Camaragibe
Jussara Rodrigues da Silva Paes confessou ter matado o marido em 2018. Filho mais novo do casal foi a primeira testemunha de acusação convocada pelo MPPE ouvida no plenário.
Por G1 PE e TV Globo
Julgamento de Jussara Rodrigues é presidido pela juíza Marília Falcone — Foto: Assis Lima/Ascom TJPE/Divulgação
O julgamento de Jussara Rodrigues da Silva Paes, que confessou à polícia ter matado o marido, o médico Denirson Paes em Aldeia, em Camaragibe, no Grande Recife, teve início na manhã desta segunda-feira (4), no fórum da cidade. O corpo dele foi encontrado esquartejado em uma caçimba, com partes carbonizadas, no dia 4 de julho de 2018, na residência da família, em um condomínio de luxo.
Presa na Colônia Penal Feminina do Recife, Jussara Rodrigues chegou ao Fórum de Camaragibe às 9h em uma caminhonete da Polícia Civil. Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), ela responde por “homicídio triplamente qualificado, cometido por motivo torpe, com emprego de meio cruel, e cometido à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima; e também por ocultação de cadáver”.
Jussara Paes confessou o assassinato do marido, Denirson Paes — Foto: Reprodução/Facebook
Presidida pela juíza Marília Falcone, da 1ª Vara Criminal da comarca, a sessão teve início por volta das 9h20, com o sorteio do júri, composto de cinco mulheres e dois homens. Eles têm quatro dias para decidir se Jussara é inocente ou culpada.
Daniel Paes, o filho mais novo de Jussara e Denirson, foi um dos primeiros a chegar ao Fórum de Camaragibe. Acompanhado da namorada, ele contou que, desde o crime, não tem mais contato com a mãe e espera que ela seja condenada.
Daniel Paes, filho mais novo de Jussara e Denirson, foi a primeira testemunha de acusação ouvida no julgamento — Foto: Reprodução/TV Globo
“Que seja feita a justiça. Não era um casamento feliz, não era um casamento há muitos anos, só que ninguém podia imaginar. Isso é muito triste. Fica o mau exemplo a ser observado, para que outras famílias não possam fazer isso. Quero que ela pague, estou aqui para contribuir com meu pai. Tudo que eu faço hoje, que sempre fiz na minha vida, foi sempre seguindo a pessoa dele. Só pela forma de ele agir, eu queria ser igual”, afirmou antes do início da sessão.
No julgamento, Daniel foi a primeira das cinco testemunhas de acusação convocadas pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) a ser ouvida em plenário. A empregada doméstica Josefa da Conceição, que trabalhava com a família há cinco anos e recebeu folga no dia do crime, em 31 de maio de 2018, foi a segunda testemunha ouvida na sessão.
A empregada doméstica Josefa da Conceição, que recebeu folga no dia do crime, é outra testemunha de acusação ouvida no julgamento — Foto: Reprodução/TV Globo
“Eu quero justiça pelo meu patrão. Era um bom patrão, bom médico, bom pai. Eu nunca vi violência da parte dele. Era um homem tranquilo. Nunca vi ele agredindo ela. Sei que ele não vai voltar mais, mas eu confio em Deus e na Justiça aqui da Terra”, disse antes de o julgamento começar.
As outras três testemunhas de acusação chamadas pelo MPPE para serem ouvidas foram dois peritos do Instituto de Criminalística e um policial civil que participou das investigações.
“Na antevéspera da morte, a cacimba foi aberta por ela [Jussara]. Hoje não é o julgamento de Danilo Paes [o outro filho do casal], mas o laudo pericial é conclusivo em afirmar que ela não cometeu esse crime sozinha. Com certeza, a promotora pública, juntamente comigo, iremos pedir a condenação máxima para que assim se faça a justiça, e satisfaça o anseio da sociedade, como também da família. A ré é confessa, isso já adianta os trabalhos”, declarou o assistente de acusação do MPPE, Carlos André Dantas.
Julgamento de Jussara Rodrigues teve início na manhã desta segunda-feira (4) no Fórum de Camaragibe — Foto: Clarissa Góes/TV Globo
Resposta da defesa
O advogado, Rafael Nunes, que defende Jussara Rodrigues, não pediu para ouvir nenhuma testemunha e disse que ela agiu em legítima defesa.
“Iremos mostrar aos jurados que Denirson era agressor, que ele era covarde, era dissimulado e, naquela manhã, ela agiu em legítima defesa. Agora ela ocultou o cadáver, ela realmente agiu errado neste momento. Ela pensou em ligar para a polícia, para os familiares, acordar os filhos. Neste momento, a gente não pode julgar as pessoas. É muito fácil apontar o dedo e dizer: ‘criminosa, bandida, esquartejou e matou o médico’, mas se coloque no lugar dela. Você que julga a postura de Jussara, que foi reprovável e ela vai pagar por isso, mas e se fosse uma mãe sua, uma filha?”, disse.
A defesa de Jussara negou que o filho mais velho do casal, Danilo, tenha participação no crime. “O filho não participou, não tem qualquer participação nisso, tanto é que está solto. Depois de duas audiências longas, a defesa conseguiu provar que Danilo não tem absolutamente nada a ver com isso. Danilo é extremamente inocente. Jussara tem que pagar pelo que cometeu e não pelo que estão querendo colocar na conta dela”, afirmou.
Entenda o caso
Foto postada na internet mostra Denirson Paes ao lado do filho mais velho dele, Danilo Paes, que aguarda o julgamento em liberdade — Foto: Reprodução/Facebook
Em 31 de maio de 2018, o médico cardiologista Denirson Paes, de 54 anos, foi assassinado no condomínio onde morava com a família, na Estrada de Aldeia, em Camaragibe. As investigações da Polícia Civil apontaram que ele foi estrangulado e partes do corpo da vítima foram encontradas dentro de uma cacimba, no quintal da casa da família.
Vinte dias depois do crime, Jussara Rodrigues registrou um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do marido e contou que ele havia viajado para fora do país, mas não retornou da viagem. De acordo com a denúncia do Ministério Público de Pernambuco, o crime teria sido motivado porque ela não aceitava o fim do relacionamento com a vítima e também por interesse financeiro.
Além da viúva, o filho mais velho do casal, Danilo Paes Rodrigues foi acusado pela polícia de ter participado do assassinato. Os dois foram presos em julho de 2018 e indiciados pela morte e pela ocultação do corpo do médico. Em dezembro do ano passado, a Justiça determinou que Danilo fosse solto e ele aguarda o julgamento em liberdade.
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