo bem estar” deles, além do seu próprio.
Depois de fechar sua agência, ela atualmente segue trabalhando em casa, mas diz que o fato do episódio vir à tona atrapalhou sua atuação. “Isso tudo da forma como ocorreu atinge sua imagem. O que mais dói é ver quanto eu lutei e trabalhei e ver tudo isso acontecer. Não tenho como resolver tudo da noite para o dia”, afirmou, quase chorando.
Com os custos dos acordos que fez, Patrícia disse que mudou seu estilo de vida. As viagens glamurosas para grandes eventos na Europa ficaram no passado. Ela contou ainda que vendeu um apartamento e um carro para tentar equilibrar as finanças.
Apesar disso, ela segue morando em um apartamento de luxo no Setor Jardim Goiás, um dos mais nobres de Goiânia. Sobre acusações de que, mesmo endividada, segue ostentando, ela se defende. “Ostentando? Como vou ostentar algo que não vivo. Moro de aluguel e divido o apartamento com minha mãe. Não tenho nem carro. O padrão mudou muito. O tempo que tenho estou com minha família ou trabalhando”, conta.
Investigações
O delegado Webert Leonardo, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon), diz que desde 2015 foram registradas oito ocorrências denunciando golpes da empresária. No entanto, ele acredita que mais clientes foram lesados.
“Mesmo após esses golpes serem comprovados pela Polícia Civil, ela continuou fazendo acordos com essas vítimas, inclusive no curso dos processos judicial, penal e cíveis, não cumpre nenhum desses acordos e isso é muito sério, isso é muito grave. Motivo pelo qual nós conclamamos que essas vítimas que não apareceram aqui na delegacia do consumidor, que venham”, destacou o delegado.
Os advogados José de Morais Neto e Arcênio Pires Silveira representam alguns dos clientes que foram lesados. Eles contam que, mesmo com as ações em andamento no Poder Judiciário, algumas desde 2014, nenhuma das vítimas foi ressarcida até o momento.
“Mesmo ela tendo sido condenada ao pagamento de R$ 40 mil, ela fez o acordo e não cumpriu o pagamento. Desta forma executamos e pedimos a penhora de bens, mas encontramos a empresa de portas fechadas e todos os bens dela desapareceram, sem nenhuma informação”, afirma Neto.
Já Silveira diz que representa dois médicos que foram vítimas. “Eles tiveram prejuízos que hoje, somados, giram em torno de US$ 24 mil, ou seja, no câmbio atual, cerca de R$ 75 mil. Nós entramos com ações cíveis e ela até compareceu a uma audiência. Aí fez um acordo, parcelado, e até hoje não cumpriu com o parcelamento”, relata.