EXTREMOZ RN-Um jantar secreto em Brasília, por Rui Daher
Nota de esclarecimento: Decidimos adiar a entrevista Clube dos Garotos nº 7, programada com Levy Fidélix, quando seriam discutidos os X dos problemas da cidade. Em seu lugar, segue matéria exclusiva do BRD, realizada por Regularte Pestana.
(02/09, Brasília)
Noite. Intestinos empanturrados do Palácio do Planalto. Seis senhores e uma jovem senhora acabam de terminar o jantar. Discutem projeto de futuro para o Brasil. O que parece mais graduado vai ao ponto:
– Bem, o bem está feito.
– Falou comigo, bem?
– Não. Vá se embelezar, despeça-se desses senhores de forma recatada, e antes de deitar não esqueça de pousar sobre a colcha as minhas ceroulas. Este palácio precisa reformar o aquecimento.
– Não só o aquecimento, bem. Tenham bons sonos, senhores.
Todos aquiescem e o mais graduado continua:
– A querida já se foi.
Diante do ar de interrogação de todos:
– A outra. A do Jaburu. O PT está aniquilado. Deixei a pá de cal para o Caiado jogar.
– Faz sentido.
– Verificando o comportamento da esquerda é fácil perceber que ela ficará décadas catando os fragmentos.
– Interessante aquele Lindbergh, no Senado. Parecia Exu incorporando Émile Zola: J’ Accuse! J’Accuse! J’Accuse.
Gargalhadas ressoam no Salão Quadrado do Palácio, que Oval não temos.
– O cenário é todo nosso. Céu de brigadeiro.
– Ô Jucó, vê se não azara. Ainda não deu para entender qual é a das casernas. Afinal, estamos todos implicados em corrupção grossa.
– Pensei em brigadeiro de chocolate.
– Mesmo assim. Céu de chocolate pode lembrar a cor do que estamos fazendo com o Brasil.
Fala o mais beiçudo deles:
– Concordo, mas tenham calma. Os quartéis não têm saco para tantos abacaxis.
– E os movimentos sociais?
– Lesmas perto de nossos patos. Nunca foram de nada. A Rainha do Paranapanema já conquistamos.
– É, mas esse negócio de Lava Jato, aquele moço de lábios finos, diferentes dos seus, sei lá as pretensões dele.
– O Vice-Rei de Curitiba? Deixem comigo e com o Rodrigo.
– Fundamental. Vai que ele solta a matilha procuradora atrás de nós.
– Induzi a secretária a servir-lhe balas de alcaçuz em forma de estrela. Conta-me que seus olhos ficam azuis e amarelos de ódio e começa a ganir e babar.
– Bom trabalho, Castilho, bom trabalho.
– Precisamos agora começar a aparar as arestas.
– Como assim?
– Dou um exemplo. Aquele outro Da Silva. O da FAO.
– José Graziano?
– Sim! Ele começou tudo. Aquela porra de ideia de Fome Zero, Bolsa Família, segurança alimentar, sustentabilidade, todas merdas assistenciais que deram popularidade ao Molusco.
– Bem lembrado, mas lá não temos ingerência.
– Zé, precisamos agir. A área é sua. Vamos estender o golpe a Roma e tirar o baixinho de lá. Apele ao Vaticano.
– O Vaticano já era pra nós. Vou falar com o Berlusconi. Quem aceitou um Pato como genro, imagina a alegria com os amarelos da FIESP. Liga para o Skaf.
– A esta hora deve estar no pôquer com o Dr. Paulo. Quando acaba o mandato do Graziano como diretor-geral da FAO?
– Está lá desde junho de 2011, mas no ano passado foi reeleito para um segundo mandato. Fica até 2019. Dos 182 países presentes, 177 votaram pela sua continuidade.
– Por isso não. Se contrariamos o voto de 54 milhões por que não conseguir o mesmo com 177?
– Um pouco diferente. Será que a Globo topa? O William e a Renata ajudam?
– Ih, vocês viram? O cara se separou.
– Da Renata?
– Não, da Fátima.
– Chega! Não entendo vocês com tantas tarefas pela frente para salvarem o Brasil dando atenção a esse tipo de fofoca. Depois, trocam de presidente e continuam no bem-bom do Congresso e dos Tribunais.
– Não se preocupem, a Globo vai conosco. O cara vive falando em miséria, pobreza, distribuição de renda, segurança alimentar. No PROJAC, o acham comunista. Ouve só o que ele declarou recentemente: “A cada cinco segundos, morre uma criança pobre por doenças decorrentes de carências alimentares”.
– Comunista!
– Com as nossas crianças a esquerda não se preocupa, né? Meu neto, o Agripininho, quase morreu de chorar até ganhar um drone.
Um serviçal entra e fala aos ouvidos do dono da casa.
– Manda entrar. Senhores, ele veio. Pior, acompanhado.
O serviçal introduz o casal.
– Boa noite. Por favor, falem a ela o que falaram a mim e à imprensa.
Minutos de silêncio. Alguém logo morreria.
– Dona Cláudia, parabéns. Como sempre muito elegante.
– Sim, seu turco de merda, visto-me e vesti-lo-ei muito bem. Compro tudo em Miami, como você e seus 40 ladrões que fazem o mesmo, espalharam para queimar meu marido.
– Desculpe-me. Não admito que fale assim com um presidente.
– Presidente? Entendi bem? Presidente de quem e do quê, seu cara de quibe triangular? Olha, você pode enganar as camponesas amigas da Dilma e da Marisa, mas não a mim, que sou jornalista.
– Tudo bem, chega querida. Já desabafou.
– Desabafei porra nenhuma! Estão vendo essa faca sobre a mesa. Corta pudim, mas também cupim. E aqui tem muito bunda-mole e caradura. Tô prontinha!
– Deixa amor. Qualquer coisa ainda pode voltar contra nós. Tenha um pouco mais de paciência. Sabe que a minha obra ainda não está completa. Vou até ajudar esses senhores.
– Ilumine-nos mestre Eduardo.
– Mais uma vez, venho para ensiná-los. Tenho a Bíblia Sagrada em uma das mãos e um rato podre na outra. Assim me equilibro. Que Berlusconi, que nada, aquele fascista decrépito. Vocês têm a solução em São Paulo. No nariz de vocês.
– Castilho, reconheço sua genialidade, sei que nos trouxe até este palácio, mas poderia ser mais claro?
– Fora, primeiramente você, como todos pedem, quem mais os incomoda?
– José Graziano da Silva.
– Em São Paulo, qual o tucano que serve de lacaio às pretensões ruralistas?
Pausa de segundos, fala Irineu Quadrilha:
– Xico Graziano!
– Pronto. Matou. Os dois são agrônomos, tratados por Graziano, escrevem sobre agricultura e, entre os gringos, Zé, Chico, Silva, vindos do Brasil, são todos iguais. Basta, então, sumirem com o Zé, fazer o Xico careca e barbudo, e manda-lo para Roma continuar trabalhando normalmente. Voz imita-se fácil.
– Tem um problema mestre, a altura. O Xico é mais alto do que o Zé.
– E daí? Ele vive agachado quando o interesse é grande.
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